Páginas

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Uma “onda de carinho” pelo Papa, que mesmo hospitalizado telefona para Gaza

$$post_title$$

Confirmada pneumonia bilateral

 | 19/02/2025

As crianças enviam-lhe desenhos, os reclusos escrevem-lhe cartas, os chefes de Estado publicam mensagens nas redes sociais, as conferências episcopais convocam momentos de oração, e dezenas de fiéis vão-se revezando numa vigília ininterrupta junto ao hospital Gemelli. É como uma “onda de carinho pelo Papa”, que foi ao final desta terça-feira, 18, diagnosticado com pneumonia em ambos os pulmões, um quadro mais complexo do que se esperava e que requer que continue internado. Francisco agradece as manifestações de afeto e continua igual a si próprio: “de bom humor” e preocupado com quem está, de certa forma, pior do que ele.

“A tomografia computadorizada no tórax a que Francisco foi submetido na tarde desta terça-feira “mostrou o aparecimento de uma pneumonia bilateral que exigiu uma terapia farmacológica adicional”, explica o relatório vespertino divulgado pela Sala de Imprensa do Vaticano, naquele que foi já o quinto dia de internamento. “Não obstante, o Papa Francisco está de bom humor. Esta manhã, recebeu a Eucaristia e, durante o dia, alternou o repouso com a oração e a leitura de textos. Ele agradece a proximidade que sente neste momento e pede, com coração agradecido, que se continue a rezar por ele”, acrescenta o comunicado.

Pedido esse que tem sido atendido, e replicado. A começar pela Argentina, seu país de origem, onde os bispos pediram a todas as comunidades que se unam em oração pela saúde do Papa, e os “curas villeros” (padres que trabalham nos bairros mais pobres) convidam a organizar um tríduo de missas também pela sua recuperação.

Até na Nicarágua, e apesar da perseguição a que os católicos têm sido sujeitos nos últimos meses por parte do regime de Ortega e Murillo, o cardeal Leopoldo Brenes, arcebispo de Manágua, convidou os fiéis a organizarem encontros para rezar por Francisco, avança o Vatican News.

Nas redes sociais, várias personalidades do mundo da política e da religião (não apenas a Católica), manifestaram a sua proximidade. O presidente brasileiro, Lula da Silva, assegurou que “o mundo está em oração pela recuperação” de Francisco, a quem se referiu como “querido amigo” e “uma referência na luta contra as desigualdades”. De Itália, chegou a mensagem do Rabino-chefe da Comunidade Judaica de Roma, Riccardo Di Segni, que se diz “preocupado com as notícias sobre a saúde do Papa Francisco”, e deseja “uma rápida e completa recuperação”. E “o grande imã de Al-Alzar, Ahmad al-Tayyeb, está a rezar diariamente pela recuperação do Papa Francisco”, disse uma fonte próxima do imã à revista dos jesuítas America.

Desenhos e cartas emotivos

Um dos desenhos enviados ao Papa pelas crianças internadas no serviço de oncologia do hospital. Foto Vatican Media

Um dos desenhos enviados ao Papa pelas crianças internadas no serviço de oncologia do hospital. Foto © Vatican Media

Particularmente tocantes são os desenhos e postais feitos pelas crianças que se encontram na unidade de oncologia pediátrica do hospital.  Mas também as missivas que Francisco recebeu dos reclusos da prisão de San Vittore, em Milão, que haviam preparado um concerto especial para apresentar ao Papa nos históricos estúdios Cinecittà de Roma, no âmbito do Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura, o qual terminou esta terça-feira.

Após receberem a confirmação oficial do cancelamento, alguns reclusos decidiram escrever cartas ao Papa. “Foi um gesto espontâneo através do qual eles quiseram expressar o seu afeto”, explicou à Catholic News Agency Eliana Onofrio, presidente da associação Amici della Nave, que dinamiza um programa de reabilitação através da música nas prisões.

“Foi difícil para eles aceitarem, porque [o concerto] também representava uma oportunidade de sair para tomar ar fresco, ver a luz do sol e respirar liberdade por algumas horas”, referiu Eliana Onofrio.

Ainda assim, um dos reclusos lamenta não poder encontrar o Papa, mas diz compreender que esta é “uma pausa necessária devido à sua dedicação e esforços constantes”. E enfatiza que a saúde é primordial, prometendo orações por uma rápida recuperação e pedindo-lhe que não se sinta “angustiado com o cancelamento do evento”. Outro expressa sua tristeza, dizendo que “tudo havia sido organizado em grande detalhe” para oferecer ao Papa Francisco um concerto no qual eles haviam colocado todo seu esforço e carinho. Mas acrescenta que o Papa é “uma figura central”, expressando a sua proximidade e assegurando as suas orações.

Próximo de Gaza

Francisco está num quarto do 10º andar do Hospital Gemelli desde sexta-feira, 14 de fevereiro, com recomendação médica de “repouso completo”. Mas, ainda assim, tem procurado não faltar ao seu já habitual “encontro diário” com a Paróquia da Sagrada Família, em Gaza. Pontualmente às 19h de sexta-feira e sábado, Francisco ligou para o pároco, padre Gabriel Romanelli, confirmou o próprio aos média do Vaticano.

“O Santo Padre ligou-nos dois primeiros dias da sua hospitalização, as pessoas estavam à espera às 20h, como sempre, e apesar de termos tido um apagão em toda a área da cidade de Gaza, ele insistiu e conseguiu entrar em contacto connosco através de uma videochamada. Perguntou-nos como estávamos, como estava a situação e concedeu-nos a sua benção”, relata o padre Romanelli.

“Ouvimos a sua voz”, disse com alegria o pároco de Gaza, reconhecendo que “é verdade, ele está mais cansado. Ele próprio disse: tenho que me cuidar. Mas a sua voz era clara, escutou-nos bem”.

Já no domingo, “o Papa enviou uma mensagem escrita para o meu telemóvel”, continua o padre Gabriel. Não havia nenhuma expectativa entre as pessoas da pequena comunidade católica de Gaza, dadas “as notícias e informações da Santa Sé sobre seu tratamento da bronquite”. Mas o Papa fez questão de se fazer presente: “Enviou-me uma pequena mensagem dizendo que agradecia a minha proximidade e orações e retribuía com a sua bênção”.

Não há sentimento de alarme

Francisco não teve febre desde esse dia, e uma fonte do Vaticano que quis permanecer anónima disse à America esta segunda-feira que “o Papa não está a oxigénio”. Outras autoridades do Vaticano afirmaram à revista que, embora se sentisse alguma preocupação com “o estado complexo” da saúde do Papa, não havia nenhum sentimento de alarme no Vaticano até ao momento.

O próprio Francisco admitiu no passado que é um paciente “não muito cooperativo”, e esta terá sido mais uma das vezes em que se esforçou demasiado, mesmo depois do diagnóstico de bronquite, há duas semanas. Recusou-se a diminuir a sua preenchida agenda e ignorou o conselho médico de ficar em casa durante o inverno frio de Roma, tendo insistido em participar numa missa ao ar livre durante o Jubileu das Forças Armadas, no passado dia 9 de fevereiro, mesmo já apresentando dificuldades em respirar.

Agora, parece ter-se “rendido” aos pareceres dos médicos: a Sala de Imprensa da Santa Sé anunciou que não presidirá à Missa do Jubileu dos Diáconos na Basílica de São Pedro, marcada para domingo, 23 de fevereiro. E também informou que as suas duas audiências públicas desta quarta-feira, 19 de fevereiro, e de sábado, 22 de fevereiro, foram canceladas. Novas informações são aguardadas ao longo desta quarta-feira.

(Imagem de destaque: Algumas pessoas em vigília junto à estátua de João Paulo II, em frente ao hospital Gemelli. © Vatican Media)



Sem comentários:

Enviar um comentário