A cada dia que passa, se ouvem e se lêem mais e mais notícias sobre idosos encontrados sozinhos e por vezes até mortos nas suas casas. Qual será a ligação entre a solidão e o envelhecimento e o que leva as pessoas a passarem a ser “anónimas”, desapoiadas e desintegradas da sociedade?
Que acontecimentos ao longo da vida poderão levar a um estado solitário na terceira idade?
Se a solidão é um contributo para a exclusão social na terceira idade, que reflexões poderemos fazer? Que ações poderemos desenvolver? O individuo não terá deixado descendentes ou amigos? Onde estão os laços afetivos que supostamente se vão criando e reforçando ao longo da vida?
Foram as drásticas as alterações demográficas a que se assiste neste novo século e que nos direcionam para este tipo de questões: O índice de envelhecimento da população é de 129, ou seja, verifica-se que por cada 100 jovens há atualmente 129 idosos.
De acordo com esta situação é importante que o envelhecimento seja bem-sucedido e que a longevidade tenha qualidade. E dentro dos preâmbulos de qualidade de vida, está definitivamente, o sentido de pertença.
O idoso de hoje em dia, é visto de forma muito diferente do idoso de antigamente. Antigamente, as famílias eram numerosas e esperava-se que os elementos mais velhos vivessem com os restantes familiares até à hora da sua morte. Hoje, os idosos que um dia tomaram conta dos seus progenitores, esperavam que o mesmo lhes sucedesse, mas, a transformação da sociedade faz-nos querer que muitos idosos vivem em lares ou sozinhos nas suas casas.
O papel das famílias é fundamental para a o bem-estar geral do idoso. Porém, este é um assunto delicado que por vezes, nos coloca grandes questões. Somos constantemente confrontados com discursos moralistas e pouco realistas, que remetem para a esfera familiar todo o tipo de apoios e cuidados de que os idosos, especialmente os mais dependentes, necessitam.
Apesar da diversidade de casos, de famílias que se exaustam em prol dos seus entes queridos e do extremo daqueles que os desprezam, não podemos negar que a família é uma base na nossa vida, onde temos o nosso vínculo, onde sentimos a pertença, estamos protegidos e nos sentimos amados.
Esta, quando estruturada e unida, ajuda o idoso a ultrapassar grandes desgostos como a viuvez e a morte de alguém querido.
A forma como os idosos se vêm a si mesmos é por vezes tão distorcida quanto a sociedade incita. Vêem-se desenraizados dos seus papéis sociais, distantes das suas relações, inundados de incapacidades e desvinculados dos seus pertences. A entrada na reforma, é por vezes controversa e pode originar alguma vulnerabilidade, quer em termos sociais, monetários, como pela modificação do estatuto ou prestígio na sociedade e, que, podem desencadear em algumas pessoas sentimentos de solidão e isolamento.
A viuvez, é outra situação de risco para a solidão se não houver um apoio, amizade e alguém que transmita bem-estar e ajude a ultrapassar essa etapa tão difícil.
O processo de envelhecimento humano é definitivamente um processo individual, pois é condicionado pelos fatores intrínsecos, extrínsecos e pelas condicionantes e experiências da vida. Contudo, é também coletivo, porque é vivido em sociedade, é um processo partilhado e é cíclico.
Existem serviços que podem ser utilizados no combate à solidão e em simultâneo que ajudem no mantimento das capacidades físicas e cognitivas, como é o exemplo os centros de dia ou então, a frequência de desportos ou ateliês de interesse individual.
É fulcral, que se extermine a imagem negativa relativa à população idosa. O preconceito em relação aos mais velhos, está de tal forma enraizado na mente das pessoas, que as próprias pessoas idosas, o têm em relação a si mesmas. Esse sentimento predominantemente negativo na sua autoimagem é um veículo de desvalorização pessoal e redução da autoestima. Enquanto, que, se o contrário se fizesse, no sentido de admirar e valorizar as suas experiências de vida e conhecimento de tradições antigas, as pessoas teriam uma melhor autoestima, uma imagem mais positiva sobre elas mesmas e orgulho em serem idosas.
Apesar do idoso poder ser reformado, não significa que esteja menos ativo, não estão necessariamente mais doentes e/ou dependentes, não significa que esteja excluído da sociedade ou que esteja alienado.
Ser idoso não significa estar condenado à solidão e viver sozinho pode ser símbolo de independência e autonomia e estar só pode ser a oportunidade para organizar e reconstituir o seu funcionamento.
Para finalizar, importa referir que a amizade é um ponto fundamental para que muitos idosos consigam ter o apoio necessário para continuar a sua vida, fazer as suas modificações e ambientar-se ao seu novo eu. A amizade faz com que as pessoas tenham o sentimento de pertença, se sintam amadas e confortáveis por terem o outro que as possa ouvir.
Sara Beja
Graduada em Gerontologia
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