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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Taizé (finalmente) em Madrid: não esquecer a hospitalidade



quinta-feira, 27 de dezembro de 2018




Texto de António Marujo

Igreja da Reconciliação, em Taizé: a partir desta sexta-feira, a comunidade muda-se para Madrid  (foto reproduzida daqui)

A partir desta sexta-feira, 28, a comunidade monástica ecuménica de Taizé anima em Madrid o seu encontro europeu da peregrinação de confiança sobre a Terra, designação dada às iniciativas que reúnem jovens de diferentes origens e proveniências. A capital espanhola acolhe deste modo, pela primeira vez, tal iniciativa, depois de Barcelona (1979, 1985 e 2000), Lisboa (2004) e Valência (2015).  

Nesta última cidade está, aliás, a chave para perceber a escolha de Madrid: quando era bispo da capital valenciana, o actual arcebispo de Madrid, Carlos Osoro Sierra, convidou a comunidade a animar o encontro do final de ano de 2015 em Valência. 

Um ano e meio antes, em Agosto de 2014, já com a decisão tomada, o Papa nomeou Carlos Osoro como arcebispo de Madrid. Esta escolha já não permitiu que fosse ele a acolher a comunidade em Valência, mas o seu sucessor, Antonio Cañizares Llovera. É fácil perceber que o entretanto nomeado cardeal Osoro não perdeu tempo a convidar de novo a comunidade, desta vez para Madrid, onde o encontro nunca se tinha realizado. 

Numa nota de imprensa, a comunidade de Taizé destaca que Madrid “já foi palco de importantes encontros, eventos internacionais e acordos de paz” e que, por isso, este encontro será enriquecido “pelos valores de solidariedade que os habitantes e instituições de Madrid gostam de partilhar”. 

Até ao próximo dia de Ano Novo, os mais de 20 mil participantes que entretanto estão a chegar à capital espanhola são acolhidos por milhares de famílias ou em instituições eclesiais de 170 paróquias. Entre eles, estarão várias centenas de portugueses, e ainda 3500 polacos e mais de 2000 ucranianos. Há duas semanas, aindafaltavam oito mil lugaresmas a disponibilidade para acolher os jovens aparece sempre, em cima da hora. 

O encontro inicia-se na tarde desta sexta-feira, com uma oração comunitária às 19h30 (menos uma hora em Lisboa), no pavilhão 4 da Feira Internacional de Madrid (Ifema). Sábado, domingo e segunda, os jovens reúnem-se no mesmo lugar, sempre às 19h30. De manhã, os jovens participam em debates por pequenos grupos nas paróquias da cidade, centrados no tema “Não esqueçamos a hospitalidade!”, proposto pelo irmão Aloïs, prior da comunidade, na carta que orientará a reflexão dos jovens que irão a Taizédurante o próximo ano

Descobrir em Deus a fonte da hospitalidade, estar atentos à presença de Cristo na vida de cada pessoa, acolher os próprios dons e limitações, encontrar na comunidade da Igreja um lugar de amizade e ser generoso(a) na hospitalidade são as propostas da carta para os jovens concretizarem. “No meio das dificuldades actuais, quando muitas vezes a desconfiança parece ganhar terreno, teremos juntos a coragem de viver a hospitalidade e, assim, aumentar a confiança?”, pergunta o prior de Taizé. 

Nas tardes de sábado e domingo, depois de um tempo de oração às 13, em diferentes igrejas da cidade, é a vez de ateliês temáticos, sobre economia, política, arte, refugiados, oração, música, paz, desporto, tráfico de pessoas, ecologia,... Testemunhos de acolhimento a pessoas sem-abrigo (como os Mensajeros de la Paz), de visitadores de presos ou de integração de pessoas com deficiência, e ainda visitas temáticas ao Museu do Prado e ao Centro de Arte Reina Sofia são algumas das experiências que os jovens poderão fazer. 

Depois da última oração comunitária, dia 31, os jovens são convidados a fazer uma festa de passagem de ano nas diferentes paróquias onde estão alojados, com contributos de todos os países representados. No dia 1, depois de almoçar com as famílias de acolhimento, regressam aos seus países. 

Várias mensagens foram recebidas para o encontro. António Guterres, secretário-geral da ONU, recorda o facto de ele próprio ter participado em iniciativas de Taizé quando era jovem estudante, dizendo que guarda “vivas recordações do espírito ecuménico” que as caracteriza. “Vocês reúnem-se numa época de desafios e incertezas perante a mudança climática, os conflitos, as desigualdades crescentes e a intolerância que aumenta”, escreve. E acrescenta: Mas é também um tempo de oportunidades, com os ventos de esperança que sopram no mundo inteiro, nomeadamente a adopção recente do pacto mundial sobre as migrações e os resultados positivos da conferência sobre o clima, na Polónia.”

Também o Papa Francisco, o patriarca ortodoxo Bartolomeu, o secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas e a presidente da Câmara de Madrid enviaram mensagens aos participantes. 

Na nota de imprensa referida, a comunidade recorda os enormes desafios logísticos de uma iniciativa deste género: cerca de 800 voluntários estarão em Madrid com dois dias de antecedência para garantir os preparativos finais; nesta sexta-feira, dia 28, haverá 250 autocarros a chegar a Madrid, idos de toda a Europa; serão servidas 45000 porções de comida quente, 7,5 toneladas de pão, 39 mil laranjas e 95 mil tangerinas.



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