
Encontro com profissionais dos média
O Papa Leão pediu na manhã desta segunda-feira, 12 de Maio, a libertação dos jornalistas presos, enalteceu os que trabalham para dar informação mesmo no meio de guerras e conflitos e defendeu os bens “preciosos” da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa. Ao mesmo tempo, apelou aos jornalistas que recusem o paradigma da guerra na luta das palavras e das imagens e que façam um jornalismo dentro do “tempo e da história”.
No auditório Paulo VI, no Vaticano, o novo Papa encontrou-se com alguns milhares de jornalistas e outros profissionais de comunicação, que estiveram nas últimas semanas, em Roma, a acompanhar a transição no Vaticano: desde a doença e morte de Francisco, passando pelas celebrações da Páscoa, até ao conclave da semana passada, que na quinta-feira, 8, elegeu o cardeal norte-americano Robert Prevost como o novo líder católico, com o nome de Leão.
O auditório foi-se enchendo desde cedo. A última vez que aqui se tinham concentrado alguns milhares de jornalistas foi no final de Janeiro, no jubileu da comunicação, ainda com Francisco, já visivelmente fragilizado pela doença. Nessa ocasião, aliás, o Papa argentino disse apenas três ou quatro curtas frases, pois já não teve forças para ler o seu discurso, no qual agradecia “a todos os profissionais da comunicação que colocam as suas vidas em risco”, lembrando “aqueles que sacrificaram as suas vidas neste último ano, um dos mais mortais para os jornalistas” e pedindo a libertação de “todos os jornalistas injustamente presos sejam libertados”.
Agora, o seu sucessor alinhou pelo mesmo tom. Quando entrou no auditório, o Papa Leão foi aplaudido e ainda brincou com a situação: “Dizem que os aplausos do início não interessam muito… Se estiverem acordados no fim e ainda quiserem aplaudir… Muito obrigado!”
Leão XIV reafirmou depois “a solidariedade da Igreja para com os jornalistas presos por tentarem relatar a verdade”. Pediu a seguir a sua “libertação”, reconhecendo neles o papel de testemunhas em situações difíceis como as guerras, muitas vezes à custa das próprias vidas – sendo fortemente aplaudido. Por isso enalteceu “a coragem de quem defende a dignidade, a justiça e o direito dos povos a serem informados, porque só os povos informados podem fazer escolhas livres”. Pelo contrário, “o sofrimento destes jornalistas presos interpela a consciência das nações e da comunidade internacional, chamando-nos a todos a salvaguardar o bem precioso da liberdade de expressão e de imprensa”.
Não ceder à mediocridade

O Papa Leão XIV pediu aos jornalistas que “nunca” cedam à mediocridade. Foto © Miguel Bretiano, cedida pelo autor.
Agradecendo o trabalho das últimas semanas, o Papa Leaão insistiu que os tempos que vivemos são exigentes, pedindo aos jornalistas que “nunca” cedam “à mediocridade” e que façam um jornalismo que não esteja “fora do tempo e da história”. Um dos desafios mais importantes, acrescentou, “é promover uma comunicação capaz de nos fazer sair da ‘torre de Babel’ em que, por vezes, nos encontramos, sair da confusão de linguagens sem amor, muitas vezes ideológicas ou sectárias”.
O Papa disse que é necessária “uma comunicação diferente, que não procure consensos a todo o custo, que não se veste de palavras agressivas, que não adopta o modelo da competição, que não separa nunca a busca da verdade do amor com que devemos procurá-la humildemente.”
A paz, acrescentou Leão XIV, “começa em cada um de nós: na forma como olhamos os outros, na forma como os escutamos, na forma como falamos deles”. Por isso, a forma como se comunica tem uma “importância fundamental: devemos dizer ‘não’ à guerra das palavras e das imagens, devemos rejeitar o paradigma da guerra”. E elogiou “a coragem daqueles que defendem a dignidade, a justiça e os direitos dos que as pessoas sejam informadas, porque só as pessoas informadas podem fazer escolhas livres”.
Nos 12 minutos em que discursou, muitas vezes interrompido com aplausos, Leão XIV teve ainda tempo de referir que o trabalho destes profissionais “não é apenas a transmissão de informações, mas a criação de uma cultura, de ambientes humanos e digitais que se tornam espaços de diálogo e de confronto de ideias”. Este é um trabalho ainda mais necessário em tempo de transformação digital e quando o “imenso potencial” da inteligência artificial “exige responsabilidade e discernimento para orientar as ferramentas para o bem de todos, a fim de que possam produzir benefícios para a humanidade”.
No final, o Papa Leão recordou o convite de Francisco na sua última mensagem para o próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais: “Desarmemos a comunicação de todos os preconceitos, rancores, fanatismos e ódios; limpemo-la da agressividade. Não precisamos de uma comunicação beligerante e musculada, mas sim de uma comunicação capaz de escutar, de recolher a voz dos fracos que não têm voz. Desarmemos as palavras e ajudaremos a desarmar a Terra. Uma comunicação desarmada e desarmante permite-nos partilhar uma visão diferente do mundo e agir de forma coerente com a nossa dignidade humana.”
E dirigindo-se directamente aos jornalistas, concluiu: “Vós estais na linha da frente, narrando conflitos e esperanças de paz, situações de injustiça, de pobreza, e o trabalho silencioso de tantos por um mundo melhor. É por isso que vos peço que escolhais, de forma consciente e corajosa, o caminho da comunicação da paz.”
Sem comentários:
Enviar um comentário