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sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Rota das Catedrais vai ser relançada e já há muitas ideias

7MARGENS antecipa plano

 | 17 Out 2024

Carranca de órgão; 1749, autor desconhecido; prov. Catedral da Guarda; peça exibida em 2018 na exposição Na Rota das Catedrais: Construções (d)e Identidades, de 2018. Foto © Manuel Costa/Agência Ecclesia.

O projecto da Rota das Catedrais, iniciado em 2009 com um protocolo celebrado entre a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e o Estado, e interrompido praticamente desde há seis anos, vai ser retomado com múltiplas iniciativas, soube o 7MARGENS em primeira mão.

Carla Varela Fernandes, chefe de divisão para a Rota das Catedrais do Património Cultural-Instituto Público, estará nesta sexta-feira, 18 de Outubro, a participar nas primeiras Jornadas da Pastoral dos Bens Culturais da Igreja, que decorrem em Leiria, a partir das 9h. Na parte final dos trabalhos, Carla Varela Fernandes irá fazer o ponto de situação do projecto e referir as linhas estratégicas do novo plano de acção.

A última iniciativa da anterior fase da Rota das Catedrais foi a realização da exposição Na Rota das Catedrais: Construções (d)e Identidades, no Palácio da Ajuda em 2018 [ver 7MARGENS].

Mas essa mostra, que pretendia ser uma síntese do caminho já feito, acabou por antecipar o quase abandono do projecto.

Agora, o programa de iniciativas passará pela celebração de um novo protocolo, tendo em conta a mudança de designação da tutela estatal desta área, que estava nas direcções regionais de Cultura, entretanto extintas. Este passo será formalizado entre a CEP, através do Secretariado Nacional dos Benc Culturais da Igreja (SNBCI) e o Património Cultural-Instituto Público (PC-IP). Depois, está prevista a celebração de protocolos individuais com cada uma das 26 catedrais envolvidas no projecto – além das 20 diocesanas, também as concatedrais de Castelo Branco e de Miranda, antigas sés como Elvas e Silves, ou novas catedrais que substituíram as antigas como em Coimbra e Bragança.

Sobre este relançamento do projecto, a actual directora do SNBCI, Fátima Eusébio, afirma ao 7MARGENS: “Encaro-O com grande satisfação, porque considero ser um projeto estratégico para as Catedrais, que constituem um património de referência, pela sua história, património e simbolismos na comunicação de Deus à humanidade.”

As linhas de acção já esboçadas prevêem que daqui a cerca de um ano se possa realizar um congresso, que poderá ser o primeiro de vários, sobre temas específicos. No caso do primeiro, a par do relançamento da Rota, pode vir a ser aprofundado o que esteve na origem dos planos de arquitectura, explica Carla Varela Fernandes.

Fruta para São Geraldo e outras descobertas

Lampadários, séc. XVIII, autor desconhecido; prov. Catedral de Faro; peça exibida em 2018 na exposição Na Rota das Catedrais: Construções (d)e Identidades, de 2018. Foto © Manuel Costa/Agência Ecclesia.

Outros pontos importantes para os próximos tempos serão a edição de várias publicações como guias, folhetos, textos e livros, todos com uma linguagem gráfica comum que seja identificadora das 26 catedrais; a ligação às universidades; a criação de um novo site na internet, ligado ao do PC-IP; a realização de campanhas fotográficas e a publicação de estudos, entre outras iniciativas.

A par dessas, o PC-IP pretende colaborar com a programação cultural (e também litúrgica, em alguns casos) das próprias catedrais. Concertos e exposições cabem neste campo, mas Carla Fernandes dá um exemplo: no próximo dia 5 de Dezembro, na sé de Braga, o altar de São Geraldo será decorado só com fruta, que recorda um milagre que o santo teria feito, de acordo com a tradição.

“Cada vez que vou a uma catedral, vou descobrindo muita coisa”, confirma a responsável, que é historiadora de arte e professora, dedicada particularmente à Idade Média. E outras ideias que já existem são a criação efectiva de rotas – “por exemplo um percurso entre as catedrais às quais se pode chegar de comboio” – ou o “passaporte das catedrais”.

Para o próximo ano, a chefe de divisão da Rota das Catedrais prevê que se possa iniciar a publicação de estudos da autoria de especialistas, e pequenos guias desdobráveis de cada edifício. “Paulatinamente queremos iniciar a publicação de monografias”, afirma, que serão publicadas em português e inglês, e que pretenderão reunir “tudo o que se tem investigado nas últimas décadas”. Está muito por fazer, diz Carla Fernandes, sobretudo na perspectiva da musealização.

A responsável do PC-IP insiste em que se trata de retomar “várias linhas estratégicas que vinham de trás, tomar o pulso das necessidades e promover eventuais obras de conservação e restauro”. Tudo com o objectivo de “tornar as catedrais acessíveis às pessoas”, já que aquelas são um “património absolutamente central das cidades, o monumento por excelência do mundo urbano”.

Para tornar operacional este conjunto de ideias, haverá uma pequena equipa de pessoas em Lisboa e Porto. Carla Fernandes prevê que, no início, a maior parte das acções sejam destinadas às 13 catedrais que estão na dependência do PC-IP. Ou seja: Braga, Miranda do Douro, Vila Real, Porto, Lamego, Guarda, Viseu, Coimbra (Sé Velha e Sé Nova), Santarém, Lisboa, Elvas e Évora. Mas nenhuma ficará de fora. Pelo contrário: a Rota poderá incluir também não só as catedrais, mas ainda igrejas afectas ao instituto público e que estejam nas imediações daquelas, de modo a promover a sua integração em programas culturais.

A Rota das Catedrais “não quer ser só o SOS das catedrais – isso é o principal, mas a par disso deve desenvolver um conjunto de iniciativas que aproxime as pessoas desse património”. Sejam as pessoas, acrescenta Carla Varela Fernandes, “crentes ou não-crentes”, porque as catedrais são “lugares de acolhimento, de refúgio, abrigo, fé e esperança”, para todas as pessoas.

 

Relevância do património para a evangelização

João Peculiar, 5º arcebispo de Braga; séc. XII, autor desconhecido; prov. Igreja paroquial de São Pedro de Rates (Póvoa de Varzim); peça exibida na exposição Na Rota das Catedrais: Construções (d)e Identidades, de 2018. Foto © Manuel Costa/Agência Ecclesia.

Na sua intervenção nas Jornadas desta sexta-feira em Leiria, a responsável do PC-IP fará um historial do projecto até à sua fase actual e à opção da nova direcção do Instituto, liderada por João Soalheiro, de retomar o projecto. Soalheiro tinha estado, aliás, do lado da Igreja, na fase inicial da Rita das Catedrais.

Estas jornadas inserem-se na comemoração do Dia Nacional dos Bens Culturais da Igreja, que é celebrado anualmente a 18 de Outubro, dia de S. Lucas, padroeiro dos artistas, por iniciativa do Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja (SNBCI), com o objectivo de “evidenciar a relevância do património da Igreja Católica no contexto da pastoral, da evangelização, do conhecimento histórico e patrimonial, da educação, da criação artística, da cultura e do turismo”. O Dia Nacional pretende ainda ser uma ocasião de “partilhar as melhores práticas de salvaguarda e de valorização desse património”. Estas primeiras jornadas centram-se na apresentação e debate dos principais desafios que se colocam na actualidade à Igreja na área dos bens culturais.

O programa prevê uma intervenção da maltesa Giulia Priviteli, da Rede Internacional PedrasVivas, sobre Adorning, Adoring, A-door-rings: Living Stones and a sense of missio (um jogo de palavras em inglês para dizer: “adornar, adorar, uma porta que toca: pedras vivas e um sentido de missão”). Historiadora de arte, especializada em Teologia e Artes, Giulia Priviteli foi responsável da comunidade residencial “Pedras Vivas” em Amesterdão, e da “Implantatio Ecclesiae”, projecto que reanimou o trabalho dos jovens de uma das igrejas centrais de capital neerlandesa.

Outros intervenientes nas jornadas serão Sandra Maria do Vale, directora do Tombo Diocesano Monsenhor José de Castro (arquivo central da Diocese de Bragança-Miranda), um caso exemplar de tratamento de arquivos históricos das dioceses em Portugal; a conservadora-restauradora Eva Raquel Neves, que tem dirigido o Museu Diocesano de Santarém, distinguido nos últimos anos com vários prémios; Maria Isabel Roque, que integrou o comissariado do pavilhão da Santa Sé na Expo 98 e é autora do blogue A.Muse.Arte; Graça Maria Nóbrega Alves, diretora de vários serviços de museus e centros culturais e, desde há um ano, responsável do Museu de Arte Sacra do Funchal, e o padre Joaquim Félix de Carvalho, da equipa de formação do Seminário de Braga e dinamizador da construção das Capela da Imaculada e Capela Árvore da Vida, que receberam já vários prémios.

Menino Jesus da Cartolinha; séc. XVII, autor desconhecido, prov. Catedral de Miranda do Douro; peça exibida em 2018 na exposição Na Rota das Catedrais: Construções (d)e Identidades, de 2018. Foto © Manuel Costa/Agência Ecclesia.

Depois das Jornadas, que se concluem com uma visita guiada à exposição Corpus – Ritualidade, Forma e Presença (dirigida por Marco Daniel Duarte, do Departamento do Património Cultural da Diocese de Leiria-Fátima), o SNBCI promove o V conselho nacional dos Bens Culturais da Igreja. Esta reunião de delegados das dioceses portuguesas tinha sido interrompida em 2013. Fátima Eusébio, actual directora do Secretariado, sublinha a importância da sua realização, de modo a permitir “aferir o ponto de situação nos vários âmbitos” de actividade desta área e possibilitar a troca de experiências e a programação de acções para melhorar o que existe. O conselho iniciar-se-á com a apresentação dos resultados de um inquérito nacional, sobre o qual o 7MARGENS dará informações mais detalhadas até final do dia desta sexta-feira.


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