Padre Carreira das Neves destaca gesto de Francisco como uma «grande lição» para a Igreja Católica e para o mundo
Lisboa, 02 nov 2016 (Ecclesia) – O padre Joaquim Carreira das Neves
disse que a participação do Papa Francisco na comemoração ecuménica dos
500 anos da Reforma Protestante reforçou a vontade em consolidar uma
Igreja Católica mais aberta ao diálogo e à diferença.
Em entrevista ao Programa ECCLESIA, o sacerdote franciscano, autor do
livro “Lutero”, sublinhou que numa época em que a religião está a ser
instrumentalizada para promover a “guerra”, neste caso pelo Estado
Islâmico, esta iniciativa realça a importância de partir em busca “da
paz” e de no campo espiritual “deixar o unanimismo religioso”.
“É na diversidade que encontramos o rosto do outro e o rosto do outro é
o rosto de Deus (…) e nisto “o Papa Francisco dá-nos esta grande
lição”, frisa o biblista, que admitiu haver ainda um longo caminho a
percorrer para que esta abertura chegue a todos os quadrantes da Igreja.
“Nós hoje temos muitos católicos que não gostam do Papa, há movimentos,
há escritos e há cardeais - não há que ter medo – há cardeais que não
estão de acordo com o Papa Francisco, que dizem que ele está a destruir a
Igreja Católica. Não está, está a construir a Igreja e o mundo. Agora
temos problemas complicados quando caímos em literalismos, em
uniformismos”, sustentou.
O Papa argentino participou na comemoração ecuménica dos 500 anos da
Reforma Protestante, esta segunda e terça-feira, com o objetivo de
contribuir para a “proximidade” entre católicos e protestantes.
Este gesto, que congregou o Conselho Pontifício para a Unidade dos
Cristãos (Santa Sé) e a Federação Luterana Mundial, marcou também os 50
anos de diálogo entre as duas Igrejas cristãs.
O investigador Timóteo Cavaco recordou que a Reforma Protestante deixou
“uma ferida aberta no coração da Europa”, porque teve “consequências
não só no plano religioso mas também político, económico e social”.
Um pouco como acontece agora no Velho Continente mas por razões
diferentes, de conflitos, de guerras que estão a levar milhões de
pessoas a buscarem refúgio no território.
Neste âmbito, a viagem do Papa à Suécia poderá ter lançado as bases
para as pessoas compreenderem que têm de “construir algo de futuro”, e
mesmo as comunidades cristãs.
“O cristianismo é na sua essência plural, não devemos viver amargurados
com a pluralidade do cristianismo. Agora temos é que construir na base
dessa pluralidade e não olhar para aquilo que nos divide e fazer disso
motivo de guerra e de conflito”, acrescentou.
PR/JCP
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