A actividade de pensar confere ao homem "asas" para se mover no mundo e "raízes" para conhecer, avaliar e aprofundar a realidade que o circunda com tudo o que lhe é inerente e lhe está subjacente.
Para Descartes (1596-1650), filósofo francês, a essência do homem é pensar: "Sou uma coisa que pensa, isto é, que duvida, que afirma, que ignora muitas, que ama, que odeia, que quer e não quer, que também imagina e que sente". O acto de pensar torna-nos conscientes da nossa existência, "penso, logo existo."
Porque pensar é necessário e o principal dever ético do homem é pensar bem, torna-se imprescindível arranjar espaço e tempo para o poder fazer.
A nossa sociedade renunciou aberta ou subtilmente a pensar. Quem parar um pouco do frenesim do dia-a-dia, percebe imediatamente que foi vítima do ensurdecedor ruído geral que existe nesta aldeia global: o ipod, o telemóvel, a playstation e a televisão, entre muitos outros, afogaram completamente a nossa disposição e capacidade para exercer o pensamento.
Um dos maiores obstáculos é o excesso de entretenimento e diversão, tudo serve para distrair e divertir, a maioria dos programas televisivos deixaram de ter uma função formativa ou informativa dedicando-se só à evasão pela distracção.
Procurar refúgio nestas ofertas de matar o tempo é uma forma voluntária de escravidão da atenção e o resultado é uma pobreza, um vazio alienante com consecutiva solidão, uma incapacidade de pensar ou exercer atitudes críticas e valorativas sobre o mundo e toda a realidade circundante.
Quando o homem deixa de pensar torna-se superficial, banal, igual aos outros e desprovido de ideias próprias. Os que se limitam a repetir o que ouvem, renunciam a viver a sua vida em primeira mão, resignam-se a uma vida já usada, acomodando-se a um estar em segunda mão, não pensam mas papagueiam o que os outros repetem, sem se darem ao trabalho de parar para tentar perceber a envolvente condicionadora que circula à sua volta.
Mas pensar também dá trabalho e, sobretudo, inquieta, porque constatamos a existência de muitas coisas que não estão bem, necessitam imperiosamente de mudança e isso implica que tenhamos de nos envolver e de nos comprometer com elas indo contracorrente.
Pensar, significa empenhar-se, em dotar de sentido a nossa vida, em articular teoria e prática, ser capaz de expressar a síntese conseguida, exigindo o esforço do empenho e a força necessária à concretização dos nossos ideais e objectivos, que concluímos serem indispensáveis à sociedade.
Porém, deixar de pensar é dar espaço a correntes perigosas, a estilos de vida preocupantes, ao desleixo moral e social, na certeza de que também somos responsáveis pelo que não fizemos, não agimos e deixámos acontecer sabendo que estava errado, permitindo mecanismos perversos de processos manipuladores.
Todos os nossos pensamentos e acções têm uma dimensão universal, um impacto na sociedade com potencial reflexo na felicidade dos outros, pelo que não podem ser um projecto à distância, mas um fazer, hoje, aqui e agora.
A Cidadania constrói-se na relação que o homem tem consigo mesmo e com o seu semelhante, pelo que todo o cidadão se deve empenhar na consecução do bem comum. «Os homens são livres enquanto agem, nem antes, nem depois, pois ser livre e agir são a mesma coisa.» Hannah Arendt.
O que torna um homem, verdadeiramente Homem, na acepção do termo, é a sua inerente faculdade de pensar.
Maria Susana Mexia |
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