A
Congregação para a Doutrina da Fé
elaborou a Carta Placuit Deo
(Aprouve a Deus), em Sessão Plenária no dia 24 de Janeiro de 2018.
O Papa
Francisco aprovou-a em 16 de Fevereiro e ordenou a sua publicação, a qual teve
lugar em Roma, na Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, no dia 22 de
Fevereiro de 2018, Festa da Cátedra de São Pedro.
Esta Carta dirige-se aos Bispos da Igreja Católica e pretende destacar, na linha da grande
tradição da fé e com especial referência aos ensinamentos do Papa Francisco, sobre
alguns aspectos da salvação cristã que possam ser hoje difíceis de compreender
por causa das recentes transformações culturais do mundo contemporâneo, a qual questiona a confissão de fé cristã,
e proclama Jesus Cristo como o único Salvador de todo o homem e da humanidade
inteira.
O
Santo Padre no seu magistério ordinário, referiu-se muitas vezes a duas
tendências que representam dois desvios, e que se assemelham em alguns aspectos,
a duas antigas heresias: o pelagianismo
e o gnosticismo, perigos perenes de equívocos da fé bíblica, que se
encontram nalgumas tendências e movimentos, em que o homem, radicalmente
autónomo, pretende salvar-se a si mesmo sem reconhecer que ele depende, no mais
profundo do seu ser, de Deus e dos outros. A salvação é então confiada às
forças do indivíduo ou a estruturas meramente humanas, num processo de auto
divinização, um caminho de conhecimento no qual o sujeito se torna consciente
do divino que age nele, apresentando uma salvação meramente interior, fechada
no subjetivismo, rumo aos mistérios de outras divindades. Pretende-se, assim,
libertar a pessoa do corpo e do mundo material, não os reconhecendo como obra
do Criador, deixando o ser humano privado de significado, sem identidade humana
e divina, manipulável segundo os interesses do homem.
Face a estas
tendências ou heresias tão ao jeito duma pseudo-modernidade, a Placuid Deo reafirma que, a salvação
consiste na nossa união com Cristo, que, com a sua Encarnação, Vida, Morte e Ressurreição,
gerou uma nova ordem de relações com o Pai e entre os homens graças ao dom do
seu Espírito, para que possamos unir-nos ao Pai como filhos no Filho, e formar
um só corpo no «primogénito de muitos irmãos».
A
Boa Nova da salvação tem um nome e um rosto: Jesus Cristo, Filho de Deus
Salvador. «No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande
ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um
novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo à Santidade».
Jesus
não se limitou a mostrar-nos o caminho para Deus, isto é, um caminho que
poderemos percorrer por nós mesmos, obedecendo às suas palavras e imitando o
seu exemplo. Cristo, para nos conduzir à
libertação, tornou-se Ele mesmo o caminho: «Eu sou o caminho».
Cristo
é Salvador porque Ele assumiu a nossa humanidade integral e viveu em plenitude
a vida humana, em comunhão com o Pai e com os irmãos. A salvação consiste em
incorporar-se nesta vida de Cristo, recebendo o seu Espírito. Ele é, ao mesmo
tempo, o Salvador e a Salvação, mas o lugar onde recebemos a salvação trazida
por Jesus é a Igreja, comunidade daqueles que, tendo sido incorporados à nova
ordem de relações por Ele criada, podem receber a plenitude do Espírito de
Cristo.
A
mediação salvífica da Igreja, assegura-nos que a salvação não consiste na
auto-realização do indivíduo isolado e, muito menos, na sua fusão interior com
o divino, mas na incorporação numa comunhão de pessoas, que participa na
Igreja, recebe os sacramentos, e assim, purificados do pecado original e de
todo pecado, são chamados a uma nova vida em comunhão com Cristo.
O Papa Francisco
reintroduz este tema, no segundo capítulo da Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, reflectindo
sobre o que ele define como ‘duas falsificações da santidade que poderão
desviar-nos do caminho: o gnosticismo e
o pelagianismo’”. Estas “propostas enganosas” representam um obstáculo ao chamamento
universal à santidade, propondo antigos enganos - pelagiano ou gnóstico: ocultam ou anulam a necessidade da graça de
Cristo, ou esvaziam a dinâmica real e gratuita de sua acção.
O Papa reitera pelo contrário, que a
chamada universal à santidade é dirigida precisamente àqueles que reconhecem
que, em cada passo da vida e da fé, a Graça é sempre necessária. «Aprouve a
Deus na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o
mistério da Sua vontade, segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo
encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da
natureza divina».
Gustavo de Almeida
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