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sábado, 8 de fevereiro de 2025

Igreja Católica forçada a encerrar programas humanitários devido a cortes de Trump

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EUA

 | 07/02/2025

A decisão da administração Trump de desmantelar a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e congelar a ajuda externa durante pelo menos três meses – com a justificação de proceder à sua revisão – está a pôr em causa as operações de centenas de organizações humanitárias e de defesa dos direitos humanos. Uma das mais afetadas é a agência humanitária da conferência episcopal católica dos EUA, Catholic Relief Services (CRS), que já anunciou que será forçada a fazer “cortes massivos de até 50%” na sua estrutura e projetos para este ano.

De acordo com um e-mail enviado no início desta semana a toda a equipa da CRS pelo CEO da organização, Sean Callahan, e ao qual o jornal National Catholic Reporter teve acesso, alguns dos programas que estavam em curso na organização já terão mesmo sido encerrados e as demissões já começaram.

Fundada em 1943 pelos bispos católicos com o intuito de apoiar sobreviventes da Segunda Guerra Mundial na Europa, a CRS ajudava atualmente mais de 200 milhões de pessoas em 121 países dos cinco continentes. Em 2018, ano em que comemorou o seu 75º aniversário, contava com mais de sete mil funcionários em todo o mundo.

“Os cortes serão devastadores”, alerta Stephen Colecchi, que foi responsável pelo Escritório de Justiça e Paz Internacional da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA entre 2004 e 2018. Assinalando que o que está em causa são programas “que salvam e mudam vidas” em áreas como a educação, saúde, agricultura, resiliência face às alterações climáticas ou assistência em emergências, Colecchi lamenta a decisão tomada por Trump. “Se você quer rever um programa, não o congela simplesmente, especialmente quando as pessoas já estão a contar com ele”, defende. “Isto realmente manchará a reputação da nossa nação, que sempre teve uma boa reputação na área de assistência humanitária.”

Mas o Governo norte-americano parece convicto das suas decisões. Elon Musk, nomeado por Donald Trump para liderar o recém-criado Departamento de Eficiência Governamental, classificou a USAID como uma “organização criminosa” e o próprio Trump afirmou que ela é dirigida por “extremistas loucos”, os quais devem ser expulsos. De acordo com o Presidente norte-americano, a partir de agora apenas projetos que tornem o país comprovadamente mais seguro e próspero poderão continuar a receber financiamento.

 

Consequências do Nepal à Síria e um apelo dos bispos

Entre os programas concretos já afetados pelo congelamento inclui-se o Programa Nacional Nepalês de Vitamina A (NVAP), adianta o jornal digital Deutsche Welle. Este programa prevê a administração de vitamina A a milhões de crianças que vivem em áreas de difícil acesso e estima-se que já tenha salvado a vida de 45 mil menores de cinco anos desde a década de 1990.

Outros programas afetados incluem a ajuda a refugiados no norte da Síria, a aquisição de próteses para feridos de guerra na Ucrânia, a assistência alimentar a mais de 65 mil pessoas no Haiti e ações de remoção de minas no Sudão.

Também os Repórteres sem Fronteiras já alertaram que os cortes irão afetar instituições como o Fundo Internacional para Média de Interesse Público e meios de comunicação independentes que vivem sob condições repressivas, os quais contavam com financiamento da USAID.

Conscientes das consequências negativas da interrupção dos apoios, os bispos dos EUA lançaram um apelo a todos os católicos para que escrevam aos seus representantes eleitos do Congresso e solicitem que os programas de ajuda externa sejam retomados. “A sua ajuda é urgentemente necessária! Informe os seus membros do Congresso de que você está profundamente preocupado com a recente decisão da Administração de interromper o trabalho em quase todos os programas de assistência externa dos EUA”, pode ler-se no apelo. “Como pessoas de fé, vamos ficar ao lado dos nossos irmãos e irmãs necessitados. Diga ao Congresso para se envolver com a Administração para continuar a permitir que os programas de assistência estrangeira operem durante o processo de revisão”, prossegue o texto. Porque “a ajuda externa dos EUA não é uma esmola. Ela tem impacto real na vida e dignidade humanas e promove os interesses nacionais dos EUA”, concluem os bispos católicos.

 

Trump quer “acabar com a militarização anticristã do Governo”

“Uniremos o nosso país novamente como uma nação sob Deus”, assegurou Trump durante o pequeno almoço de oração, esta quinta-feira. Foto © The White House

 

Ao mesmo tempo que se revela indiferente a estes apelos, Donald Trump assinou esta quinta-feira, durante o tradicional pequeno almoço do Dia Nacional da Oração, uma ordem executiva que prevê a criação de um grupo de trabalho para erradicar aquilo que ele acredita ser o “preconceito anticristão” dentro do Governo, adianta a Catholic News Agency.

A procuradora-geral Pam Bondi liderará o grupo, que ficará encarregue de rever as atividades de todos os departamentos e agências durante o governo Biden (2021-2025) e identificar quaisquer políticas ou práticas “anticristãs”.

De acordo com uma declaração da Casa Branca, o objetivo é “proteger as liberdades religiosas dos americanos e acabar com a militarização anticristã do governo”. O documento alega que a administração Biden seguiu “um padrão flagrante” de perseguição a “cristãos pacíficos ”, acusando-a de aplicar sentenças de prisão de vários anos a “quase duas dúzias de cristãos pró-vida pacíficos por orarem e protestarem do lado de fora de clínicas de aborto”.

De acordo com Trump, Bondi e a comissão “moverão céus e terras para defender os direitos dos cristãos e fiéis religiosos em todo o país”. “Enquanto eu estiver na Casa Branca, protegeremos os cristãos nas nossas escolas, nas nossas forças armadas, no nosso Governo, nos nossos locais de trabalho, hospitais e nas nossas praças públicas”, afirmou o Presidente norte-americano. “E uniremos o nosso país novamente como uma nação sob Deus.”

Trump anunciou ainda que planeia estabelecer uma nova comissão presidencial sobre liberdade religiosa, bem como um “escritório de fé” na Casa Branca, a ser liderado pela pastora evangélica Paula White, sua “guia espiritual” e conselheira de longa data sobre religião.

(Foto de destaque: Donald Trump após assinar ordem executiva para proibir atletas transgénero de participar em competições desportivas, 6 de fevereiro de 2025. © The White House)




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