Entregue a 10 de dezembro
Jorge Wemans | 11 Out 2024
Na sua declaração o comité fundamenta a atribuição do prémio pelos “esforços [da Niohn Hidankyo] para alcançar um mundo livre de armas nucleares e por demonstrar através de depoimentos de testemunhas que as armas nucleares nunca devem ser novamente utilizadas”. Estes esforços contribuíram de forma dramática para a “tomada de consciência sobre as consequências humanitárias catastróficas da utilização de armas nucleares” e para o desenvolvimento de “uma norma internacional poderosa, estigmatizando a utilização de armas nucleares como moralmente inaceitável”, norma que “ficou conhecida como o tabu nuclear”.
Os sobreviventes do bombardeamento atómico são conhecidos como hibakusha e “embora tenham sobrevivido aos efeitos imediatos das explosões, sofreram os efeitos da doença da radiação, da perda de familiares e amigos e da discriminação”, lê-se no sítio do escritório das Nações Unidas para o desarmamento que reconhece: “Apesar das suas dificuldades, muitos hibakusha têm sido exemplos brilhantes de como transformar as suas tragédias pessoais numa luta para promover a paz e criar um mundo livre de armas nucleares”.
“Os hibakusha – escreve o Comité Nobel norueguês – ajudam-nos, através do seu testemunho e das suas histórias pessoais, a descrever o indescritível, a pensar o impensável e a compreender de alguma forma a dor e o inimaginável sofrimento causados pelas armas nucleares”. Apesar destes esforços para banir da face da terra o armamento nuclear e do “facto encorajador de nenhuma arma nuclear ter sido utilizada na guerra em quase 80 anos”, o mesmo comité reconhece ser “alarmante que hoje o tabu contra a utilização de armas nucleares esteja sob pressão”.
Os casos dessa pressão são detalhados com exemplos: “as potências nucleares estão a modernizar e a melhorar os seus arsenais; novos países parecem estar a preparar-se para adquirir armas nucleares; e estão a ser feitas ameaças de utilização de armas nucleares em guerras em curso”, constituindo esta última afirmação uma clara alusão às repetidas ameaças de Vladimir Putin a propósito da resistência ucraniana à invasão russa.
Gaza, a nova Hiroshima
Em agosto de 2025 perfazem-se 80 anos do bombardeamento atómico que matou de forma instantânea cerca de 170 mil habitantes em Hiroshima e uns dias depois em Nagasaki. Nos meses e anos que se seguiram, outras 120 mil pessoas morreram por causa dos efeitos a longo prazo das radiações. Oito décadas depois, “as armas nucleares atuais têm um poder destrutivo muito maior” e “podem matar milhões e impactar catastroficamente o clima”, numa frase, resume o Comité Nobel norueguês: “Uma guerra nuclear poderia destruir a nossa civilização.”
“Um dia, os hibakusha não estarão mais entre nós como testemunhas da história” lembra o comunicado, “mas com uma forte cultura de memória e compromisso contínuo, as novas gerações no Japão estão a projetar no futuro a experiência e a mensagem dos sobreviventes”.
Toshiyuki Mimaki, de 81 anos de idade, hibakusha e um dos líderes da Nihon Hidankyo, disse aos jornalistas, em Hiroxima, pouco depois de ter tido conhecimento da atribuição do prémio, que “nunca tinha sequer sonhado que isto podia acontecer”. Mimaki considerou que a situação atual na Faixa de Gaza, provocada pelos planos genocidas de Israel, é semelhante à do Japão devastado pelas bombas atómicas no final da Segunda Guerra Mundial: “Em Gaza, (os pais) tomam nos seus braços as crianças ensanguentadas. É como no Japão há 80 anos.”
Mimaki acrescentou ainda que a ideia de que as armas nucleares trazem a paz é uma falácia: “Foi dito que graças às armas nucleares o mundo mantém a paz. Porém, as armas nucleares podem ser usadas por terroristas.” “Por exemplo – insistiu –, se a Rússia as usar contra a Ucrânia, ou Israel contra Gaza, não terminará aí. Os políticos deveriam saber estas coisas.”
Para além destas duas guerras, a atualidade do desarmamento nuclear tem ressurgido no espaço asiático devido quer ao agudizar da tensão entre a Coreia do Norte e o seu vizinho do Sul quer à insistência da República Popular da China em recuperar Taiwan para o seu domínio.
Entre as 286 candidaturas recebidas este ano pelo comité norueguês (197 individuais e 89 contemplando organizações), teriam estado, a confirmarem-se rumores publicados em diversos media, o Papa Francisco e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
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