
"Ato hediondo de violência"
Clara Raimundo | 19/02/2025
Setenta pessoas foram encontradas decapitadas no interior de uma igreja protestante de uma aldeia no nordeste da República Democrática do Congo (RDC), denunciou esta quarta-feira, 19 de fevereiro, a organização Open Doors. Suspeita-se que o massacre tenha sido perpetrado por militares das Forças Democráticas Aliadas (ADF, na sigla em inglês), que prosseguem o seu ataque a comunidades vulneráveis naquela região.
De acordo com parceiros da Open Doors no terreno, ao mesmo tempo que as atenções estão concentradas nos avanços dos rebeldes do M23, registaram-se nos últimos dias vários ataques atribuídos às ADF, que mantêm ligações ao chamado Estado Islâmico.
Um desses ataques aconteceu na madrugada da última quinta-feira, 13 de fevereiro, na aldeia de Mayba, no território de Lubero, segundo relata a Open Doors UK. Os militares exigiram que os moradores, maioritariamente cristãos, deixassem as suas casas silenciosamente, tendo sequestrado inicialmente 20 pessoas. Mais tarde, quando a comunidade tentou organizar um resgate, os agressores regressaram e capturaram outras 50 pessoas.
Os 70 reféns – que incluíam mulheres, crianças e idosos – foram então levados para a igreja, onde ficaram presos durante dois ou três dias, e depois foram mortos.
Muhindo Musunzi, diretor de uma escola primária na região, contou à organização internacional de defesa dos cristãos perseguidos que, já antes deste incidente, igrejas, escolas e centros de saúde tinham fechado as suas portas, devido à insegurança crescente. Fontes no terreno relataram que, até esta terça-feira, 18 de fevereiro, algumas famílias não haviam conseguido enterrar os seus mortos por causa do medo de novos ataques. Muitos cristãos estão em fuga.
“A Open Doors condena veementemente este ato hediondo de violência e apela às sociedades civis, governos e organizações internacionais para que priorizem a proteção dos civis no leste da República Democrática do Congo, onde grupos armados, como as ADF, estão operar”, diz John Samuel, especialista jurídico da Open Doors para o trabalho na África Subsaariana.
“A violência acontece num contexto de impunidade, onde quase ninguém é responsabilizado”, continua o representante da ONG. “Este massacre é um indicador claro de violações generalizadas de direitos humanos contra civis e comunidades vulneráveis, frequentemente visando cristãos, perpetradas pelas ADF.”
“Apelamos ainda à comunidade cristã internacional para que permaneça em oração pelos cristãos e comunidades vulneráveis no leste da RDC”, acrescenta John Samuel. “Orem pelo fim da violência e para que o Governo a todos os níveis aborde a violência e os seus efeitos de forma diligente, imparcial e transparente. Orem pela igreja em Lubero enquanto ela busca levar assistência física e espiritual às famílias afetadas”, conclui.
(Imagem de destaque: Mulheres rezam numa igreja Metodista Unida em Kananga, República Democrática do Congo. © Paul Jeffrey/Life on Earth)
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