O novo ano letivo vai começar. Nunca como agora foi tão cheio de incertezas em relação ao futuro por diferentes motivos. Mas urge procurar dar algum caráter de normalidade à vida, colmatando, se possível, as lacunas que se vão sentindo a diferentes níveis, com muita esperança nos dias vindouros.
Mas reconheço que o momento que
vivenciamos é extremamente preocupante. Segundo a OMS, demorará dois anos a ser
ultrapassada a doença SARS.COV-2. Os efeitos nefastos que provocou perdurarão
nas nossas vidas e na história. Pela minha mente surgiu a imagem do Santo Padre,
só, na Praça de S. Pedro, no Vaticano. Ficará certamente registado como um
momento único que vivenciámos e nos ajudou a recriar a esperança nos dias
vindouros, graças ao seu exemplo enquanto Pai da Igreja, à sua enorme fé,
fortaleza e amor. Também me veio ao pensamento uma música de Charles Aznavour denominada “Que c´est Triste Venise”, que refere:
“Tão triste é Veneza, à noite na laguna, quando procuramos uma mão, aquela que
não se estende e quando ironizamos em frente ao luar, para tentar esquecer o
que não se diz. Os museus, as Igrejas abrem as suas portas em vão… Adeus a
todos os pombos que nos escoltaram… Adeus sonhos perdidos… Como é triste Veneza…”.
Esta música fez-me recordar a cidade fantasma, sem vida, com tudo fechado, sem
trânsito, devido ao confinamento. Como doeu profundamente encontrar tudo o que
é museu, jardins, igrejas e toda a parte cultural sem atividade. É como se nos
tirassem um pouco de vida. Bem, chega de tristeza. O mundo precisa da nossa
energia, da nossa fortaleza e da nossa força construtiva e do reencontro das
famílias, dos amigos, das pessoas em geral, da socialização e da alegria. O
passado está pisado, importa pois reorganizar e reconstruir para que as novas gerações
encontrem um mundo melhor e o modo como uma geração soube ultrapassar um
momento sanitário difícil a nível mundial com graves implicações nas suas
vidas. Cada um teve a sua experiência diferente. Lutámos diariamente para
ultrapassar o confinamento e a doença se foi caso disso, encontrando diferentes
soluções e escapes. Uma justa homenagem aos que partiram em sofrimento e às
suas famílias enlutadas. É triste, mesmo dramático, mas sempre ouvi dizer que
do mal se pode retirar o bem. Importa agora avaliar, corrigir os erros e
reconstruir face à experiência vivenciada, prevenindo futuras situações
semelhantes que possam vir a ocorrer.
Hoje tenho a família para o
almoço. A minha neta telefona-me. Quer saber do meu interesse em visitar o
Museu do Dinheiro, situado na antiga Igreja de S. Julião. Anuí imediatamente ao
convite. A antiga Igreja de S. Julião no século XVII situava-se na Rua de S.
Julião. Face ao terramoto de 1755 e da sua destruição seria reconstruída no
Largo de S. Julião. Concluída no ano 1802, catorze anos depois sofreria um incêndio
que destruiu o seu recheio, concluindo-se as obras de restauro no ano 1854. Nos
anos 30 do século XX foi adquirida pelo Banco de Portugal, altura em que foi desativada.
Em 2016 foi aí inaugurado o Museu do Dinheiro instalado, recebendo em 2017 o
Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura 2014, atribuído pela Câmara Municipal
de Lisboa, reconhecendo a qualidade e a importância da obra promovida pelo
Banco de Portugal, no âmbito da revitalização da zona histórica Baixa/Chiado e
a devolução do edifício da antiga Igreja à sociedade. Em 2010, escavações
arqueológicas realizadas durante a remodelação da sede do Banco de Portugal, revelaram
um pano da Muralha de D. Dinis monumento indispensável para compreender a
história de Lisboa, classificado como
Monumento Nacional. A Muralha de D. Dinis é a única muralha medieval de Lisboa
que pode ser apreciada e mais bem compreendida através de um Núcleo de
Interpretação, situado na cripta da antiga Igreja de S. Julião, convidando a
descobrir objetos, sons e imagens que caracterizavam os areais do Tejo nos
períodos romano, medieval e moderno. O Museu do Dinheiro apresenta este tema do
dinheiro, a sua história e a sua relação com as sociedades e com o indivíduo,
no Ocidente e no Oriente. Expõe em salas temáticas o acervo numismático,
notafílico e artístico do Banco de Portugal. Muito mais haveria dizer sobre
este museu que se notabiliza também pela sua Interatividade. Saímos enriquecidas
com vontade de regressar com mais tempo. Soubemos também que o montante da
venda do espaço da Igreja foi utilizado na construção da Igreja de Nossa
Senhora de Fátima em Lisboa.
É tão bom poder voltar a usufruir
da beleza dos museus e das suas histórias que constituem parte do nosso legado
patrimonial.
Celebrou-se a 22 de Agosto o dia
em que escrevi este artigo, a festa de Santa Maria Rainha instituída por Pio
XII em 1954. A realeza de Santa Maria uma Rainha verdadeiramente acessível, já
que todas as graças nos chegam através da sua mediação maternal, é uma verdade consoladora
para todos os homens especialmente os que mais sofrem. Uma Rainha a quem
podemos pedir socorro na adversidade, luz nas trevas, alívio nas dores e penas.
Através da sua intercessão poderosa conforta-nos e impulsiona-nos a
levantarmo-nos e a seguir em frente sob o seu manto protetor, enchendo-nos de
segurança e de esperança enquanto porto seguro.
Que este novo ano letivo que se aproxima se revele, dentro do possível, rico em partilha de conhecimentos, com saúde, solidariedade, emprego, habitação, paz e bem-estar. Todos, dentro das nossas possibilidades, vamos lutar para alcançarmos os objetivos propostos. Santa Maria, escrava do Senhor, rogai por todos nós.
Maria Helena Paes |
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