Neste Dia Internacional da Mulher faço questão de vos apresentar uma mulher que tem uma vida secreta muito simples e interessante. Apesar de nos conhecermos há uns anos, foi quando os nossos filhos se tornaram amigos que, inevitavelmente, nos aproximámos e ficámos também amigas. A Mafalda é daquelas pessoas com quem se está bem, muito segura, senhora do seu nariz, percebe-se que agarra tudo na vida com garra, sabedoria e muita elegância.
É casada, tem 5 filhos e é professora de Marketing. Pedi-lhe para olhar para trás e para me contar como tudo na vida dela começou. Confidenciou-me que quando recorda os seus planos de há 30 anos, não se reconhece. Dizia que só se casaria lá para os 30 e aos 35 teria filhos. Mas ao contrário disso, apaixonou-se no último ano da Faculdade. Casou-se no seguinte e um ano depois nasceu o primeiro filho. A seguir, grávida do segundo apercebeu-se que a partir dali a família iria ser o centro das suas atenções e esta decisão foi plenamente apoio pelo marido. Entre eles existe uma enorme cumplicidade e tudo na sua vida foi sempre procurado e concretizado a dois.
Naquela altura ela trabalhava como relações públicas, tinha um horário horrível, mas uma carreira promissora pela frente. Chegava tarde a casa e conta que um dia, quando estava a dar banho ao filho, ele disse-lhe - “mãe não é assim que se dá banho, quem sabe dar banho é o pai.” Muito simples, mas foi o ponto de viragem para uma das decisões mais importantes da sua carreira. Deixar de trabalhar e ficou a tratar dos filhos. Despediu a empregada, reestruturou toda a sua vida de modo caber dentro dum só ordenado e durante 5 anos, esteve totalmente dedicada à casa e à família.
Impressiona olhá-la e perceber que nada faz adivinhar uma mulher com vocação para ficar confinada ao trabalho da casa e dos filhos, é preciso conhecê-la e perceber que tem um coração grande, que a torna elástica e desprendida dos seus sonhos para conseguir ter um projecto de vida muito mais ambicioso – UMA FAMÍLIA.
Isto significa, conta ela com uma energia contagiante, que sempre tive a noção clara de que a qualquer momento, se a minha família precisasse, voltaria a trabalhar, fosse naquilo que fosse e precisou. Com a mesma naturalidade foi aceitando trabalhos temporários durante 10 anos, secretária e freelancer como assessora de imprensa de uma empresa sediada noutro país. Este trabalho permitia-lhe uma total flexibilidade de horários e trabalhar a partir de casa. A este propósito conta que um dia de visita ao colégio dos filhos, para ver uma exposição sobre as mães, em que todos tinham feito desenhos e explicado a profissão dos pais, no caso dela, constava o seguinte -“o trabalho da minha mãe é falar com uns senhores ao telefone.” – Constrangedor, mas era mesmo.
Naquele período ainda conseguiu fazer um mestrado em Marketing Estratégico e descobriu o gosto por estudar e por ensinar, algo que estava completamente fora dos seus planos de vida iniciais.
Terminado o mestrado, no dia em que foi levantar o seu diploma entregou também a sua candidatura para docente. Uma semana depois recebeu um telefonema da Direcção para começar a trabalhar.
Num destes dias li uma homilia do Papa Francisco, em que falava sobre a mulher: “Nós dizemos que esta é uma sociedade com uma forte atitude masculina e que a mulher é para lavar a louça. Não. A mulher é para trazer harmonia. Sem a mulher não há harmonia. Não são iguais, não são um superior ao outro. Só que o homem não traz harmonia. É ela que traz a harmonia, que nos ensina a acariciar, a amar com ternura e que faz do mundo uma coisa bela“.
Foi então que me lembrei da Mafalda e de muitas outras mulheres que conheço.
Isabel Alexandre |
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