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terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Igreja Católica angolana pronta para acolher refugiados do Congo

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"É a nossa missão"

 | 17/02/2025


Partilhando uma fronteira terrestre e fluvial de mais de dois mil quilómetros com a República Democrática do Congo (RDC), Angola está em alerta – e totalmente “a postos” – para receber refugiados em fuga do mais recente ciclo de violência no país da África Central, que não dá mostras de abrandar. Quem o garante é a irmã Carla Luísa Frei Bamberg, secretária executiva da Comissão Episcopal da Pastoral para os Migrantes e Itinerantes de Angola e São Tomé (CEPAMI).

“Estamos preparados nas fronteiras, especialmente nas dioceses que fazem fronteira com o Congo, para garantir que qualquer chegada é recebida com cuidado e apoio”, assegura a religiosa brasileira em declarações à ACI África, e acrescenta: “Os nossos animadores na Pastoral para Migrantes estão prontos para receber estes indivíduos não como intrusos, mas como irmãos que procuram alívio de situações terríveis”.

Carla Bamberg, que pertence à Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu (Scalabrinianas), sublinha a importância da empatia e da hospitalidade e exorta todo o povo angolano a ver os refugiados como seres humanos que precisam de apoio. “Temos de saber acolher estas pessoas que vêm ter connosco enfrentando grandes dificuldades”, insiste.

A religiosa explica que os refugiados ainda não começaram a chegar e que não há dados sobre quantas pessoas estarão neste momento a deslocar-se na direção da fronteira e de que modo o fazem. “Mas como o conflito está a acontecer no leste do Congo, pode demorar algum tempo até que estas pessoas cheguem a Angola”, salvaguarda, adiantando que já foram estabelecidas parcerias com algumas ONG. “Estamos a postos, juntamente com outras organizações, para os receber, pois é essa a nossa missão”.

Questionada sobre o número de refugiados já presentes na região, a irmã Carla refere que, “no passado, as estatísticas indicavam que existiam mais de 60.000 refugiados em Angola, sendo mais de 35.000 congoleses, concentrados sobretudo nas dioceses de Luanda, Viana e Caxito. No entanto, nos últimos anos, o fluxo de refugiados diminuiu significativamente. No ano passado, por exemplo, apenas três famílias do Congo e dos Camarões chegaram em busca de asilo. Foi um ano com poucas chegadas, com mais angolanos a sair do que refugiados a chegar”.

Algo que poderá mudar muito em breve, tendo em conta que o grupo rebelde M23, apoiado pelo Ruanda, continua a ganhar terreno no Leste da RDC. E que exige estar particularmente preparado para enfrentar outros desafios, como o tráfico de pessoas e contrabando, alerta a missionária brasileira.

Segundo dados citados pelo jornal Crux esta segunda-feira, 17 de fevereiro, os combates na RDC deslocaram mais de 400.000 pessoas em três semanas, somando-se aos mais de quatro milhões que já se encontravam deslocados, de acordo com a ONU. Estima-se que 135.000 pessoas tenham sido deslocadas só da cidade de Sake, contribuindo para o elevado número de Pessoas Deslocadas Internamente da região, estimado em cerca de 800.000.

Um silêncio “que raia a cumplicidade”, denuncia padre congolês em Roma


Capelania congolesa em Roma antes da Missa pela Paz na República Democrática do Congo no domingo, 16 de fevereiro de 2025. Foto Vatican Media

Capelania congolesa em Roma antes da Missa pela Paz na República Democrática do Congo no domingo, 16 de fevereiro de 2025. Foto © Vatican Media

Mais longe, em Roma, muitos católicos congoleses tem rezado pelo fim dos combates nas províncias do Kivu Norte e do Kivu Sul. Uma missa pela paz na República Democrática do Congo foi celebrada no passado domingo, 16 de fevereiro, a pedido dos embaixadores congoleses em Itália, Paul Emile Tshinga, e na Santa Sé, Deogratias Ndagano, que também estiveram presentes.

Na sua homilia, o capelão da comunidade congolesa, Balowe Tshimanga, apelou à responsabilidade dos seus compatriotas e da comunidade internacional, criticando a atitude desta última, que “não vai além das palavras” sobre o drama que se desenrola no país. Embora se conheçam os agressores e os seus cúmplices multinacionais graças às investigações efetuadas, as condenações não são seguidas de sanções ou de qualquer outra ação concreta, denunciou. Alguns países mantêm-se simplesmente em silêncio, “um silêncio que raia a cumplicidade”, disse.

O padre Tshimanga condenou também “os meios de comunicação social que permanecem em silêncio sobre o que está a acontecer na RDC ou que distorcem a verdade revelada pelas investigações”.

(Imagem de destaque: Uma família deslocada sentada em frente ao seu abrigo improvisado em Goma, província de Kivu do Norte, República Democrática do Congo. © Unicef/Jospin Benekire )



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