A vida tem destas coisas. Quando
menos esperamos somos confrontados com uma situação inesperada que nos impele a
acompanhar uma criança, neste caso por motivos familiares de saúde menos agradáveis.
Por ironia do destino o mês em causa era precisamente o mês dedicado às
crianças. Num primeiro momento confesso que me senti algo preocupada. Há muito
tempo que não acompanhava com caráter de continuidade uma criança. Mas seria
certamente uma descoberta para ambas, isto porque era uma menina. Comecei por
procurar informar-me sobre atividades próprias para a sua idade, no sentido de
a ocupar e distrair. Questionei igualmente o que gostaria de fazer. Ir ao
cinema era um dos objetivos detetados. Também uma ida à Feira do Livro. Andar
de elétrico. Brincar em diferentes jardins, ir a museus, para além das atividades
escolares finais, festa de fim de ano, entre outros. A primeira prova foi a
Feira do Livro. Fantástico mesmo. Esteve encantada e muito entretida com
diferentes atividades ocupacionais, teatro, jogos, até algodão doce, que me fez
recordar os meus tempos de infância… O difícil mesmo foi retirá-la da feira.
Nem sequer um lanche a convencia. Finalmente, sorridente, com um saco cheio de
livros, deixámos a Feira do Livro. Acabaria vencida pelo cansaço. O certo é que
estou habituada a andar, e aspirava mesmo que a criança se sentisse feliz.
Talvez para compensar um pouco o mau tempo que vivenciava. Como é bom ver uma
criança sorridente, a descobrir o que o mundo tem para lhe oferecer… Os dias
seguintes seriam ainda de aulas, logo a minha tarefa ficava mais facilitada.
Unicamente levá-la e ir buscá-la. Havia que programar o fim-de-semana seguinte.
Felizmente no sábado tinha o seu espetáculo final promovido pela Escola de
Dança do Conservatório Nacional, onde frequentava o ballet. No Auditório Camões iria participar na peça “O Rapaz do
Nariz Comprido” que nos ocuparia todo o dia. De manhã com os ensaios. À tarde
participava em dois espetáculos. Admirei o enorme trabalho desenvolvido com as
crianças com muito profissionalismo visível a diferentes níveis. Gostei da
encenação, do guarda-roupa, do vídeo apresentado. Uma ternura ver a alegria e
um certo nervosismo com que atuavam as crianças, cientes da importância do
papel que desempenhavam e procurando cumpri-lo rigorosamente. E, se alguma
falha havia, esta até dava graça à atuação. Como estava graciosa a criança que eu
acompanhava vestida de tomate! Agora compreendia porque andava sempre a dar
piruetas e a dançar. Já de noite e bem cansadas, regressámos a casa depois de
um dia de muita responsabilidade mas em que tudo, graças a Deus, correu pelo
melhor. O dia seguinte seria bem mais leve, passado num jardim, a colher várias
espécies de flores coloridas, na brincadeira e na partilha, depois de um almoço
em família. E os dias sucederam-se repletos de atividades… Conclui que era mesmo
muito bom poder acompanhar uma criança, usufruir da sua doce companhia, uma
descoberta fantástica. Possuímos muito, mas mesmo muito, para dar e também para
receber!
Também senti muito apoio e
solidariedade de outras pessoas que tendo conhecimento do problema de saúde de
um familiar seu, procuravam também dar o seu contributo, quer seja através da
oração, de uma palavra amiga, ou de um gesto simbólico que muito agradecia.
Exemplo disso e que não quero deixar de enaltecer, foi no dia em que tinha uma
atividade já programada há algum tempo e à qual que não podia faltar de todo,
sendo que nesse dia a criança fazia anos, a família e os amigos apareceram de
surpresa, com um bolo, com flores, com prendas… E assim, num ato revestido de
alguma solenidade, quebrou-se o protocolo, humanizou-se a sessão, acenderam-se
as velas e cantaram-se os parabéns. Foi uma autêntica festa, em que se tornaria
o centro das atenções, tendo ficado para segundo plano a cerimónia e o
protocolo. A seu tempo, far-se-ia outra sessão. Mas este momento era único, especial
e solidário, ou seja, contribuir para que num momento mais difícil da vida de
uma criança, ela pudesse continuar a sorrir e a sonhar com um futuro promissor,
repleto de humanidade, sentindo-se apoiada e acarinhada por todos.
Santa Maria, esperança nossa,
Rainha da Família, roga por todas as crianças do mundo e suas famílias acolhendo-as
sob o teu manto.
Maria Helena Paes |
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