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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Papa em Cuba: O mundo precisa de reconciliação

Discurso do Santo Padre Francisco na cerimónia de boas vindas neste sábado

Havana, 20 de Setembro de 2015 (ZENIT.org)

Senhor Presidente,
Distintas Autoridades,
Irmãos no Episcopado,
Senhoras e Senhores!

Muito obrigado, Senhor Presidente, pela sua recepção e pelas suas amáveis palavras de boas-vindas, em nome do Governo e de todo o povo cubano. A minha saudação estende-se também às autoridades e aos membros do Corpo Diplomático que tiveram a amabilidade de participar neste acto.

Agradeço pela sua fraterna recepção ao Cardeal Jaime Ortega y Alamino, Arcebispo de Havana, a D. Dionisio Guillermo García Ibáñez, Arcebispo de Santiago de Cuba e Presidente da Conferência Episcopal, aos outros bispos e a todo o povo cubano.

Obrigado a todos os que se prodigaram na preparação desta visita pastoral. E queria pedir-lhe, Senhor Presidente, para transmitir os meus sentimentos de especial consideração e respeito ao seu irmão Fidel. Além disso gostaria que a minha saudação chegasse de forma especial a todas aquelas pessoas que, por diferentes motivos, não poderei encontrar e a todos os cubanos espalhados pelo mundo.

Como o Senhor Presidente sublinhou, neste ano de 2015, celebra-se o octogésimo aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas ininterruptas entre a República de Cuba e a Santa Sé. A Providência permitiu-me chegar hoje a esta amada nação, seguindo os passos indeléveis do caminho aberto pelas memoráveis viagens apostólicas feitas a esta Ilha pelos meus dois predecessores, São João Paulo II e Bento XVI. Sei que a sua lembrança desperta gratidão e afecto no povo e nas autoridades de Cuba. Hoje renovamos estes laços de cooperação e amizade, para que a Igreja continue a acompanhar e encorajar o povo cubano nas suas esperanças, nas suas preocupações, com liberdade e todos os meios necessários para levar o anúncio do Reino até às periferias existenciais da sociedade.

Além disso, esta viagem apostólica coincide com o I centenário da declaração da Virgem da Caridade do Cobre como Padroeira de Cuba, por Bento XV. Foram os veteranos da Guerra da Independência que, movidos por sentimentos de fé e patriotismo, pediram que a Virgem mambisa [cubana] fosse a padroeira de Cuba enquanto nação livre e soberana. Desde então, Ela acompanhou a história do povo cubano, sustentando a esperança que preserva a dignidade das pessoas nas situações mais difíceis e defendendo a promoção de tudo o que dignifica o ser humano. A sua devoção crescente é um testemunho visível da presença da Virgem Maria na alma do povo cubano. Durante estes dias, terei oportunidade de ir ao Santuário do Cobre, como filho e como peregrino, rezar à nossa Mãe por todos os seus filhos cubanos e por esta amada nação, para que caminhe por sendas de justiça, paz, liberdade e reconciliação.

Geograficamente, Cuba é um arquipélago que abre para todas as rotas, possuindo um valor extraordinário de «chave» entre norte e sul, entre leste e oeste. A sua vocação natural é ser ponto de encontro para que todos os povos se reúnam na amizade, como sonhou José Martí, «mais além da língua dos istmos e da barreira dos mares» («A Conferência Monetária das Repúblicas da América», em Obras escogidas II, Havana 1992, 505). Este mesmo desejo, exprimiu-o São João Paulo II com o seu ardente apelo para que «Cuba, com todas as suas magníficas possibilidades, se abra ao mundo e o mundo se abra a Cuba» (Discurso na cerimónia de acolhimento, 21/1/1998, 5).

Desde há vários meses, temos sido testemunhas dum acontecimento que nos enche de esperança: o processo de normalização das relações entre dois povos, após anos de afastamento. É um processo, é um sinal da vitória da cultura do encontro, do diálogo, do «sistema da valorização universal (…) sobre o sistema, morto para sempre, de dinastia e de grupos», dizia José Martí (obra citada). Encorajo os responsáveis políticos a prosseguir por este caminho e a desenvolver todas as suas potencialidades, como prova do alto serviço que são chamados a prestar em favor da paz e do bem-estar dos seus povos e de toda a América, e como exemplo de reconciliação para o mundo inteiro.O mundo precisa de reconciliação, nesta atmosfera de III Guerra Mundial por etapas que estamos a viver.

Coloco estes dias sob a intercessão da Virgem da Caridade do Cobre, dos Beatos Olallo Valdés e José Lopéz Pieteira e do Venerável Félix Varela, grande propagador do amor entre os cubanos e entre todos os homens, para que aumentem os nossos laços de paz, solidariedade e respeito mútuo.

Mais uma vez, muito obrigado, Senhor Presidente!

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