Há uns dias atrás houve uma situação que me comoveu profundamente. Ia visitar a Feira do Livro na companhia da minha neta e de sua mãe. A pedido da minha neta parámos num armazém. Precisava muito de uma mochila com um carrinho de rodas para o regresso às aulas. Anuímos e fomos ver as mochilas. Vi a um canto uma que me pareceu muito bonita. Simples, com uma frase “Open Your Mind”, adequada à aquisição de conhecimento relacionado com o novo período que iria enfrentar. Todas gostaram. Para ajudar ainda mais, o preço foi uma agradável surpresa, uma vez que se encontrava em promoção. Ficou tão feliz que não a largou mais. Com dificuldade fizemos uma breve visita à Feira do Livro que se encontrava bem movimentada, graças a Deus. Em breve voltaríamos com uma maior disponibilidade. Perguntei à minha neta se queria pernoitar em minha casa ao que respondeu de imediato: “Não, não vovó, tenho que ir arrumar a mochila para as aulas”! Tal era a sua ansiedade para rever os amigos, recomeçar os estudos, socializar…Fiquei deveras comovida, ao ser confrontada com os seus sentimentos de enorme saudade, causados pelo período de confinamento. Deus permita que tudo corra pelo melhor. No dia seguinte, domingo, iríamos visitar o Museu da Marioneta. Apareceu feliz a referir que já tinha tudo pronto para o início das aulas. Estava um dia de céu azul com uma temperatura amena. Que bom! Manifestei a minha vontade, de a seguir à visita ao Museu, irmos andar à beira-rio, ao Cais das Colunas e à Praça do Comércio, da qual tinha inúmeras saudades por ser uma das mais belas praças a nível mundial. E assim iniciámos o nosso percurso com a visita ao Museu da Marioneta, um espaço dedicado a homenagear o teatro e a ópera de marionetas, o qual abriu as suas portas no ano de 1987. Encontra-se instalado no Convento das Bernardas, mandado erigir pelo rei D. João IV em 1635. Deparámo-nos, entre outros, com uma coleção de máscaras asiáticas e africanas, vários contextos recriados alusivos ao teatro rural, ao contexto de feira, de teatro urbano e de teatro erudito, bem como todas as etapas imprescindíveis à construção de marionetas.
Após a visita iniciámos a nossa caminhada, com uma paragem para um café e um salgado, na zona do Time Out Market que se encontrava quase repleto. Constitui sempre um espaço agradável onde se mede um pouco a vida na cidade, em particular os turistas, que vêm degustar um prato elaborado por um dos “chefes” especialistas em gastronomia, ou simplesmente ver o espaço e tomar um café, uma bebida, um salgado, um gelado… Refeitos continuámos o nosso passeio à beira-rio na Ribeira das Naus. Fui explicando à minha neta um pouco da história da cidade. Mais uma vez fiquei impressionada com a magnificência do Terreiro do Paço. Dirigi-me para o Cais das Colunas. Quanta história tem para contar esta riquíssima zona da cidade. A certa altura ouvi gritos. O meu filho referiu que era um casal que discutia. Depois de termos tirado umas fotografias resolvemos atravessar a Praça do Comércio em direção à Rua Augusta. A discussão continuava com as crianças e meio mundo a observar, chegando a cenas de violência. Ao longe vi um carro da polícia. Referi ao meu filho que seria melhor alertarmos a polícia no sentido de apaziguar a situação. E dirigi-me para o carro que, entretanto, partiu. Não podia ficar indiferente a este sofrimento. Alguém referiu o ditado: “Entre marido e mulher, não metas a colher”! Foi mesmo o mote para intervir. Não podia permitir que as crianças continuassem a sofrer. De que servia o curso sobre mediação familiar tirado há tantos anos? Lentamente, aproximei-me do casal. Perguntei ao marido se precisava de alguma coisa, na sua língua de origem. Estava acabrunhado, com lágrimas nos olhos e apontou na direção da mulher. Passei pelas crianças assustadas, como o cabelo tão lourinho e os olhos repletos de lágrimas e fiz-lhes uma festa na cabeça. Aproximei-me da senhora que tinha batido o marido. Estava um pouco descontrolada. Quem sabe os motivos de cada um? Não me competia saber de todo, nem julgar. Só ajudar de momento a controlar a situação. Também tinha lágrimas nos olhos. Fiz-lhe uma festa no braço carinhosamente e perguntei na sua língua de origem, muito tranquilamente, se precisava de alguma coisa. Ficou admirada e disse-me que não. Recomendei que fosse beber um copo de água, para acalmar, para encontrar alguma paz e que olhasse pelas crianças. Foi ficando mais calma. Perguntei ao marido, quanto tempo ficavam em Lisboa. Partiriam no dia seguinte. Chamei a atenção para o dia lindo azul, a beleza da praça. O melhor mesmo era aproveitarem este último dia em Lisboa. Não sabia qual o motivo da discussão, mas poderiam procurar ajuda ao chegar ao seu País de origem, ou mesmo em Portugal se tal fosse necessário. A criança mais nova agarrou-se carinhosamente à mãe. O pai parecia aliviado. Não sei como, consegui juntar os 4, referindo que seria melhor irem tomar uma água no sentido de acalmar. O pai respondeu carinhosamente: “Vamos almoçar”! Senti que tinha chegado o momento de partir não sem antes perguntar à senhora se a podia ajudar nalguma coisa. Respondeu que não e agradeceu. Fui-me embora. Não sei se tinha feito o melhor, mas foi o possível, naquele momento. A intenção era boa. Acalmá-los e trazer de volta, alguma paz e harmonia a um casal desavindo, em particular pelas crianças. E deixei tudo nas mãos de Maria, Rainha da Família.
A minha neta entretanto tinha vindo ter comigo assustada e preocupada. Ficou feliz com o desfecho. Mais à frente fizemos uma pausa para beber uma água e comer um delicioso pastel de nata, acabadinho de sair do forno. Dirigimo-nos posteriormente ao elevador da Glória e ao Chiado, admirando a beleza da cidade e o regresso dos turistas à cidade de Lisboa. Era o último domingo do mês de Agosto. Dei graças a Deus por tudo o que nos tinha concedido. Com a entrada no mês de Setembro, apresentavam-se novos desafios e novas etapas para superar, no momento particularmente difícil que todos vivenciamos. Santa Maria, rainha da esperança, intercedei por todos nós.
Maria Helena Paes |
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