
Papa evocado no 25 de Abril
“Não sejais administradores de medos, mas empreendedores de sonhos”. Foi com estas palavras do Papa Francisco, pronunciadas na Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, que o presidente da Assembleia da República incentivou os cidadãos portugueses a enfrentar os desafios da construção do futuro.
José Pedro Aguiar-Branco intervinha na cerimónia solene comemorativa do 51º aniversário do 25 de Abril, que decorreu na manhã desta sexta-feira, feriado nacional que celebra a instauração da democracia e da liberdade. Na sessão solene, só dois partidos – Chega e Iniciativa Liberal – não evocaram nem referiram o Papa Francisco.
Antes, o presidente da AR tinha iniciado o ato comemorativo com a leitura do texto de um voto de pesar pelo falecimento do Papa Francisco, em que traçou o percurso de Jorge Mario Bergoglio, sublinhando as atenções que teve, como Papa, para com Portugal (referiu, nomeadamente, as duas visitas, em 2017 e em 2023, e a escolha de quatro cardeais). O voto, submetido a votação, foi aprovado por todos os deputados presentes no hemiciclo.
Francisco morreu dia 21, aos 88 anos, “após meses de sofrida doença respiratória e cardíaca”, diz o texto do voto de pesar. “Os seus 12 anos de pontificado representaram para a Igreja e para o mundo um decisivo apelo à fraternidade, à misericórdia e à paz.”
O documento, que está disponível na página do Parlamento, refere ainda as encíclicas sociais e ecológicas que escreveu e que “colocaram no centro do debate público mundial conceitos como a ‘amizade social’, a ‘fraternidade universal’ e a ‘ecologia integral’.” O Papa convidou “a uma reflexão crítica sobre a tecnologia, a relação com o mundo criado, a anomia social e o sistema económico” e pelos vários projetos que dinamizou (Encontro Mundial dos Movimentos Populares, Scholas Ocurrentes, Economia de Francisco (inspirada em São Francisco de Assis).
“Apoiou, com palavras e gestos, os mais pobres de entre os pobres. Visitou prisões e hospitais, campos de refugiados e bairros degradados. Em 2015, proclamou o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, não a partir de Roma, mas de Bangui, na República Centro-Africana. Quatro anos depois, beijou os pés dos líderes de três grupos armados do Sudão do Sul, num gesto profético de defesa da paz”, recorda ainda o documento.
Papa tem “tudo a ver” com 25 de Abril, diz Marcelo
O texto lembra as 47 visitas apostólicas a 67 países, entre as quais a Ur, “terra natal do patriarca Abraão, de onde lançou um poderoso apelo ao diálogo com judeus e muçulmanos”. O Papa repetia com frequência que “não vivemos uma época de mudanças, mas uma mudança de época” e alertava para a consumação de “uma guerra mundial em pedaços”. O Papa “condenou a pena de morte em todas as circunstâncias” e sustentava também que a política, “quando vivida como serviço, é a mais alta forma de caridade”.
“O legado do Papa Francisco – como pastor e líder religioso, mas também como estadista e responsável político – continuará revestido de significado e atualidade, particularmente no contexto que o mundo atravessa”, afirma ainda o texto, que recorda “o modo como atravessou, com solitária decisão, uma Praça de São Pedro vazia, para declarar, no ponto mais dramático da pandemia de covid-19, que ‘ninguém se salva sozinho’.”
No discurso com que encerrou a sessão solene, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, procurou pôr em evidência o paralelismo e a convergência entre os valores de Abril e os valores que eram valorizados e testemunhados por Francisco.
Interrogando o que tem a ver a Revolução dos Cravos com a vida e obra de Francisco, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: “Tudo, tudo: dignidade humana, paz, justiça, liberdade, igualdade, solidariedade, fraternidade, abertura, inclusão, serviço dos outros, preferência pelos ignorados, omitidos e silenciados”.
Aludindo ainda ao muito usado slogan “25 de Abril sempre”, o chefe de Estado concretizou que continuar a celebrar Abril se deve fazer “com a incessante busca dos valores, o pleno e descomplexado abraço a todas as pessoas e a atenção a todas as coisas e a radical humildade que viveu e nos ensinou a viver Francisco”.
Foi sobre a humildade de Francisco que aludiu ao seu funeral que decorre este sábado, e no qual o Presidente estará presente, acompanhado do presidente da Assembleia, do primeiro-ministro e do ministro dos Negócios Estrangeiros. Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que a tampa da sepultura do Papa, num recanto da basílica de Santa Maria Maior, em Roma, não refere nem que se trata de um papa, nem cardeal nem bispo de Roma. “Só Franciscus”, rematou.
Nas intervenções dos representantes das diferentes forças políticas, quase todos se referiram ao Papa e ao voto de pesar acabado de aprovar: as exceções foram o Chega e a Iniciativa Liberal. Todos os restantes partidos referiram ou citaram mesmo afirmações do Papa Francisco: Inês Sousa Real (PAN), Paulo Núncio (CDS-PP), Isabel Mendes Lopes (Livre), António Filipe (PCP), Mariana Mortágua (BE), Teresa Morais (PSD) e Pedro Nuno Santos (PS) elogiaram a personalidade do Papa que este sábado será sepultado, sublinhando aspetos e temas das suas intervenções, vários deles referidos no voto de pesar aprovado no início da sessão.
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