Há alguns dias em amena conversa
com uma criança que me questionava em que consistiam as “linhas” no rosto de um
idoso. Fiquei a meditar um pouco na resposta a dar. Veio-me ao pensamento
referir-lhe que significavam os sinais dos anos a passar, ou seja, cada “linha”
evidenciava uma história de vida, refletia um momento vivenciado: as alegrias,
as tristezas, os sacrifícios, o trabalho, as preocupações e muito amor dado e
recebido. Então, respondeu-me alegremente que uma pessoa idosa com muitas
“linhas” possui muitas histórias para contar. É verdade, respondi-lhe. Podes
sempre aproveitar os conhecimentos, as experiências, as histórias de vida, de
alguém com mais idade, que já passou por muitas situações diferentes, ao longo
da sua vida. Têm uma história de vida muito rica, que podem transmitir aos mais
jovens, enquanto experiência vivida, através dos tempos, que engloba várias
gerações. Por exemplo, as bisavós, os avós, os pais, os filhos, os netos…
Dependendo da idade, face a uma esperança média de vida cada vez maior, podem
ter acompanhado cinco gerações. Assistiram a vários nascimentos, batismos,
casamentos, outros sacramentos, aniversários, viajaram…, ou seja, são os fiéis
depositários das histórias de vida de uma família, com o encanto e a doçura das
rugas, verdadeiramente acarinhados pelos seus membros. A criança perante esta
explicação exclamou: “O que importa é ser bonito interiormente, ter um coração
grande, com muito amor para dar e receber também. Eu gosto das ‘linhas’ dos
mais velhos”.
E as rugas constituem ocasião
para a narrativa deste artigo já que se aproxima a passos largos a 9ª Sessão de
trabalho do “Open-ended Working Group on
Ageing”, grupo que tem como objetivo fortalecer a proteção dos direitos
humanos das pessoas idosas. Este grupo foi estabelecido pela Assembleia-geral
das Nações Unidas, resolução 65/182 de Dezembro de 2010. O Grupo de trabalho
analisa o quadro internacional existente dos direitos humanos das pessoas
idosas e identifica possíveis lacunas bem como o melhor modo de as corrigir,
inclusivamente, considerando como adequada a criação de instrumentos e medidas
complementares. Esta Sessão, que terá lugar na sede das ONU em Nova Iorque,
entre os dias 23 e 26 de Julho de 2018, em que serão discutidas medidas no
sentido de fortalecer a promoção e a proteção dos direitos humanos e a
dignidade das pessoas idosas: as melhores práticas, as lições que se
aprenderam, possíveis contributos para a criação de um documento legal
multilateral bem como a identificação de áreas e de questões onde uma maior
proteção se torna necessária. Serão identificados três temas chave: Autonomia e
Independência, Cuidados Paliativos e de Longa Duração.
Dos diferentes oradores, destaco
a perita independente sobre os Direitos Humanos das Pessoas Idosas, Rosa Kornfelt-Matte, nomeada pelas Nações
Unidas. Relativamente aos temas a abordar, a Help Age Internacional em
documento redigido por Bridget Sleap aborda
os seguintes tópicos, relativamente ao tema Autonomia e Independência: a falta
de autonomia na velhice; a negação da autonomia às pessoas idosas; a perda de
autonomia na velhice, o que significa a autonomia nas pessoas idosas; a
autonomia e a independência versus os
direitos humanos bem como as seguintes recomendações: o direito à autonomia e à
independência; o direito a um reconhecimento igual perante a lei.
Relativamente aos Cuidados de
Longa Duração abordará: os Cuidados e Apoios disponíveis para as pessoas
idosas, entre os quais, as barreiras encontradas ao aceder aos cuidados e aos
apoios, escolha e controle sobre os cuidados e apoios; cuidados de longo prazo
nos direitos humanos; cuidados e apoios para se viver de forma independente bem
como as recomendações sobre o direito aos cuidados e aos apoios para se viver
de forma independente até que seja possível.
Sobre os Cuidados Paliativos
refere-se aos cuidados paliativos disponíveis para pessoas idosas; barreiras encontradas
no acesso às instituições que prestam os cuidados paliativos; cuidados
paliativos nos direitos humanos; recomendações sobre o direito aos cuidados
paliativos.
Espero ter despertado o interesse
do leitor para esta nobre causa que interessa a todos nós, já que um dia
também, se Deus quiser, seremos idosos, e gostaríamos que os mais novos sentissem
“O Encanto e a Doçura das Rugas”.
Maria Helena Paes |
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