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segunda-feira, 1 de junho de 2015

Beja: Diocese empenhada em preservar tradições religiosas do litoral alentejano

TM/AE - Imagem do Porto de Sines

Professor José António Falcão destaca «herança essencial» hoje ameaçada por várias «transformações sociais e económicas»



Sines, Setúbal, 15 mai 2015 (Ecclesia) – A Diocese de Beja está a trabalhar em conjunto com autarquias, instituições culturais, empresas e comunidades piscatórias no sentido de preservar as tradições e devoções religiosas ligadas ao mar na região.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o diretor do Departamento do Património Histórico e Artístico (DPHA) da diocese realça que “o Alentejo não é apenas o interior rural, tem uma fachada atlântica, uma área de costa absolutamente extraordinária”, com localidades detentoras de um “notável património religioso”.

Uma “herança essencial” que, segundo o professor José António Falcão, está hoje “em risco” por causa das “transformações sociais e económicas que têm vindo a acontecer no território”, e colocado novos desafios a quem fez desta atividade o seu modo de vida.

Francisco Chainho, que lidou com o mar durante mais de 40 anos ao largo de Sines, aponta o dedo às alterações feitas à geografia do local, com obras que retiraram espaço a uma praia que “era linda” e “enchia de pescadores vindos de quase toda a Europa”.

Depois, a implantação das indústrias ligadas à produção de combustíveis e seus derivados colocou em causa a qualidade de uma costa que era “muito rica em pescado, de várias qualidades” e fez com que “muitos pescadores passassem a ficar em terra”.

Para José António Falcão, é fundamental que estes desafios não fiquem reféns de “uma espécie de amnésia coletiva” e nesse sentido “cuidar” do património religioso é também garantir que uma parte significativa da “identidade” do litoral alentejano não se perca.

Atualmente, a Diocese de Beja está a colaborar com concelhos como Grândola, Santiago do Cacém, Odemira e Sines, na recolha de testemunhos e histórias passadas de geração em geração, entre famílias de pescadores, na identificação dos principais pontos de culto e na inventariação e preservação dos artefactos a ele ligados.

Francisco Chainho sublinha a importância da fé numa atividade onde o perigo e a morte estão sempre presentes.

Agora reformado, o pescador “naufragou algumas vezes” e “logo no seu início” com 13 anos, viu 17 colegas perderem a vida, “uma marca muito grande que fica”.

Nesses momentos de tragédia, “há sempre uma fé, uma santinha perto de nós e isso dá-nos alguma segurança”, frisa o mestre Chainho.

Esta quinta-feira, Sines acolheu um seminário internacional realizado pela Diocese de Beja, em parceria com o museu local, onde foi possível ficar a par da obra até agora realizada.

Destaque para o facto de o DPHA estar a trabalhar na elaboração de um roteiro dos santuários, igrejas e ermidas mais significativos da costa alentejana, que têm associados a si um grande conjunto de devoções e festas populares.

Este “itinerário” começa em Santa Maria de Troia, na fronteira com a Diocese de Setúbal, e prolonga-se até São Teotónio com a devoção a Nossa Senhora do Rosário, já no limite com o Algarve.

Passa por localidades como o Carvalhal, em Grândola, onde dá a conhecer a devoção dos pescadores a São Romão; e Santo André, em Santiago do Cacém, onde pontifica a réplica de uma embarcação (um barco da xávega) oferecida ao padroeiro pela comunidade piscatória local, em ação de graças.

De acordo com José António Falcão,  o roteiro convida também os visitantes e peregrinos a conhecerem “o grande santuário mariano de Sines”, dedicado a “Nossa Senhora das Salas”, que remonta à Idade Média e que “pela mão de Vasco da Gama se reconstruiu e revalorizou”.
 
JCP
 


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