Novo livro em Novembro, sobre São Paulo
O cardeal português José Tolentino Mendonça foi nomeado pelo Papa Francisco, nesta segunda-feira, 26, para o cargo de prefeito do novo Dicastério para a Cultura e a Educação (DCE), tal como o 7MARGENS antecipara em primeira mão na sexta, 23.
De acordo com a notícia do portal Vatican News, o Papa nomeou ainda o padre Giovanni Cesare Pagazzi como secretário do DCE e o bispo Angelo Vincenzo Zani como arquivista e bibliotecário da Santa Sé, substituindo assim o cardeal Tolentino, que desempenhava este cargo desde Setembro de 2018.
Numa nota publicada na página oficial da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em visita oficial aos Estados Unidos (costa Oeste), manifestou o seu “mais profundo regozijo pela nomeação”, expressando ainda “o reconhecimento do Homem com um exemplar percurso de Fé e vulto maior da cultura contemporânea, promovendo sempre o diálogo com a densidade espiritual, intelectual e humana por todos testemunhado.”
O PR afirma-se ainda “amigo e admirador de longos anos”, e destaca, no novo responsável do DCE do Vaticano, o seu permanente “facilitador de encontros”, como o próprio cardeal Tolentino se definiu. “O Chefe do Estado em seu próprio nome e em nome de todos os portugueses deseja as maiores venturas para o exercício de tão relevantes funções”, conclui a nota.
Também o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, afirmou que a nomeação do cardeal português é “o reconhecimento de uma grande personalidade da cultura portuguesa”.
De acordo com a agência Lusa, citada pela Rádio Renascença, o ministro acrescentou: “É mesmo uma grande satisfação do ponto de vista pessoal e um reconhecimento da sua singularidade, não apenas em Portugal, mas no contexto da Igreja Católica. É uma decisão que nos deixa a todos, portugueses, muito contentes.”
A actual editora de Tolentino Mendonça, a Quetzal, divulgou também um comunicado no qual “assinala o seu regozijo pela nomeação de José Tolentino Mendonça para estas importantes funções no Vaticano” e adianta que, em Novembro, publicará o novo livro de José Tolentino Mendonça, Metamorfose Necessária. Reler São Paulo, “um ensaio sobre o apóstolo e o seu contributo para os tempos presentes”.
Fruto de um trabalho de investigação de vários anos, o livro apresenta “de forma luminosa” a figura de São Paulo, cujos “textos são um clássico não só da religião, mas também da civilização ocidental”.
Tolentino Mendonça, 56 anos, assume deste modo um dos novos organismos do Vaticano, resultante da reforma da Cúria Romana promulgada pela constituição apostólica Praedicate Evangelium (PE).
O DCE é ainda resultado da fusão do ex-Conselho Pontifício para a Cultura e da ex-Congregação da Educação Católica.
Duas secções
Na constituição, estabelece-se que o novo Dicastério “trabalha para o desenvolvimento dos valores humanos nas pessoas dentro do horizonte da antropologia cristã, contribuindo para a plena realização do seguimento de Jesus Cristo”.
O Dicastério tem duas secções, correspondente aos dois sectores que herda: a de Cultura, que se dedica “à promoção da cultura, à animação pastoral e à valorização do património cultural”; e a de Educação, “que desenvolve os princípios fundamentais da educação com referência às escolas, institutos superiores de estudos e pesquisas católicos e eclesiásticos e é competente para os apelos hierárquicos em tais matérias”.
Como responsável máximo por estas áreas, o cardeal português terá sob a sua coordenação, no campo educativo, a rede escolar católica do mundo inteiro, com 1360 universidades católicas e 487 universidades e faculdades eclesiásticas com 11 milhões de alunos e outras 217 mil escolas com 62 milhões de crianças.
Na área da Cultura, o novo responsável coordenará o diálogo da Igreja universal com o mundo da cultura – não só a literatura ou as artes e o património, como também o desporto, a ciência e a Inteligência Artificial. Ao mesmo tempo, a constituição PE refere que, sob a sua alçada, estão também a Academia Pontifícia de Belas Artes e Letras dos Virtuosos do Panteão; a Academia Pontifícia Romana de Arqueologia; a Academia Pontifícia de Teologia; a Academia Pontifícia de São Tomás; a Academia Pontifícia Mariana Internacional; a Academia Pontifícia Cultorum Martyrum; e a Academia Pontifícia de Latinidade.
Nascido no Machico (Madeira) em 1965, padre desde 1990, bispo desde 2018 e nomeado cardeal em Outubro de 2019, Tolentino Mendonça é reconhecido sobretudo pelo seu trabalho de exegeta bíblico, em cuja especialidade se doutorou, e de poeta. A sua tese de doutoramento foi publicada com o título A Construção de Jesus (Paulinas), enquanto a sua poesia está reunida numa antologia com o título A Noite Abre Meus Olhos (Assírio e Alvim).
Ao longo da sua vida de padre, Tolentino Mendonça foi capelão, director da Faculdade de Teologia e vice-reitor da Universidade Católica, capelão da Capela do Rato, em Lisboa, reitor do Colégio Pontifício Português, em Roma, e director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.
Em 2018, o Papa convidou-o, por sugestão do cardeal Gianfranco Ravasi, a quem Tolentino vai suceder, para orientar o retiro quaresmal da Cúria Romana. Pouco depois nomeou-o arcebispo e, um ano mais tarde, cardeal.
Tolentino Mendonça foi ainda vencedor, em 2020, do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva, atribuído pelo Centro Nacional de Cultural, em parceria com a rede Europa Nostra, e que pretende promover a divulgação do património cultural. No mesmo ano, Marcelo Rebelo de Sousa nomeou-o como presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
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