Tenho andado com algumas dificuldades de escrita. Por um lado, estou a tentar resolver um problema de profundo egoísmo. Apesar de ter um anjo de guarda altamente eficiente, não está a ser fácil. Talvez uns banhos de água salgada possam ajudar. A ver.
Para além disso, as minhas rotinas nem sempre acrescentam novidades dignas de escrita. O meu mais velho está prestes a fazer a primeira comunhão, embora só pense em futebol e rugby. O segundo está sempre a testar os limites e a minha paciência, para além disso, de vez em quando, faz umas asneirolas um pouco mais chatas e lá tenho eu de fazer cara feia mais uma vez. A menina do meio tem uma grande veia dramática e tudo para ela pode ser uma verdadeira tragédia. O seu lado feminino está bem patente na tagarelice e nas permanentes cobranças de atenção, de beijinhos, de tudo e mais alguma coisa. O quarto leva sempre a sua avante, porque a mãe não vê tudo e está sempre ocupada com alguma coisa. O quinto está na fase estupenda das dentadas. Consegue dar valentes dentadas nos meus ombros e dar grandes gargalhadas ao mesmo tempo.
O meu marido, no meio de tudo isto, tenta trabalhar e pintar a casa ao mesmo tempo, o que como é óbvio, não é nada fácil. Principalmente, para alguém que percebe muito disto e quer tudo feito na perfeição, com todos os primários e secundários a que tem direito.
A mim, cabe-me gerir os miúdos, a casa e o orçamento. Pode parecer que a minha tarefa é a mais fácil, mas não é. A mais fácil é a dos miúdos, pois, por mais que eu diga, há sempre pijamas espalhados por todo o lado, o mais velho nunca faz a cama, ao sábado acordam sempre às 7h da manhã, estão sempre a perder coisas na escola e não têm cuidado nenhum com os brinquedos.
Uma vez que tenho a tal questão de egoísmo para resolver e que não tenho conhecimentos, nem científicos, nem cosméticos, nem de estilo, não consigo vislumbrar de que outro assunto vos posso falar a não ser das aventuras cá de casa. A última foi a adoção de uma mini rã que colocámos junto à tartaruga e que faleceu hoje de manhã. A penúltima foi a 2º gravidez da nossa coelhinha- a pintinha… não sei como é que os coelhos sobrevivem no meio de tanta confusão! A antepenúltima foi a invenção de uma nova modalidade cá em casa- futebol macaco. É de chorar a rir.
Ontem à entrada para a missa, uma senhora dizia-nos “Aqui vem a família mais feliz da …”. Não sei se somos a mais feliz, mas somos certamente do que grupo das mais… mas importa pensar que a felicidade dá trabalho… por um lado, somos felizes porque temos a vida que queremos, mas também é verdade que queremos a vida que temos. A felicidade é esse equilíbrio, nem sempre fácil, nem sempre óbvio, nem sempre conseguido, entre o sonho e a realidade, entre o oxalá e o agora.
Neste momento, estou numa fase em que sinto profundamente esta gestão dentro de mim. Sinto a dicotomia entre o que pode ser egoísmo e o que pode ser expectável, desejável. A vida não é sempre pera doce e mesmo quando pode ser, nós temos cá um jeitinho para amargá-la um pouquinho.
Rita Gonçalves
Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas Português/Francês
Mãe mesmo a tempo inteiro
Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas Português/Francês
Mãe mesmo a tempo inteiro
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