Esta foi a frase que uma amiga comentou com alguma razão quando falávamos sobre a família e que retive porque me fazia muito sentido. Lutamos muitas vezes ingloriamente para exercer algum grau de influência. Mas na família temos sempre uma palavra a dizer. Mesmo que discordem da nossa opinião, ouvem-nos, criticam-nos, contestam, mas ainda assim, num último momento, acabam quase sempre por aceder às nossas solicitações. Nos outros locais nem sempre é assim. Na realidade, a família tem a ver com cada um dos seus membros durante toda a sua vida, ou seja, desde o nascimento até à morte. Crescemos, adquirimos novos conhecimentos através do estudo, da experiência de vida, das relações com a comunidade. Tudo tem influência em nós, mas nós também possuímos esse poder de tentar contribuir para modificar o que consideramos que não está de acordo com o nosso modo de pensar e de agir. Nem sempre conseguimos, mas pelo menos ficamos de consciência tranquila ao tentar. O resto não depende de nós. E estes choques culturais são mais bem compreendidos na família que acompanhou este nosso processo de crescimento.
Há uns dias atrás, sentindo-me
algo nostálgica, resolvi dar um passeio a pé por um lugar de grande beleza, com
muita vida que, de algum modo, me ajudasse a ultrapassar esta inquietude. Fui
até ao Terreiro do Paço. Tanta luminosidade, o rio e o céu muito azuis, tanta
beleza paisagística, humana e cultural. Esta belíssima praça, uma das mais
belas e irresistíveis praças da Europa, repleta de turistas e de esplanadas
fervilhava de vida, de alegria, de descompressão, ajudando-me de algum modo a
encontrar a inspiração que carecia. Precisava de tomar um café. Dirigi-me ao
Martinho da Arcada como se tivesse um encontro marcado, pelo menos era essa a
minha sensação. Esse encontro era com um dos maiores poetas do século XX, ou
seja, Fernando Pessoa que neste local escreveu nos seus últimos anos de vida o
“Livro do Desassossego”, por ironia do destino quem se sentia de momento
“desassossegada” era eu. E, se por acaso Fernando Pessoa que faleceu com 47
anos em 1935, regressasse? O que escreveria, ou será que já escreveu? Vejamos o
que pesquisei: “Sábio é quem monotoniza a existência, pois então cada pequeno
incidente tem um privilégio de maravilha. O caçador de leões não tem aventura
para além do terceiro leão… Quem nunca saiu de Lisboa viaja no infinito até
Benfica, e, se um dia vai a Sintra, sente que viajou até Marte. O viajante que
percorreu toda a terra não encontra de cinco mil milhas em diante, novidade,
porque encontra só coisas novas, outra vez a novidade, a velhice do eterno
novo, mas o conceito abstrato da novidade ficou no mar com a segunda delas”. Será
que esta frase de Fernando Pessoa, quereria significar que esta beleza já
existia e que agora as diferenças faziam apenas parte do progresso
civilizacional? Creio que sim e ainda bem que assim é!
Mas veio-me entretanto ao
pensamento, talvez por analogia, enquanto degustava o meu café e observava a
paisagem, nomeadamente o Rio Tejo, outro poeta não menos famoso, ou seja, Luís
de Camões que faleceu em 1580, e que escreveu o famoso poema: “Mudam-se os
tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo
é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos
novidades diferentes em tudo na esperança, do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem, se algum houve, as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, que
já coberto foi de neve fria, e em mim converge em choro o doce canto, e, afora
este mudar-se cada dia, outra mudança faz de mor espanto, que não se muda já
como soía”.
Este poema fez-me recordar o
terramoto ocorrido em 1755. Nesta bela praça existia então o Paço Real da
Ribeira, mandado erguer pelo rei D. Manuel I, por volta do ano 1500/1505, onde
vivia então o rei e a corte e que ficou completamente destruída. Mandada
reconstruir pelo Marquês de Pombal, todo o conjunto desta fabulosa praça é
considerada Monumento Nacional desde o ano 2010, constituindo hoje em dia a
principal praça de Lisboa e a sua sala de visitas. Como March Bloch referiu: “A incompreensão do presente nasce fatalmente
da ignorância do passado”. Na realidade, temos uma história riquíssima da qual
muito nos orgulhamos e que importa divulgar e aprofundar cada vez mais. Também
no âmbito da família temos sido um exemplo a considerar pela nossa afetividade,
amor aos familiares e ao próximo, espírito de sacrifício…
Termino dando ênfase a que nestas
terras de Santa Maria, Rainha da Família, e sob a sua proteção, a Família
constitua um verdadeiro pilar para todos nós, a todos os níveis.
Maria Helena Paes |
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