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segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Taizé: Cardeal Kasper diz que irmão Roger foi «verdadeiro teólogo»

Antigo responsável do Vaticano pelo diálogo ecuménico falou perante 300 novos teólogos católicos, protestantes e ortodoxos

António Marujo, jornalista do religionline.blogspot.pt, em serviço especial para a Agência ECCLESIA (o autor escreve segundo a anterior nota ortográfica)

Taizé, França, 06 set 2015 (Ecclesia) - O irmão Roger, fundador e primeiro prior da comunidade de Taizé não foi um teólogo profissional, “mas foi um verdadeiro teólogo ou seja, alguém que sabe falar de Deus”, disse o cardeal Walter Kasper.

O ex-presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos (Santa Sé) encerrou este sábado o colóquio internacional sobre o contributo do irmão Roger para o pensamento teológico, promovido pela comunidade ecuménica na pequena localidade francesa.

O cardeal Kasper acrescentou que o irmão Roger “sabia falar de Deus de modo existencial”.

“Era um teólogo de joelhos, que no silêncio escutava o que o Espírito lhe queria dizer, um teólogo que vivia o que dizia”, afirmou, perante cerca de 300 participantes, na maioria teólogos e teólogas com menos de 40 anos.

Nos horizontes do irmão Roger, sublinhou, estavam a esperança, a reconciliação entre os cristãos e a paz no mundo.

O fundador de Taizé, oriundo da tradição calvinista, chegou à aldeia da Borgonha há 75 anos, a 20 de Agosto de 1940, para aqui fundar uma comunidade monástica.

Três décadas depois, a comunidade acolheu o primeiro monge católico; hoje, a centena de membros que a compõem inclui católicos e de diferentes igrejas protestantes.

Tratando o tema “A misericórdia e o caminho ecuménico do irmão Roger”, o cardeal Kasper disse que “a misericórdia é a verdade sobre Deus, revela a soberania de Deus no seu amor”.

Junto de Deus – prosseguiu, referindo a parábola do filho pródigo –, “há sempre o perdão e, depois da falha, a possibilidade de um novo começo”.

“A Igreja prefere recorrer ao remédio da misericórdia do que brandir as armas da severidade”, afirmou.

“O remédio da misericórdia e do perdão, e não o da severidade, é que cura as feridas da separação”, disse ainda.

D. Walter Kasper é autor de um livro sobre a misericórdia, citado pelo Papa Francisco na primeira alocução do ângelus após a sua eleição, em Abril de 2013.

“Só uma Igreja misericordiosa, que não é exclusiva nem exclui ninguém, é uma Igreja autêntica consigo mesmo e com a sua missão”, referiu este sábado.

No período de respostas aos participantes, o cardeal insistiu em que “a suprema lei canónica é a salvação das pessoas e a disciplina da Igreja não pode aprisionar” essa regra.

Quer no final da intervenção quer em várias respostas, o cardeal alemão foi muito aplaudido pelos participantes do colóquio – católicos, ortodoxos, protestantes e anglicanos –, onde se incluíam muitas mulheres, entre elas pastoras protestantes.

“‘Comunhão de amor’ era a expressão privilegiada do irmão Roger para designar a Igreja”, observou, noutro passo.

Por isso, perguntou: “Como pode a Igreja tornar concreto este amor se ela está dividida em si mesma? Como pode ela testemunhar a reconciliação, se os cristãos não estão reconciliados?”.

Este é o “problema ecuménico”, “dizendo melhor: este é o sofrimento profundo de tantos cristãos católicos, protestantes e ortodoxos”, sustentou.

Um grupo de participantes, que na véspera debatera a criação de espaços de comunhão entre as Igrejas a partir da teologia, dirigiu-se ao cardeal para lhe fazer “um pedido concreto”.

“Queremos que a disciplina das Igrejas e da Igreja Católica seja aliviada, para que possamos comungar juntos, marido e mulher, quando vamos às celebrações da Igreja uns dos outros”; apelaram.

Respondendo com boa disposição, o cardeal sugeriu: “Também temos de ser misericordiosos com a Igreja”.

Apontando o exemplo da liturgia de Taizé, o cardeal Kasper referiu que ela não resulta de uma “amálgama sincrética”, mas da “reintegração e reconciliação de elementos que estavam dissociados, isolados e separados”.

É, assim, “um ecumenismo vivido como antecipação da futura comunhão das Igrejas”, que o irmão Roger já vivera porque se reconciliou com a Igreja Católica sem romper com a sua tradição.

Este programa, acrescentou, deixou-o o irmão Roger “à sua comunidade e à Igreja inteira como sua herança”.

“Este caminho extraordinário pode abrir um caminho ordinário? (...) O caminho pessoal do irmão Roger é uma indicação discreta do Espírito Santo para o futuro caminho ecuménico”, assinalou.

Dirigindo-se ainda aos novos teólogos, desafiou-os: “Não devemos desistir de procurar essa comunhão plena. Vocês têm de empurrar a Igreja”.

AM/OC
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