Sim, existem vários tipos de paternidade: a própria dos pais, a própria de professores e formadores, a própria das pessoas responsáveis que vão deixando o “perfume” da verdade e do bem fazer por onde passam, e a própria dos sacerdotes.
Que
será que caracteriza a paternidade? Em primeiro lugar, sem dúvida, é o amor;
amor esse que leva os pais a cuidar dos filhos, a protegê-los do mal, a
ensinar-lhes a verdade, mas também a exigir-lhes no cumprimento dos deveres à
medida que os vão incumbindo de maiores responsabilidades.
Porém,
o exercício destas paternidades tem campos diferentes. Aos pais compete a
dádiva da vida, papel único e intransmissível, assim como a continuidade da
história, tradições e valores familiares, dentro da verdade e do bem. Dos
professores e formadores espera-se que ensinem com clareza e verdade as matérias
de sua especialidade, mas também que, além da ciência, a acompanhem de
sabedoria. Os médicos, por exemplo, devem demonstrar humanidade no cuidado dos
doentes, não basta a sua ciência; os empresários, além de procurarem ser bons
empreendedores, devem aprender a ser justos: pontuais no pagamento dos
ordenados e humanos ao atender a necessidade de descanso dos seus empregados.
As pessoas responsáveis, e todos o somos quando nos dispomos a isso, vivem a
sua paternidade ajudando os outros; para tal basta seguir o “manual” das
bem-aventuranças. Quanto aos sacerdotes... comecemos por alguns factos
concretos.
A
sua paternidade é, sobretudo espiritual e de bom exemplo. Fica-se chocado com
notícias de sacerdotes que não são fiéis à sua vocação. Espera-se deles que, à
imagem de Cristo, sejam santos. Nada menos. Foi essa a notícia que nos chegou
do México: morreram oitenta sacerdotes, dos quais mais de metade eram jovens,
vítimas de covid-19. Quer isto dizer que todos eles estavam tão bem formados e
cheios de caridade que foram capazes de sacrificar a sua comodidade para
consolar os seus paroquianos, levando-lhes os sacramentos.
A
outra notícia, mais pormenorizada, vem do “ABC”, um jornal espanhol. Fala-nos
de Joaquin Cabanyes, sacerdote espanhol do Opus Dei ordenado pelo Papa João Paulo II. Joaquin
licenciou-se em Ciências Químicas na Universidade Autónoma de Madrid, e
doutorou-se em Filosofia Eclesiástica pela Universidade de Santa Cruz, em Roma.
Começou por exercer o sacerdócio em Espanha, mas considerou o seu país como
privilegiado em comparação com outras zonas do mundo onde a sua presença
poderia ser mais benéfica. Assim, em 1987, foi para a Nigéria. O seu esforço
deu inúmeros frutos: abriu igrejas, residências de estudantes e centros de
formação em Uhere, Hillpoint, Uzomiri, Ezindi, Ugwuoma, Eunugu e Lantana,
embora no meio de inúmeras dificuldades e, por vezes, doente de malária. Em
Madrid, a sua simpatia tinha conseguido alguns apoios e dádivas. Uma sua amiga,
Lúcia, organizava torneios de bridge e enviava o dinheiro que conseguia para as
iniciativas do Padre Quino. Este repetia o milagre da “multiplicação dos pães”:
com importâncias que mal chegariam para levantar um quiosque em Espanha ele
construía igrejas e colégios. A amizade com seu o primo, o Pe. Alfonso
Cárdernas, levou-o a destinar muitas das ajudas que recebia para a Fundação
Cárdenas Rosales.
O
Padre Quino poderia ter usufruído de muitos bens materiais se tivesse sido
diretor, ou quadro, de uma multinacional química. Também poderia ter usado o
título de marquês de Loreto, mas cedeu-o ao seu irmão Luís.
Este
sacerdote morreu no dia 13 de julho de 2020, uns dias depois de saber que tinha
coronavírus. Foi o seu cunhado, duque de Maura, o autor desta notícia
necrológica do jornal “ABC”, de 19 de julho de 2020, da qual retirei estes
apontamentos. Este senhor comentou ainda: “Quino foi uma amostra exemplar de tantos
sacerdotes e religiosos que dedicam a sua vida a fazer o bem e a ajudar aqueles
que mais necessitam, sem a mínima ambição. São os que nunca aparecem nas
notícias; por isso creio que merece este obituário no ABC”. No final
acrescentou: “Para mim, foi muito bom cunhado, o mais parecido que vi àquilo
que supomos ser um santo”.
Não será esta a mais bela forma de paternidade?
Isabel Vasco Costa
Sem comentários:
Enviar um comentário