«Não ouvistes falar daquele homem louco que, em pleno dia, acendeu uma lamparina e começou a correr pelas praças gritando sem cessar: “Onde está Deus? Onde está Deus? Como se encontravam por ali muitos dos que não creem em Deus, este grito suscitou grande hilaridade: “Quer dizer que Ele se perdeu?”, perguntava um. (…) “Terá emigrado?” (…) O louco saltou para o meio deles e trespassou-os com o olhar: “Para onde foi Deus?”, gritou. “Digo-vos eu: matámo-lo – vós e eu! Somos, todos nós, seus assassinos”.
Após este anúncio dramático da “morte de Deus”, o homem louco colocou uma série de perguntas: “Mas como é que fizemos tal coisa? (…) Que fizemos, quando desprendemos esta Terra da corrente que a ligava ao Sol? (…) Não é verdade que estamos a cair incessantemente? Para a frente, para trás, para o lado, para todos os lados? (…) Não é verdade que andamos errantes, como que vagueando num nada infinito? (…) Não está mais frio? Não vedes chegar a noite, uma noite cada vez mais profunda?”.
A tragédia deste homem louco é a tragédia de um assassínio: o próprio Deus foi morto e os responsáveis pela sua morte são os Europeus, que começaram a viver “como se Deus não existisse”. E, se Deus morreu, o Sol, a verdade, o amor e o belo, em termos absolutos, deixaram de existir; tudo se torna relativo para o homem e a sua radical finitude. Se o Sol existe, há uma fonte, uma prespectiva, um ponto de vista e de interpretação único, objectivo, absoluto a ver e a alcançar; se o Sol deixa de existir, resta apenas o pluralismo anárquico das perspectivas e das interpretações. Cada indivíduo passa a ser o seu próprio sol. Em vez de um Sol, resta-nos uma miríade de sóis isolados. Se Deus não existe, qualquer indivíduo pode arvorar-se em Deus, em detentor da verdade e em medida de todas as coisas. A morte de Deus dá origem ao individualismo e ao relativismo.
Encontramo-nos perante grandes interrogações: o bem e o mal são realidades objectivas, absolutas e imutáveis, ou são relativos às transformações históricas, à nossa liberdade e às nossas decisões? A vida da pessoa humana é um bem em si, objectivo, absoluto, não negociável, ou o valor e a dignidade da vida são, pelo contrário, relativos à liberdade humana? Os direitos e os deveres que estão na base da vida em comum têm um fundamento objectivo, absoluto, racional, ou o seu conteúdo perde-se na anarquia das interpretações dos indivíduos?»
A estas questões e a
muitas outras de pertinência actual, Grégor Puppinck, no seu livro “A família,
os Direitos do Homem e a Vida Eterna”, ajuda-nos a reflectir e a compreender o
estado de desespero e de ausência moral em que nos encontramos, não deixando de
partilhar connosco o seu plano luminoso de recuperação da herança cultural que
nos caracterizava e definia, “na certeza de que o futuro se faz onde as pessoas
se unem em torno do convicções que dão forma à vida”.
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