
Relatório denuncia
7MARGENS | 14/04/2025
Foram mais de 20.300 os cristãos mortos desde 2015 no sudeste da Nigéria, revela o mais recente relatório da ONG de inspiração católica Intersociety. De acordo com o estudo, quase metade destes assassinatos foram cometidos por elementos de diferentes organizações jihadistas, e os restantes por militares nigerianos destacados para a região.
O relatório especifica que aproximadamente 9.800 mortes foram perpetradas por grupos jihadistas que se infiltraram no país durante a administração de Muhammadu Buhari (entre 2015 e 2023), nomeadamente os pastores Fulani e os militantes do Delta do Níger.
Além disso, 10.500 civis terão sido mortalmente alvejados por oficiais e pessoal das Forças Armadas Nigerianas, com base na sua etnia e religião, indica o documento.
O relatório da Intersociety afirma ainda que mais de 40 cristãos no estado de Anambra estão presos há mais de três meses num centro de detenção ilegal, o que excede o período de 60 dias previsto na lei, além de não terem sido apresentadas razões válidas para a sua detenção.
A ONG aponta o dedo aos governantes dos quatro estados orientais do país – Enugu, Anambra, Ebonyi e Imo – pelo seu “silêncio sepulcral” relativamente aos ataques a cristãos que se intensificaram desde 2015 e tiveram um aumento significativo a partir de 2020.
Os ataques têm visado também os praticantes de Medicinas Tradicionais Africanas, consideradas precursoras da medicina moderna, e ainda elementos ligados às Religiões Tradicionais Africanas, consideradas as raízes ancestrais do Cristianismo na Terra Igbo.
A Intersociety promete lançar uma campanha internacional para impedir que os quatro governadores destes Estados — Peter Mbah (Enugu), Charles Soludo (Anambra), Francis Nwaifuru (Ebonyi) e Hope Uzodinma (Imo) — viajem para países democráticos que defendem a liberdade religiosa e os direitos dos cidadãos, nomeadamente o Reino Unido, os Estados Unidos, países da União Europeia e o Canadá.
A Intersociety pede ainda ao Governo dos EUA que redesigne a Nigéria como um País de Preocupação Particular, “por abuso flagrante e violação da ‘Liberdade Religiosa Internacional'”, e que designe os pastores jihadistas Fulani como “uma Entidade de Preocupação Particular”.
Bispo e padre ameaçados após denunciarem perseguição religiosa

O bispo de Makurdi, Wilfred Anagbe, manifestou-se contra o que considera ser “um genocídio contra os cristãos na Nigéria” e agora correm rumores de que será preso. Foto © ACN
Na última sexta-feira, 11 de abril, o Governo nigeriano garantiu aos Estados Unidos estar comprometido em defender a liberdade de religião e expressão no país, depois de terem surgido relatos de que dois líderes católicos – o bispo Wilfred Anagbe e o padre Remigius Ihyula – estão a ser ameaçados na sequência dos discursos que fizeram no Congresso dos EUA e no Parlamento do Reino Unido sobre a perseguição aos cristãos na Diocese de Makurdi e na Nigéria em geral.
Ao falar na Subcomissão sobre África da Câmara dos Representantes dos EUA, o bispo Anagbe manifestou-se contra o que considera ser “um genocídio contra os cristãos na Nigéria” e disse que apelou aos EUA para redesignarem a Nigéria como País de Preocupação Particular devido ao aumento dos ataques islâmicos contra cristãos no país.
O responsável pela diocese de Makurdi referiu-se ao número crescente de raptos de padres católicos por outros motivos que não o resgate, bem como ao encerramento forçado de todas as escolas em algumas partes da região, incluindo instituições católicas, durante todo o período do Ramadão.
Numa declaração de 10 de Abril, citada pela ACI Africa, os membros da Associação de Padres Diocesanos Católicos da Nigéria (NCDPA) alertaram para os “crescentes rumores” de que o governo nigeriano planeia “prender ou intimidar o bispo Anagbe”, atualmente no estrangeiro, quando este regressar ao país da África Ocidental.
A NCPDA alerta também para tentativas de assediar o padre Ihyula, um presbítero católico nigeriano conhecido pelo seu trabalho humanitário com pessoas deslocadas, e condena “veementemente qualquer tentativa de assediar, silenciar ou prejudicar o bispo Anagbe ou qualquer outro líder religioso que ouse dizer a verdade aos poderosos”.
“Perseguir o bispo seria atacar a própria verdade e negar os contínuos assassinatos e sofrimentos de milhares de pessoas deslocadas cujas vidas foram destruídas pela violência”, afirmam os membros do NCPDA, apelando à Conferência Episcopal Católica da Nigéria (CBCN), a todos os líderes religiosos, organizações da sociedade civil e à comunidade internacional para que “sejam vigilantes e proativos para garantir que nenhum dano acontece ao bispo Anagbe e ao padre Ihyula”.
“Silenciar as vozes da consciência apenas aprofunda as feridas da injustiça e encoraja os perpetradores da violência”, concluem.
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