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quinta-feira, 15 de outubro de 2020

O último Livro que reli…

O tempo era de violência, de pobreza, de atropelos sem fim à vista. Não obstante o lema da revolução francesa – “Igualdade, Liberdade e Fraternidade” – o horizonte da dignidade humana era tão pobre e esfarrapado como o povo, sucessivamente atraiçoado com miragens de justiça, de lei e de ordem.

As invasões francesas no seu epílogo, em Waterloo, no ano de 1815, prepararam o cenário para os motins de junho de 1832, com as suas célebres barricadas.

Magistralmente Vítor Hugo, num romance publicado em 1862, “Os Miseráveis”, retratou esta França sofrida e dilacerada, faminta de pão, trabalho, paz, amor e de Deus, onde só o ódio e o desejo de vingança proliferavam.

No horizonte levantava-se uma nova ideologia vinda de leste, uma espécie de magia que prometia abrir novos caminhos ao homem que trabalha, luta, estuda e é vilipendiado nos seus direitos mais nobres. Mas também ela deixou um rio vermelho de sangue, dilacerou corações e ceifou jovens vidas prometedoras dum tempo e dum mundo melhor.

Só a Fé permaneceu como um coerente baluarte para soerguer o homem da baixeza social e humana a que estava reduzido e agrilhoado por todas as forças do poder temporal.

Vítor Hugo não foi um profeta, não foi um político, tão pouco um filósofo, simplesmente dominou o romance, uma arte considerada perigosa, pouco digna e pouco séria, onde capta, analisa e dá a conhecer o sofrimento moral, espiritual e afectivo dum povo explorado, igual a outros tantos por esse mundo além.

A tragédia humana, está para além de todo o tempo e espaço, não se confina ao banal e vulgar, porque a humanidade possui em si uma “chispa divina”, algo que a leva a ansiar pela imortalidade numa felicidade intemporal.

Contra todas as correntes glorificadas na época, que albergavam o ideal de um mundo sem Deus, o autor levanta o véu, abre o horizonte sem fim da eternidade, onde todos serão gloriosos, exaltados e vencedores.

Só em Deus se reconhece o valor incomensurável de ser Homem. A grandeza do ser humano provém da realidade espiritual da sua alma, não do poder, nem das armas, nem da violência.

Ler “Os Miseráveis”, é um acto de redenção face ao bem, ao amor e à coragem, que nunca morrem, mesmo quando as armas do ódio, da vingança e as forças do mal parecem ter a última palavra.

A fé e a esperança são irmãs gémeas da caridade e aliadas ao perdão fazem milagres…

Maria Susana Mexia



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