A educação propõe-se treinar a capacidade de
adiar os consumos apressados e despersonalizados, e a trocá-los por
experiências relacionais humanas. Algumas religiões motivam relações de fazer o
bem às pessoas e a cultivar a esperança de recompensas espirituais que resistem
ao efémero da materialidade momentânea. Há um abismo entre as ações decididas
livremente e as impostas pela cultura das tecnologias do marketing
publicitário, ganancioso, nivelador e apressado. Estas, duplamente divergentes
e ruinosas, privam da liberdade: nuns, são programadas pela IA para consumos
autodestrutivos; noutros, funciona a auto manipulação gananciosa sem ética. Quem
são os mais dependentes, uns ou os outros?
A idade mais crítica de ficar dependente é a
das crianças e dos adolescentes. No período de atividades profissionais o
trabalho obriga a certa disciplina. As tecnologias da Inteligência Artificial
(IA) são programadas para apressar e provocam stresse, esgotamento e burnout.
Os idosos que entram na reforma sem dependências conseguem desacelerar e
defender-se: adotam ritmo mais lento e descansam quando se dedicam ao registo
das suas memórias e autobiografias, nem que seja aos pedaços. Alguns gozam o
prazer saudável de ordenar e redigir as suas lembranças. Tornam presente parte
do seu passado, vivem experiências em convívios gratos com pessoas próximas da
sua idade. Para muitos é uma idade de sabedoria e reflexão descontraída. Os que
chegam a idosos já viciados correm o risco de maior desgaste mesmo sem usar as
máquinas. Contudo, não deixam de ser suas vítimas.
Os ainda
poucos investigadores da possível eficácia da IA e da sua falta de ética para
distribuir os benefícios do bem comum vão demonstrando que não há muito a
esperar que a programação da IA deixe de estar ao serviço dos colossos
endinheirados e seja exorcizada dos efeitos diabólicos que a dominam. Alguns
investigadores demonstram que é programada com algoritmos para uns enriquecerem
mais e os pobres empobrecerem mais (cf. as investigações de Levi Checketts).
Quem são os pobres? O Evangelho apresenta lista muito extensa e os de hoje
envergonham os países com altos níveis do PIB; e nos países de baixos níveis os
programas da IA cancelam a existência dos pobres e miseráveis. As definições de
pobreza são aplicadas nos países mais ricos, mas não se aplicam aos pobres e
miseráveis. Estorvariam os jogos das centenas dos usurpadores dos recursos do
planeta que querem ficar bem no foto. As máquinas não são tão neutras como
alguns apregoam; são programadas para deixar de fora a distribuição do bem
comum. Ainda há dias vinha a notícia de que Nova Iorque já tinha 350 mil
pessoas sem abrigo!
Há
adiamentos e esperas de recompensas curtas e longas à medida da vida de cada
pessoa. A tensão de esperar pelos frutos do esforço pessoal exige constância; e
a esperança nos bens a receber de mãos alheias depende das pessoas em quem se
deposita fé e confiança. E nem todos são de confiança e menos ainda os
corruptos de turno e os robôs. A espera longa dos frutos bons precisa de apoio,
segurança, firmeza e confiança de quem os promete sem ceder à pressa, à
ansiedade e à mentira que se enxerta nos programas da IA.
Neste ano
do Jubileu muito se vai falando de esperança de horizonte temporal. A cristã,
porém, cobre o arco da esperança temporal e da eterna, e faz depender uma da
outra, ligadas pela fé-confiança em Deus e na fé-confiança nos seus filhos em
quem se pode confiar por se amarem uns aos outros na distribuição do bem comum.
A espera não precisa de pressa; e na demora vai-se recebendo cem por um de
felicidade e o resto é recebido no fim do tempo de cada um. Longo adiamento que
só a fé no Deus de amor e nas promessas da sua Palavra, Jesus Cristo pode
garantir, mas depende também de como se tratam os pobres!
Sem comentários:
Enviar um comentário