TM/AE - Imagem do Porto de Sines |
Professor José António Falcão destaca «herança essencial» hoje ameaçada por várias «transformações sociais e económicas»
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o diretor do Departamento do Património Histórico e Artístico (DPHA) da diocese realça que “o Alentejo não é apenas o interior rural, tem uma fachada atlântica, uma área de costa absolutamente extraordinária”, com localidades detentoras de um “notável património religioso”.
Uma “herança essencial” que, segundo o professor José António Falcão, está hoje “em risco” por causa das “transformações sociais e económicas que têm vindo a acontecer no território”, e colocado novos desafios a quem fez desta atividade o seu modo de vida.
Francisco Chainho, que lidou com o mar durante mais de 40 anos ao largo de Sines, aponta o dedo às alterações feitas à geografia do local, com obras que retiraram espaço a uma praia que “era linda” e “enchia de pescadores vindos de quase toda a Europa”.
Depois, a implantação das indústrias ligadas à produção de combustíveis e seus derivados colocou em causa a qualidade de uma costa que era “muito rica em pescado, de várias qualidades” e fez com que “muitos pescadores passassem a ficar em terra”.
Para José António Falcão, é fundamental que estes desafios não fiquem reféns de “uma espécie de amnésia coletiva” e nesse sentido “cuidar” do património religioso é também garantir que uma parte significativa da “identidade” do litoral alentejano não se perca.
Atualmente, a Diocese de Beja está a colaborar com concelhos como Grândola, Santiago do Cacém, Odemira e Sines, na recolha de testemunhos e histórias passadas de geração em geração, entre famílias de pescadores, na identificação dos principais pontos de culto e na inventariação e preservação dos artefactos a ele ligados.
Francisco Chainho sublinha a importância da fé numa atividade onde o perigo e a morte estão sempre presentes.
Agora reformado, o pescador “naufragou algumas vezes” e “logo no seu início” com 13 anos, viu 17 colegas perderem a vida, “uma marca muito grande que fica”.
Nesses momentos de tragédia, “há sempre uma fé, uma santinha perto de nós e isso dá-nos alguma segurança”, frisa o mestre Chainho.
Esta quinta-feira, Sines acolheu um seminário internacional realizado pela Diocese de Beja, em parceria com o museu local, onde foi possível ficar a par da obra até agora realizada.
Destaque para o facto de o DPHA estar a trabalhar na elaboração de um roteiro dos santuários, igrejas e ermidas mais significativos da costa alentejana, que têm associados a si um grande conjunto de devoções e festas populares.
Este “itinerário” começa em Santa Maria de Troia, na fronteira com a Diocese de Setúbal, e prolonga-se até São Teotónio com a devoção a Nossa Senhora do Rosário, já no limite com o Algarve.
Passa por localidades como o Carvalhal, em Grândola, onde dá a conhecer a devoção dos pescadores a São Romão; e Santo André, em Santiago do Cacém, onde pontifica a réplica de uma embarcação (um barco da xávega) oferecida ao padroeiro pela comunidade piscatória local, em ação de graças.
De acordo com José António Falcão, o roteiro convida também os visitantes e peregrinos a conhecerem “o grande santuário mariano de Sines”, dedicado a “Nossa Senhora das Salas”, que remonta à Idade Média e que “pela mão de Vasco da Gama se reconstruiu e revalorizou”.
JCP
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