Em Maio de 1917, em plena Primeira Grande Guerra
Mundial, Eugénio Pacelli foi nomeado núncio na Baviera, onde trabalhou em prol
da paz e no auxílio às vítimas de guerra, tendo sido o único diplomata a
permanecer em Munique durante o caos que se seguiu à queda da Monarquia e
consequente proclamação da República Bávara.
Três anos mais tarde, ocupou a Nunciatura de Berlim, na República de Weimar,
cargo que manteve até 1929.Depois de ser investido Cardeal, foi designado
Secretário de Estado da Santa Sé. Durante os anos 30, o Cardeal Pacelli
assistiu e assinou concordatas com a Áustria, Alemanha e Jugoslávia, fez
visitas diplomáticas na Europa e América, incluindo uma longa visita aos
Estados Unidos e uma viagem a Buenos Aires, em representação do então Papa, Pio
XI.
Ajudou a preparar a encíclica “Mit brennender Sorge” (1937), na qual Papa Pio XI condenava
a ideologia nazi de forma inequívoca. A encíclica, foi introduzida e divulgada
na Alemanha pelo Cardeal von Galen “O Leão de Münster”, que deste modo arriscou
a sua vida em prol da verdade, pois tudo se passou de forma clandestina, mas já
num ambiente de grande ódio à igreja católica.
Em 1938, Cardeal Pacelli
participou como Legado Apostólico no Congresso Eucarístico Internacional de
Budapeste, evidenciando desde então uma profunda solidariedade para com o povo
húngaro. Em 2 de Março de 1939 foi eleito Papa assumindo o nome de Pio XII.
Prevendo o deflagrar da Segunda Guerra Mundial a sua principal
preocupação foi evitá-la a todo o custo, enviando uma proposta aos governos da
Alemanha, França, Reino Unido e Itália no sentido de evitar a guerra e a 24 de
Agosto, via rádio, fez um forte apelo à paz mundial, “ Tudo está perdido com a
guerra; nada se pode perder com a paz”. Porém, a 30 de Setembro, com a invasão
da Polónia, deu-se início à tragédia tão temida por todos e tão bem tecida pelas
forças de Hitler.
Na sua Encíclica Summus Pontificatus de 20 de Outubro de
1939, abordou o momento trágico da deflagração da segunda Guerra Mundial, reflectindo
em tons “muito escuros”, sobre o mundo contemporâneo, em consequência do
progressivo afastamento de Cristo, o qual redundou numa indigência moral e
espiritual, cujo objectivo era absolutizar os estados, destronar a religião,
negar a unidade do ser humano consignada no Génesis e estabelecer a igualdade
do género humano.
Quanto mais o poder
político afasta Deus do mundo, mais a sociedade fica fragilizada e à mercê dos
caprichos voláteis que estão na base das doutrinas políticas do
nacional-socialismo, do fascismo e do comunismo, presente, ainda que de forma
diferente, no positivismo jurídico que menospreza o Direito Natural. O poder
ilimitado dos Estado prejudica os direitos das famílias e o direito dos pais a
educar os seus filhos nas virtudes morais e religiosas.
O New York Times de 28 de
Outubro de 1939 titulava na sua primeira página: O Papa condena os ditadores,
os violadores de tratados e o racismo.
Incansável defensor da
paz, em todo seu pontificado foi pautado por inúmeros discursos radiofónicos,
mensagens, cartas e contactos. Tudo fez para travar o ímpeto destruidor do
poder nazi, embora sempre recorrendo a uma terminologia diplomática e
reservada, para evitar retaliações e represálias mais violentas sobre os judeus
e cristãos, como aconteceu na Holanda e na Polónia.
Todavia esta aparente reserva nunca significou
passividade. Ele próprio encabeçou uma organização para salvar vidas humanas e
aliviar sofrimentos das populações em conflito, sem distinção de raças ou
credos. Organizou uma vasta rede de caridade, que distribuía roupa, comida e
dinheiro às pessoas em dificuldades, tanto aos militares como aos civis. Dispôs
generosamente do seu património pessoal a favor dos necessitados, assim como de
alguns bens do Vaticano para comprar a liberdade a centenas de judeus presos na
Itália ocupada e esteve sempre disponível para atender a todos que o procuravam,
feridos, famílias, mutilados, abrigando-os
na residência papal de verão, Castel Gandolfo, na qual o seu próprio quarto
pessoal foi usado como maternidade – mais de 40 bebés judeus nasceram lá.
Os esforços do Vaticano em prol dos judeus
foram enormes. Agindo sob ordens directas de Pio XII, a Igreja
escondeu e alimentou milhares de perseguidos. Pinchas Lapide, diplomata
israelita, calculou que Pio XII tenha pessoalmente salvo cerca de
700.000 judeus. Seguindo as
instruções do Papa, muitos padres, monges, freiras, bispos, cardeais e núncios
(entre eles Angelo Roncali, o futuro Papa João XXIII) empenharam-se em esconder
e salvar milhares de vidas. Todos eles dispostos a sofrer para defender as
vidas dos perseguidos.
Em 1945, terminada a Segunda Guerra Mundial, a União
Soviética emergiu como a segunda maior potência mundial, engolindo grande parte
da Europa, cometendo atrocidades sem fim nos países anexados, semeando o
horror, o medo e a fome. A igreja começou logo a ser perseguida, não apenas no
bloco soviético mas também na China popular. Em 1949 foi publicada a encíclica
“Decretum contra Communismum” e mais
tarde Pio XII dirige uma carta ao povo russo – “Carissimis Russiae Populis” – distinguindo
claramente entre russos e comunistas, incentivando os primeiros a resistir pela
fé.
Em 31 de Outubro de 1942, Pio XII tinha
consagrado o mundo ao Imaculado Coração de Maria, mencionando especialmente a
Rússia, segundo um pedido de Nossa Senhora de Fátima e perante tal cenário, dedicou
o seu Pontificado à Virgem Maria. Convocou a Cristandade no Ano Santo de 1950 e
proclamou o dogma sobre a Assunção da Virgem Maria ao Céu.
O magistério de Pio XII foi muito vasto dado a conjuntura
política internacional, o que permitiu enfatizar as suas qualidades morais,
espirituais e intelectuais. Os testemunhos de numerosos expoentes do mundo
judeu, depois da sua morte, ajudam a compreender bem a grandeza deste Papa.
Dentre eles destacamos: Albert Einstein, judeu alemão, Prémio Nobel de
Física; Isaac Herzog,
Gran Rabino da Palestina; Alexander Shafran, Gran Rabino de Bucarest; Juez Joseph
Proskauer, presidente do American Jewish Committee; Giuseppe Nathan, Comissário
da União de Comunidades Israelitas Italianas; A.Leo Kubowitzki, Secretario Geral
do World Jewish Congress; William Rosenwald, presidente de United Jewish Appeal
for Refugees; Eugenio Zolli, Gran Rabino de Roma que se converteu ao
cristianismo em 1945 e foi baptizado com o nome de “Eugenio” em honra de
Eugenio Pacelli, Pío XII; Golda Meier, ministra do Exterior de Israel; Pinchas
E. Lapide, historiador hebreu e cônsul de Israel em Milão; Sir Martin Gilbert,
historiador judeu inglês, especialista no Holocausto e na Segunda Guerra
Mundial; Paolo Mieri, periodista judeu italiano, ex-diretor do “Corriere della
Será e David G. Dalin, rabino de Nova York e historiador.
Contra
estas declarações inequívocas de ilustres judeus, é impossível sustentar as calúnias
contra o Papa Pio XII e se alguém o fizer, será por ignorância histórica ou
pura maldade. As
polémicas surgidas nas últimas décadas sobre o “Papa dos silêncios”, sobretudo
desde 20 de Fevereiro de 196, com a estreia de “O Vigário, uma tragédia cristã’”,
obra dramática de Rolf Hochhuth, não fazem justiça ao Papa dos Judeus.
Também o tão falado livro de John Cornwell “O Papa de
Hitler: a história secreta de Pio XII”, terá sido uma propaganda comunista para
difamar este Papa que tanto se opôs aos totalitarismos do século XX,
aproveitando a oportunidade para difamar também a Igreja e o cristianismo, seus
alvos principais.
Para além de todos os documentos que o podem provar, estas
mentiras foram derrubadas, principalmente, em dois livros: ‘Hitler, a Guerra e
o Papa’, de Ronald Rychlak, e o célebre ‘Pio XII, o Papa dos judeus’, de Andrea
Tornielli.
“Felizes os pacificadores porque serão chamados filhos de
Deus”; “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o
Reino do Céu”.
Maria Susana Mexia |
Sem comentários:
Enviar um comentário