Perto da minha casa, entre muitos outros, há um restaurante familiar, quer dizer, o marido está ao balcão, a esposa na cozinha e assim, ao longo dos anos têm mantido com dignidade o seu ganha-pão.
Já todos nos habituámos àquela companhia, numa vizinhança que se conhece e respeita, não só pela presença constante, como ainda pela qualidade com que se empenham em servir os seus clientes, mesmo em tempos de crise.
O que me surpreendeu foi há dias passar por lá e ver a sua filha adolescente, agora já na Faculdade, em tempo de férias lectivas, continuar a ajudar os pais na sua labuta do dia-a-dia.
Não deixei de recordar como isto era frequente há umas décadas atrás, todos juntos lutavam, trabalhavam, reforçavam-se, apoiavam-se e a vida seguia o seu rumo sem muitas oscilações nem convulsões, embora com muito trabalho, boa gestão e harmonia.
Por onde andam agora os nossos adolescentes em tempo de verão? Que fazem pela família, pela casa e pelo sustento de todos? Que miminhos dão aos seus pais com a colaboração da sua ajuda e a alegria da sua presença?
Nem todos merecem descansar nas férias, porque muitos passaram descontraidamente o ano lectivo, explorando os pais e o Estado, fingindo estudar, mas fazendo “turismo”, com as alegadas desculpas de que o ensino está um horror, os professores não sabem ensinar, os horários são um caos, etc., etc.
E os pais onde estão? Será que estão conscientes das consequências destas situações que andam a alimentar, deixando-os esgotar o seu ordenado, o seu afecto, a sua tranquilidade e, naturalmente, ao comprometerem o seu futuro comprometem toda a malha social, pois a sociedade também se ressente com esta degradação, tendo o direito a exigir de cada um o papel que lhe compete desempenhar, com saber, honestidade, trabalho e bom exemplo.
Um estudante que não estuda é uma anormalidade, é uma contradição, é uma fraude e será mais tarde “persona non grata”, numa sociedade que precisa do trabalho e da participação de todos para poder progredir, evoluir no sentido duma maior qualidade, segurança e tranquilidade.
Por isso, temos os nossos centos comerciais cheios de garotos indolentes e imaturos que consomem o que não ganham, as praias cheias de meninos mal-educados que fazem desacato, e a noite a esconder o impensável.
A juventude tem contextos próprios, mas alguns excessos poderão serão perigosos e marginais, sendo no entanto defendidos por alguns, inclusive por pais, muito demitidos das suas responsabilidades familiares, com a infeliz argumentação de serem jovens, terem de se divertir e aproveitar a vida, que a mocidade são dois dias…
Este tema e esta terminologia poderão não ser consensuais, incomodando muitas pessoas, mas a realidade dos factos e as suas nefastas consequências, obrigam a que cada um reflita sobre o seu papel interventivo.
Todos conhecemos jovens impecáveis, pais responsáveis, famílias estruturadas e organizadas, mas os tempos estão difíceis para estes. Há que saber dizer “NÃO” e impor princípios com toda a convicção, autoridade e afecto, compreender mas não pactuar, amar e orientar, conduzir e seduzir, rumo à formação de filhos com valores, honrados, trabalhadores e respeitadores.
Talvez todos tenhamos um pouco de culpa, toleramos, ignoramos numa atitude egoísta, refugiamo-nos no nosso cantinho e não temos a coragem de sermos os grandes intervenientes nas crises que nos assolam.
Maria Susana Mexia
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