Foi criado, diga-se na realidade,
muito justamente o Dia dos Avós, chamando assim a atenção para a importância do
papel que os avós representam positivamente na vida das crianças e
consequentemente para o bem das famílias e, num sentido mais amplo, para o
bem-estar da humanidade. Que o digam as crianças a quem os avós, muitas vezes,
com algum grau de dificuldade, mas sobretudo com muito amor, empenho, dedicam
tempo e carinho. Transmitem a história da família, as suas vivências e cultura,
com grande disponibilidade para brincarem, levarem e irem buscar à escola,
ajudarem nos trabalhos escolares, ouvir as aventuras e peripécias dos netos,
levarem-nos para férias, ajudarem os filhos nalgum trabalho doméstico e muitas
vezes mesmo financeiramente, ou seja, recriarem-lhes a esperança no futuro. Mas
questiono, se será que são reconhecidos? Há algum tempo, fui acompanhar uma
senhora idosa minha amiga, que deu uma queda na rua, tendo sido levada para um
hospital. Quando soube da situação, já que vivia só, fui buscá-la, tendo-a
reencaminhado, depois de falar com os serviços sociais e encontrado um local
para recuperar, neste caso uma residência assistida no sentido de aí recuperar
da queda. Para a ajudar acompanhei-a numa ambulância. Durante esta viagem
estabeleci diálogo com a técnica de saúde que nos acompanhava e que pensava que
a minha amiga era minha mãe. Foi-me confidenciado por esta técnica de saúde que
fazia o acompanhamento, que antigamente, quando usufruía da companhia e apoio
dos seus pais, a sua vida e do marido era então, bem mais facilitada e
descansada. Com uma enorme saudade partilhou essas vivências. Os seus dois
filhos ainda pequenos ficavam em sua casa. Ia buscá-los ou não, dependendo dos
seus horários laborais que eram por turnos. Quando saia mais tarde ficavam em
casa dos avós que de manhã os levavam ao infantário. Quando permitia irem buscá-los,
vinham já arranjados, com o banho tomado, de pijama e já jantados. Nem se preocupava
muito com o período de férias; as datas festivas tinham lugar em sua casa; na
doença, havia um apoio. Uma lágrima deslizou pelo seu rosto com uma saudade
enorme não só dos pais mas da sua vida de então, com menos preocupações e mais
apoios a vários níveis. Faziam-lhe tanta falta e tinham partido tão
precocemente! Hoje em dia era tudo tão mais difícil. O ordenado de ambos mal
dava para cobrirem as despesas com a educação, o prolongamento dos horários dos
A.T.L., entre outros, inerentes a esta falta sentida. Lamentava não se ter
apercebido nem agradecido ainda em vida o enorme apoio que lhes tinham
concedido. Tranquilizei-a. Certamente os seus pais dariam esse apoio com o
maior gosto, nada esperando em troca. Bastava-lhes a companhia dos netos e
saber que com muito amor se encontravam também a ajudar a filha e o genro. A
minha amiga debilitada, já com mais de 90 anos, que seguia atentamente a
conversa, acrescentou: “Confirmo tudo isso. Os meus pais foram para África e
fiquei entregue aos meus avós. O meu marido também dizia que sentia sempre uma
enorme saudade da sua avó por quem nutria um carinho muito especial.
Infelizmente, não tive descendência, mas reconheço a importância do papel dos
avós”.
Fiquei em silêncio, absorvida nos
meus pensamentos. Vieram-me à memória umas palavras do Papa Francisco que
referiu: “A velhice é uma vocação. Não é ainda, e cada vez mais, o momento de
tirar os remos do barco. Fiquei muito impressionado com o Dia para os Idosos
que fizemos na Praça de S. Pedro. Ouvi histórias de idosos que se desgastavam
pelos outros. É um grande dom para a Igreja a oração dos avós, é mesmo uma
riqueza”. Olivier Clément dizia: “Uma
civilização que não reza é uma civilização onde a velhice não faz mais
sentido”. É algo belo a oração dos idosos. Nós podemos agradecer a Deus pelos
benefícios recebidos para preencher o vazio da ingratidão que o circunda.
Podemos interceder pelas expetativas das novas gerações e da sua dignidade bem
como à memória e aos sacrifícios que os avós passaram. Uma vida sem amor é uma
vida árida. Podemos dizer aos jovens amedrontados que a angústia do futuro pode
ser vencida. Que há mais alegria em dar do que em receber. As palavras dos avós
têm algo de especial para os jovens. E eles sabem isso. As palavras, que a minha
avó me entregou por escrito, no dia da minha ordenação sacerdotal, ainda as
trago comigo no meu breviário. Leio-as e fazem-me bem. Recordo a alegria
transbordante de um abraço entre os jovens e os idosos. Peço esse abraço”.
Termino este artigo com um enorme
reconhecimento, um bem-haja e um hino de louvor aos Avós, que ao longo da
história, entre gerações, têm permitido a construção de um mundo mais justo e
solidário.
Maria Helena Paes |
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