Recentemente, no Hospital de Torres Vedras, um doente que se encontrava internado, ficou infectado com Covid-19.
Foi solicitada, pelo próprio e seus familiares, assistência religiosa, que lhe foi impossibilitada pela Direcção do Hospital, apesar da disponibilidade do Capelão, com o argumento de estar internado numa área Covid-19.
O doente morreu, passadas 24h.
Acontecimento lamentável.
Não está na Constituição a consagração da Assistência Religiosa nos hospitais?
Aonde está o risco, a não ser eventualmente para o sacerdote, se cumprir, tal como em outros serviços hospitalares específicos, as medidas de protecção implementadas?
Já não é essa a prática habitual?
A preocupação só com o corpo, sem respeitarmos as outras vertentes da pessoa, não parece ser uma visão humana, em cuidados de saúde.
A necessária implementação de procedimentos organizativos, não deve impedir a flexibilidade que se coaduna com a especificidade de cada situação e da pessoa doente.
Teria sido tão simples, sacerdote disponível, acesso autorizado e controlado, cuidados de protecção requeridos e supervisionados, 15 minutos, doente em paz, família em paz e todos agradecidos.
Outros pormenores terão existido, outras justificações também.
Situações diversas acontecem nos serviços de saúde, mas a componente adaptativa da comunicação entre a instituição e os seus utilizadores, tem muitas vezes aspectos de excessiva rigidez e imensa insensibilidade, originando níveis altos de conflituosidade, estatisticamente confirmados.
Mudanças estruturais e normativas implementadas, repercutem-se negativamente na orgânica do funcionamento dos serviços e particularmente na dinâmica dos profissionais de saúde.
Constata-se mais recentemente, a imposição de exigências inatingíveis aos profissionais de saúde extravasando competências, burocratizando as suas funções, originando estados de exaustão e prejudicando o seu desempenho, como estudos recentes vêm provando.
A particularidade desta política de saúde, orientada ou desorientada, para a sexualidade, o aborto, a identidade de género, a eutanásia, as dependências e terapêuticas não convencionais, implementada e com visível conotação ideológica, militantemente agressiva, economicamente apoiada, onde tudo, organização, estruturas e profissionais, estão sujeitos aos planos delineados para atingir os seus objectivos, não havendo investimento equitativo em outras áreas, onde são notórias graves falhas em incumprimento de planos de assistência em consultas, cirurgias e exames complementares de diagnóstico, num desrespeito total pelos prazos mínimos exigidos, realidade continuadamente noticiada.
Outra originalidade, é a justificação com argumentos científicos e técnicos, aparentemente tão credíveis como voláteis, de orientações e imposições condicionadoras do desempenho profissional e dos objectivos a alcançar.
A arrastada desorganização dos serviços de saúde, onde regularmente acontecem situações inaceitáveis, não pode ser imputada aos profissionais de saúde, como se procura reportar, usando argumentações e insinuações mediáticas elaboradas, com um descaramento facilmente detectado, originando reações extremas de indignação com pedidos de demissão dos seus responsáveis.
Casos concretos, são do domínio público, mais ou menos recentes, situações graves incompreensíveis, com consequências reais e morais, muitas vezes irreparáveis, na vida das pessoas.
Acontecimentos extremos, que não devem deixar insensíveis os intervenientes, uns procurando melhorar a sua eficácia num enorme respeito pela pessoa doente que sofre, nos pede ajuda e em nós confia, outros tentando perdoar.
Aconteceu em Torres Vedras, podia ter acontecido em qualquer outra instituição, sendo nós ou alguém como nós os intervenientes.
Muitas mudanças foram feitas, outras estão em curso e outras estarão para serem concretizadas, sem termos a noção das suas verdadeiras implicações.
A matriz ideológica implementada subjacente a uma política de saúde, não pode condicionar a liberdade individual, dentro das boas práticas, essência da relação dos profissionais com a natureza da sua profissão, com o outro e com o doente, vendo-os com outros olhos e sentindo-os com outro coração, pelo que em tempos, como os actuais, é necessário uma maior mobilização participativa, em conjunto com os utilizadores dos serviços de saúde, contribuindo para a dignificação dos profissionais, da pessoa doente e das instituições.
Exigência moral de uma participação cívica.
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