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segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

O pecado de crer e rezar



domingo, 16 de dezembro de 2018



Os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (VII)

Crer em Deus continua a ser razão para se ser perseguido em muitos sítios do mundo

Texto de Fernando Sousa
Ilustração © Cristina Sampaio

A liberdade de professar uma religião, ou até a de mudar dela, é um dos direitos da Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada há 70 anos – artigo 18. Mas é também um dos menos respeitados, como o lembrou ainda há pouco o caso da paquistanesa condenada à morte por blafémia – e entretanto absolvida. 

Asia Bibi, uma cristã, apanhava fruta com outras mulheres em Sheikhupura, em Junho de 2009, quando bebeu água de um poço com um copo que as companheiras recusaram depois usar por ter ficado “impuro”. Discutiram e Asia teria proferido três vezes palavras insultuosas para com o profeta Maomé, acusação que ela negou sempre. Depois presa, foi julgada por blasfémia e condenada à morte. No fim de Outubro foi absolvida em sede de recurso e no meio de enormes protestos internacionaisenvolvendo o próprio Papa Francisco

O caso passou-se no Paquistão mas poderia ter acontecido noutro lado qualquer onde a liberdade de religião é uma mentira ou não existe. De acordo com a organização Ajuda à Igreja que Sofre, a liberdade religiosa deteriorou-se entre Junho de 2016 e Junho de 2018 em 18 dos 38 países onde as violações desse direito são mais graves. Os casos piores ocorreram na China e na Índia. Mas a Coreia do Norte, a Arábia Saudita, o Iémen e a Eritreia juntaram-se-lhes. A intolerância marcou em particular a situação na Rússia e no Quirguistão. 

Outros sinais preocupantes: agravou-se o nacionalismo hostil às minorias; avolumaram-se provas de maior indiferença em relação a minorias religiosas vulneráveis; governos e média fizeram, e fazem, vista grossa à queda da liberdade religiosa mais interessados noutros direitos como as questões de género, sexualidade e raça; a assistência às minorias tem sido mais e mais esquecida pelas autoridades; o sucesso das campanhas militares contra o Daesh ofuscou a propagação de movimentos islamistas em vários territórios de África, Médio Oriente e Ásia; o conflito entre sunitas e xiitas alimentou o extremismo; a islamofobia aumentou em parte devido aos fluxos migratórios; recrudesceram os ataques extremistas na Europa e noutras partes do Ocidente motivados por exemplo pelo ódio religioso; agravou-se o antisemitismo fazendo aumentar o número de judeus em fuga para Israel. 

Um acentuado declínio da violência do Al Shabaab tirou a Tanzânia e o Quénia da lista de países onde havia “perseguição”. Mas a boa notícia não aliviou o panorama da opressão religiosa mundial. 




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