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domingo, 22 de julho de 2018

Pio XII, o Papa que não conseguiram silenciar


Em Maio de 1917, em plena Primeira Grande Guerra Mundial, Eugénio Pacelli foi nomeado núncio na Baviera, onde trabalhou em prol da paz e no auxílio às vítimas de guerra, tendo sido o único diplomata a permanecer em Munique durante o caos que se seguiu à queda da Monarquia e consequente proclamação da República Bávara.

Três anos mais tarde, ocupou a Nunciatura de Berlim, na República de Weimar, cargo que manteve até 1929.Depois de ser investido Cardeal, foi designado Secretário de Estado da Santa Sé. Durante os anos 30, o Cardeal Pacelli assistiu e assinou concordatas com a Áustria, Alemanha e Jugoslávia, fez visitas diplomáticas na Europa e América, incluindo uma longa visita aos Estados Unidos e uma viagem a Buenos Aires, em representação do então Papa, Pio XI.

Ajudou a preparar a encíclica “Mit brennender Sorge” (1937), na qual Papa Pio XI condenava a ideologia nazi de forma inequívoca. A encíclica, foi introduzida e divulgada na Alemanha pelo Cardeal von Galen “O Leão de Münster”, que deste modo arriscou a sua vida em prol da verdade, pois tudo se passou de forma clandestina, mas já num ambiente de grande ódio à igreja católica.

Em 1938, Cardeal Pacelli participou como Legado Apostólico no Congresso Eucarístico Internacional de Budapeste, evidenciando desde então uma profunda solidariedade para com o povo húngaro. Em 2 de Março de 1939 foi eleito Papa assumindo o nome de Pio XII.

Prevendo o deflagrar da Segunda Guerra Mundial a sua principal preocupação foi evitá-la a todo o custo, enviando uma proposta aos governos da Alemanha, França, Reino Unido e Itália no sentido de evitar a guerra e a 24 de Agosto, via rádio, fez um forte apelo à paz mundial, “ Tudo está perdido com a guerra; nada se pode perder com a paz”. Porém, a 30 de Setembro, com a invasão da Polónia, deu-se início à tragédia tão temida por todos e tão bem tecida pelas forças de Hitler.

Na sua Encíclica Summus Pontificatus de 20 de Outubro de 1939, abordou o momento trágico da deflagração da segunda Guerra Mundial, reflectindo em tons “muito escuros”, sobre o mundo contemporâneo, em consequência do progressivo afastamento de Cristo, o qual redundou numa indigência moral e espiritual, cujo objectivo era absolutizar os estados, destronar a religião, negar a unidade do ser humano consignada no Génesis e estabelecer a igualdade do género humano.

Quanto mais o poder político afasta Deus do mundo, mais a sociedade fica fragilizada e à mercê dos caprichos voláteis que estão na base das doutrinas políticas do nacional-socialismo, do fascismo e do comunismo, presente, ainda que de forma diferente, no positivismo jurídico que menospreza o Direito Natural. O poder ilimitado dos Estado prejudica os direitos das famílias e o direito dos pais a educar os seus filhos nas virtudes morais e religiosas.

O New York Times de 28 de Outubro de 1939 titulava na sua primeira página: O Papa condena os ditadores, os violadores de tratados e o racismo.

Incansável defensor da paz, em todo seu pontificado foi pautado por inúmeros discursos radiofónicos, mensagens, cartas e contactos. Tudo fez para travar o ímpeto destruidor do poder nazi, embora sempre recorrendo a uma terminologia diplomática e reservada, para evitar retaliações e represálias mais violentas sobre os judeus e cristãos, como aconteceu na Holanda e na Polónia.

Todavia esta aparente reserva nunca significou passividade. Ele próprio encabeçou uma organização para salvar vidas humanas e aliviar sofrimentos das populações em conflito, sem distinção de raças ou credos. Organizou uma vasta rede de caridade, que distribuía roupa, comida e dinheiro às pessoas em dificuldades, tanto aos militares como aos civis. Dispôs generosamente do seu património pessoal a favor dos necessitados, assim como de alguns bens do Vaticano para comprar a liberdade a centenas de judeus presos na Itália ocupada e esteve sempre disponível para atender a todos que o procuravam, feridos, famílias, mutilados, abrigando-os na residência papal de verão, Castel Gandolfo, na qual o seu próprio quarto pessoal foi usado como maternidade – mais de 40 bebés judeus nasceram lá.
Os esforços do Vaticano em prol dos judeus foram enormes. Agindo sob ordens directas de Pio XII, a Igreja escondeu e alimentou milhares de perseguidos. Pinchas Lapide, diplomata israelita, calculou que Pio XII tenha pessoalmente salvo cerca de 700.000 judeus. Seguindo as instruções do Papa, muitos padres, monges, freiras, bispos, cardeais e núncios (entre eles Angelo Roncali, o futuro Papa João XXIII) empenharam-se em esconder e salvar milhares de vidas. Todos eles dispostos a sofrer para defender as vidas dos perseguidos.
Em 1945, terminada a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética emergiu como a segunda maior potência mundial, engolindo grande parte da Europa, cometendo atrocidades sem fim nos países anexados, semeando o horror, o medo e a fome. A igreja começou logo a ser perseguida, não apenas no bloco soviético mas também na China popular. Em 1949 foi publicada a encíclica “Decretum contra Communismum” e mais tarde Pio XII dirige uma carta ao povo russo – “Carissimis Russiae Populis” – distinguindo claramente entre russos e comunistas, incentivando os primeiros a resistir pela fé.

Em 31 de Outubro de 1942, Pio XII tinha consagrado o mundo ao Imaculado Coração de Maria, mencionando especialmente a Rússia, segundo um pedido de Nossa Senhora de Fátima e perante tal cenário, dedicou o seu Pontificado à Virgem Maria. Convocou a Cristandade no Ano Santo de 1950 e proclamou o dogma sobre a Assunção da Virgem Maria ao Céu.

O magistério de Pio XII foi muito vasto dado a conjuntura política internacional, o que permitiu enfatizar as suas qualidades morais, espirituais e intelectuais. Os testemunhos de numerosos expoentes do mundo judeu, depois da sua morte, ajudam a compreender bem a grandeza deste Papa. Dentre eles destacamos: Albert Einstein, judeu alemão, Prémio Nobel de Física; Isaac Herzog, Gran Rabino da Palestina; Alexander Shafran, Gran Rabino de Bucarest; Juez Joseph Proskauer, presidente do American Jewish Committee; Giuseppe Nathan, Comissário da União de Comunidades Israelitas Italianas; A.Leo Kubowitzki, Secretario Geral do World Jewish Congress; William Rosenwald, presidente de United Jewish Appeal for Refugees; Eugenio Zolli, Gran Rabino de Roma que se converteu ao cristianismo em 1945 e foi baptizado com o nome de “Eugenio” em honra de Eugenio Pacelli, Pío XII; Golda Meier, ministra do Exterior de Israel; Pinchas E. Lapide, historiador hebreu e cônsul de Israel em Milão; Sir Martin Gilbert, historiador judeu inglês, especialista no Holocausto e na Segunda Guerra Mundial; Paolo Mieri, periodista judeu italiano, ex-diretor do “Corriere della Será e David G. Dalin, rabino de Nova York e historiador.

Contra estas declarações inequívocas de ilustres judeus, é impossível sustentar as calúnias contra o Papa Pio XII e se alguém o fizer, será por ignorância histórica ou pura maldade. As polémicas surgidas nas últimas décadas sobre o “Papa dos silêncios”, sobretudo desde 20 de Fevereiro de 196, com a estreia de “O Vigário, uma tragédia cristã’”, obra dramática de Rolf Hochhuth, não fazem justiça ao Papa dos Judeus.

Também o tão falado livro de John Cornwell “O Papa de Hitler: a história secreta de Pio XII”, terá sido uma propaganda comunista para difamar este Papa que tanto se opôs aos totalitarismos do século XX, aproveitando a oportunidade para difamar também a Igreja e o cristianismo, seus alvos principais.

Para além de todos os documentos que o podem provar, estas mentiras foram derrubadas, principalmente, em dois livros: ‘Hitler, a Guerra e o Papa’, de Ronald Rychlak, e o célebre ‘Pio XII, o Papa dos judeus’, de Andrea Tornielli.

“Felizes os pacificadores porque serão chamados filhos de Deus”; “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu”.

Maria Susana Mexia



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