A Economia de Francisco começou em Assis
Um saco de algodão é entregue a todos os participantes, juntamente com a identificação impressa em papel reciclado e presa a uma fita de colocar ao pescoço feita em bambu biodegradável. Dentro do saco, uma garrafa térmica e um conjunto de talheres reutilizáveis completam este “kit sustentável”. Foto © The Economy of Francesco.
São mais de 1000 participantes e muitos deles tiveram de apanhar pelo menos um avião para chegar a Assis, no centro de Itália. Aqui vão conviver, trabalhar, comer, passear… durante os três dias do encontro A Economia de Francisco, que começou esta quinta-feira e termina no sábado, 24, dia em que também o Papa estará presente. Compensar o impacto ambiental de um evento internacional desta envergadura é difícil, mas não impossível, e o comité organizador e a administração municipal da região italiana da Umbria, estão empenhados em tornar esse objetivo realidade.
À chegada, um saco de algodão é entregue a todos os participantes, juntamente com a identificação impressa em papel reciclado e “plantável” (por conter sementes), presa a uma fita de colocar ao pescoço feita em bambu biodegradável. Dentro do saco, uma garrafa térmica e um conjunto de talheres reutilizáveis completam este “kit sustentável”.
A garrafa pode ser enchida nos diversos pontos de água disponibilizados ao longo do Teatro Lyrick, o pavilhão de espetáculos da cidade onde decorre a maioria das atividades do encontro. Quanto aos talheres, serão usados (e reutilizados) às refeições, as quais, por sua vez, são confecionadas a partir de ingredientes “quilómetro zero”, ou seja, produzidos localmente, e com recurso a matérias primas e produtos de bens confiscados ao crime organizado.
Mas há mais: o mobiliário presente nos vários espaços do encontro é ele próprio sustentável, construído com materiais biodegradáveis e compostáveis, ou reaproveitado de atividades anteriores. Foram eliminados todos os materiais plásticos de utilização única, e há “ecopontos” por toda a parte.
Um dos espaços do encontro, criado com recurso a materiais biodegradáveis, compostáveis e reutilzados. Foto © The Economy of Francesco.
Será isto suficiente? Não. Por isso, de modo a neutralizar o impacto deste encontro e ser coerente com a Economia de Francisco que aqui é defendida, a organização foi (e irá) ainda mais longe. “Decidimos melhorar a vitalidade e segurança da antiga floresta de azinheiras do Eremo delle Carceri e levar a cabo ações de prevenção dos incêndios na área estatal em torno deste Património da Humanidade que é o Monte Subasio”, revela Antonio Brunori, secretário-geral do Programa de Certificação Florestal em Itália (PEFC), referindo-se à paisagem natural que envolve Assis.
Um grupo de jovens deslocou-se assim àquela zona florestal, já neste primeiro dia de encontro, para realizar uma atividade de limpeza. Esta ação “permitirá aumentar a absorção de dióxido de carbono em quantidades que neutralizem, pelo menos em parte, o impacto do evento, calculado em toneladas de CO2”, salienta Brunori.
O local está carregado de simbolismo. É que terá sido precisamente nesta floresta que São Francisco de Assis, em quem o Papa se inspirou para lançar este desafio, cobriu com o seu manto um pobre leproso e descobriu a alegria da fraternidade. Ali terá nascido afinal, há mais de 800 anos, a economia à qual o Papa (também ele Francisco, precisamente em homenagem ao santo de Assis) propõe agora que se regresse.
Os jovens participaram numa ação de limpeza florestal, no local onde São Francisco terá coberto com o seu manto um pobre leproso, dando o primeiro passo para esta economia proposta pelo Papa. Foto © The Economy of Francesco.
“No final do encontro, será ainda produzido um Relatório de Impacto que dará um panorama do que foi concretizado e que poderá ser útil a outros organizadores de eventos semelhantes”, explica Lourdes Hercules, um dos elementos da equipa organizadora. “Neste relatório, daremos conta tanto das ações voltadas para a redução de emissões quanto das ações subsequentes, voltadas para mitigar os efeitos das emissões produzidas”, assegura.
Para esta jovem jornalista, pensar “no impacto social e ambiental que os eventos internacionais têm regularmente” tinha de ser uma prioridade. “Queremos inverter esse curso. A profecia económica também deve ser profecia ecológica porque as duas dimensões são inseparáveis”, conclui.
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