
"É a nossa missão"
7MARGENS | 17/02/2025
Partilhando uma fronteira terrestre e fluvial de mais de dois mil quilómetros com a República Democrática do Congo (RDC), Angola está em alerta – e totalmente “a postos” – para receber refugiados em fuga do mais recente ciclo de violência no país da África Central, que não dá mostras de abrandar. Quem o garante é a irmã Carla Luísa Frei Bamberg, secretária executiva da Comissão Episcopal da Pastoral para os Migrantes e Itinerantes de Angola e São Tomé (CEPAMI).
“Estamos preparados nas fronteiras, especialmente nas dioceses que fazem fronteira com o Congo, para garantir que qualquer chegada é recebida com cuidado e apoio”, assegura a religiosa brasileira em declarações à ACI África, e acrescenta: “Os nossos animadores na Pastoral para Migrantes estão prontos para receber estes indivíduos não como intrusos, mas como irmãos que procuram alívio de situações terríveis”.
Carla Bamberg, que pertence à Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu (Scalabrinianas), sublinha a importância da empatia e da hospitalidade e exorta todo o povo angolano a ver os refugiados como seres humanos que precisam de apoio. “Temos de saber acolher estas pessoas que vêm ter connosco enfrentando grandes dificuldades”, insiste.
A religiosa explica que os refugiados ainda não começaram a chegar e que não há dados sobre quantas pessoas estarão neste momento a deslocar-se na direção da fronteira e de que modo o fazem. “Mas como o conflito está a acontecer no leste do Congo, pode demorar algum tempo até que estas pessoas cheguem a Angola”, salvaguarda, adiantando que já foram estabelecidas parcerias com algumas ONG. “Estamos a postos, juntamente com outras organizações, para os receber, pois é essa a nossa missão”.
Questionada sobre o número de refugiados já presentes na região, a irmã Carla refere que, “no passado, as estatísticas indicavam que existiam mais de 60.000 refugiados em Angola, sendo mais de 35.000 congoleses, concentrados sobretudo nas dioceses de Luanda, Viana e Caxito. No entanto, nos últimos anos, o fluxo de refugiados diminuiu significativamente. No ano passado, por exemplo, apenas três famílias do Congo e dos Camarões chegaram em busca de asilo. Foi um ano com poucas chegadas, com mais angolanos a sair do que refugiados a chegar”.
Algo que poderá mudar muito em breve, tendo em conta que o grupo rebelde M23, apoiado pelo Ruanda, continua a ganhar terreno no Leste da RDC. E que exige estar particularmente preparado para enfrentar outros desafios, como o tráfico de pessoas e contrabando, alerta a missionária brasileira.
Segundo dados citados pelo jornal Crux esta segunda-feira, 17 de fevereiro, os combates na RDC deslocaram mais de 400.000 pessoas em três semanas, somando-se aos mais de quatro milhões que já se encontravam deslocados, de acordo com a ONU. Estima-se que 135.000 pessoas tenham sido deslocadas só da cidade de Sake, contribuindo para o elevado número de Pessoas Deslocadas Internamente da região, estimado em cerca de 800.000.
Um silêncio “que raia a cumplicidade”, denuncia padre congolês em Roma

Capelania congolesa em Roma antes da Missa pela Paz na República Democrática do Congo no domingo, 16 de fevereiro de 2025. Foto © Vatican Media
Mais longe, em Roma, muitos católicos congoleses tem rezado pelo fim dos combates nas províncias do Kivu Norte e do Kivu Sul. Uma missa pela paz na República Democrática do Congo foi celebrada no passado domingo, 16 de fevereiro, a pedido dos embaixadores congoleses em Itália, Paul Emile Tshinga, e na Santa Sé, Deogratias Ndagano, que também estiveram presentes.
Na sua homilia, o capelão da comunidade congolesa, Balowe Tshimanga, apelou à responsabilidade dos seus compatriotas e da comunidade internacional, criticando a atitude desta última, que “não vai além das palavras” sobre o drama que se desenrola no país. Embora se conheçam os agressores e os seus cúmplices multinacionais graças às investigações efetuadas, as condenações não são seguidas de sanções ou de qualquer outra ação concreta, denunciou. Alguns países mantêm-se simplesmente em silêncio, “um silêncio que raia a cumplicidade”, disse.
O padre Tshimanga condenou também “os meios de comunicação social que permanecem em silêncio sobre o que está a acontecer na RDC ou que distorcem a verdade revelada pelas investigações”.
(Imagem de destaque: Uma família deslocada sentada em frente ao seu abrigo improvisado em Goma, província de Kivu do Norte, República Democrática do Congo. © Unicef/Jospin Benekire )
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