A comunicação é um processo complexo. A propósito do 59º Dia da Comunicações Sociais limito-me ao que ando a ouvir, a uma reflexão aberta sem separar o ouvido, o dito e o pensado. Este ouvir, falar e refletir aconteceu em dias de encontro de cerca de trinta pessoas à volta de cuidados de saúde. Vamos aos aspetos generalistas do acontecido. Será que andamos todos em correrias, mais depressa que o girar do mundo, a combater a solidão inundados de informação? Como evitar ambiguidades a pretexto de sermos modernos? É essencial refletir quem somos e onde queremos chegar. Não bastará funcionar para preservar instituições. A questão é comprometer-se com quem sou e para que sou, distinguir a informação da missão a cumprir. Não basta ser um logotipo de marca. Uma imagem valerá realmente mil palavras, como terá dito Mc Luhan? Não será, antes, que poucas palavras com sentido podem valer mil imagens? As imagens aderem ao material, ao corpo, sensações e paixões; as palavras puxam para o espiritual, a espiritualidade o ser integral, holístico. Sentir-se bem, cheirar bem, gostar do prazer de olhar, acariciar, não dispensa o que há de espiritual em cada um, do entender e viver em elevação traduzida em pensar contemplativo e ação boa. Um gesto e um ritual podem valer um livro, mas só a palavra-verdade, dita, pensada e vivida, os pode validar.
Até
que ponto o futuro está no material? Até mesmo a saúde mental aponta para algo
além e acima do eu orgânico de sensações fora do tempo e do espaço. A alegria
liga-se a algo incorporal; de sentido não fechado no prazer de ver, cheirar,
tocar, comer e digerir. A alegria coexiste com a dor. Somos unidade corpo e
espírito, e coisas boas podem melhorar a vida, mas se excessivas podem
estragá-la e ser pedra de tropeço no caminho. A espiritualidade contraria os
excessos de consumos de matérias a que o mundanismo estará ligado. É certo que
os males que afligem a humanidade são uma mistura de consumismos de matéria e
de experiências em que entra o corpóreo e também algo desencarnado. Espiritual?
De que matéria ou órgãos vem o ódio, a vingança, a ganância, o orgulho nas
Babéis de ontem e de hoje? Não sabemos bem. Nem os cientistas da quântica,
neste seu centenário, nos sossegariam com os seus discursos. Nos humanos, esses
males têm certamente componentes que espessam a sua capacidade destrutiva, mas
terão alguns ingredientes (quânticos?) a ladear o espiritual. E presentes só em
ser espirituais, não nos puros animais. De todo a maneira, os males mais
destrutivos dos humanos até os académicos se esquivam a abordar e menos ainda a
tentar controlar. Nem com meios políticos ou religiosos. Tal é o seu potencial
destrutivo e a defesa sagrada da liberdade. Ouvimos ou lemos aquela investida:
“posso fazer-lhe uma pergunta: por que odeia tanto os migrantes? A mesma
poderia ser feita: porque odeia tanto as crianças, nascidas e não nascidas;
porque odeia tanto os pobres e miseráveis? Mas também se poderia refletir:
porque adora tanto os riquíssimos, os ídolos humanos, os famosíssimos, os que
se agarram a biliões de massa durante a vida?
Voltando
às imagens e às palavras, e ao seu valor, não parece que as primeiras possam
substituir ou sobreporem-se às palavras de sentido denso. Em dias de tanta
confusão entre informação, formação, desinformação e comunicação e suas
ambiguidades, em que a mistura do bem e do mal que se faz com a Inteligência
Artificial (IA), as palavras confusas, ambíguas e equívocas exigem clarificação
e esclarecimentos. Por alguma razão o exército de informáticos está em aumento
para bem e para mal. Esperemos que não trabalhem apenas com imagens encriptadas
e nelas escondam os germes das guerras, do ódio, do engano, e usem palavras de
desinformação, (eufemismo para mentira). Uma questão que paira e se ouve é que
talvez as guerras funcionaram sempre à base de mentira e desinformação. As
guerras e os governos totalitários, de direita e de esquerda, serviram-se
sempre, precisamente, de sistemas secretos de imagens e termos em que se
misturam a mentira e o engano. Atualmente apoiam-se nos chamados serviços de
“informação” e servem-se muito da informática de desinformação.
Ficaram
e ficam as questões cruciais: quem somos, para que vivemos? Que levamos para o
futuro intra e extra o tempo e o espaço? A memória do passado pode ajudar a
caminhar para o futuro, se não se esquece o essencial do passado e não se
caminha demasiado depressa, desenraizados do bom do passado e desinformados do
caminho e do futuro a alcançar. Que levamos e quem nos acompanha no caminho?
Claro, guias com experiência e com raízes do passado, próximo e distante. Só um
Guia de confiança disse: “Eu sou a videira e vós os ramos, sem Mim nada podeis
fazer”. E “Eu sou o caminho a verdade e a vida”; e o outro Guia, de papel, a
Bíblia, de palavras escritas, as mais lidas, ouvidas e pensadas no mundo
regista que o GUIA disse e falou; e disse que era a Palavra que sopra a vida e
alimenta a todos os que caminham para o futuro já ali e o Além.
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