
Audiência no Vaticano
O Papa recebeu nesta sexta-feira, 16 de maio, em audiência na Sala Clementina (Vaticano), os membros do Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé. No seu discurso, Leão XIV indicou-lhes as “três palavras-chave” que devem servir de pilar ao trabalho de diplomacia e ação missionária que desempenham: “Paz, Justiça e Verdade”.
Começou pela Paz, à qual se tem referido em quase todas as suas intervenções nesta primeira semana de pontificado. “Demasiadas vezes pensamos nela como uma palavra ‘negativa’, ou seja, como uma mera ausência de guerra e de conflito, visto que o confronto faz parte da natureza humana e acompanha-nos sempre (…). A paz parece então uma simples trégua, uma pausa de repouso entre uma disputa e outra, porque, por mais que nos esforcemos, as tensões estão sempre presentes”, explicou. Mas, “na perpetiva cristã – como na de outras experiências religiosas – a paz é, principalmente, um dom: o primeiro dom de Cristo: ‘Dou-vos a minha paz’. A paz constrói-se no coração e a partir do coração, erradicando o orgulho e as pretensões, e medindo a linguagem, pois também com as palavras se pode ferir e matar, não só com as armas”, continuou o Papa.
“Nesta ótica, considero fundamental a contribuição que as religiões e o diálogo inter-religioso podem dar para promover contextos de paz”, e a “abertura sincera ao diálogo, animada pelo desejo de encontro e não de confronto”, disse ainda Leão XIV, ressaltando “a vontade de deixar de produzir instrumentos de destruição e de morte, porque, como recordou o Papa Francisco na sua última Mensagem Urbi et Orbi: ‘Não é possível haver paz sem um verdadeiro desarmamento! A necessidade que cada povo sente de garantir a sua própria defesa não pode transformar-se numa corrida generalizada ao armamento'”.
Passou depois para a Justiça, cuja prática diz ser essencial na busca da Paz. E lembrando que escolheu o seu nome principalmente pensando em Leão XIII, o Papa da primeira grande encíclica social, a Rerum novarum, Leão XIV defendeu que “na mudança de época que estamos a viver, a Santa Sé não pode deixar de fazer ouvir a sua voz perante os numerosos desequilíbrios e injustiças que conduzem, entre outras coisas, a condições indignas de trabalho e a sociedades cada vez mais fragmentadas e conflituosas. É necessário também esforçar-se para remediar as desigualdades globais, que veem a opulência e a indigência traçar sulcos profundos entre continentes, países e mesmo no interior de cada sociedade”.
Neste ponto, Leão XIV lembrou também a sua própria história de vida, como “descendente de imigrantes, que por sua vez emigraram”, para assinalar que “cada um de nós, ao longo da vida, pode encontrar-se saudável ou doente, empregado ou desempregado, na sua terra natal ou numa terra estrangeira: a nossa dignidade, no entanto, permanece sempre a mesma, a de uma criatura querida e amada por Deus”.
E, por fim, falou da terceira palavra: Verdade. Na perspetiva do Papa, “não é possível construir relações verdadeiramente pacíficas, mesmo no seio da comunidade internacional, sem a verdade. Quando as palavras assumem conotações ambíguas e ambivalentes e o mundo virtual, com a sua percepção alterada da realidade, toma a frente sem medida, é difícil construir relações autênticas, uma vez que se perdem as premissas objetivas e reais da comunicação”, alertou.
Agradecendo aos membros do Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé por todo o trabalho que fazem para construir pontes entre os seus países e a Santa Sé, Leão XIV concluiu com um apelo: “É um tempo de conversão e de renovação e, sobretudo, uma oportunidade para deixar para trás os conflitos e iniciar um novo caminho, animado pela esperança de poder construir, trabalhando juntos, cada um segundo as suas sensibilidades e responsabilidades, um mundo em que todos possam realizar a sua humanidade na verdade, na justiça e na paz. Espero que isto possa acontecer em todos os contextos, começando pelos mais provados, como a Ucrânia e a Terra Santa”.
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