Padre consultor de Martin Scorsese revela pormenores acerca da rodagem desta obra, que estreia esta sexta-feira nos EUA
Lisboa, 23 dez 2016 (Ecclesia) – O padre jesuíta James Martin,
consultor de Martin Scorsese para o filme “Silence” (Silêncio), que
estreia hoje nos Estados Unidos, destaca um projeto que “interpela
profundamente a fé e a vida” e que desafiou os atores na sua
“espiritualidade”.
A nova obra do realizador norte-americano, baseada em factos reais,
conta a história dos missionários jesuítas portugueses no Japão e a
perseguição movida aos cristãos naquele país, durante o século XVII.
Numa entrevista difundida através das redes sociais pela Companhia de
Jesus em Portugal, o padre James Martin aponta três questões
fundamentais presentes na nova obra de Martin Scorsese.
Em primeiro lugar “o que é que Deus pede” a cada pessoa e como lidar
quando esta pergunta parece ter apenas como resposta “o silêncio”.
O enredo do filme parte da figura
do jesuíta Cristóvão Ferreira (1580-1650), interpretada por Liam
Neeson, um missionário português que terá renunciado à fé cristã depois
de ter sido torturado.
Acompanha ainda o percurso de outros dois missionários que a Companhia
de Jesus envia à procura de Cristóvão Ferreira, nesta caso duas
personagens fictícias, Sebastião Rodrigues e Francisco Garupe, assumidas
pelos atores Andrew Garfield e Adam Driver.
“ A apostasia não é uma coisa boa”, mas aqui “aparece como expressão de
compaixão”, diz o padre James Martin, lembrando que “os inquiridores
japoneses diziam aos jesuítas que se não negassem a fé eles fariam mal
aos cristãos”.
Sebastião Rodrigues, a personagem principal do filme, interpretada por
Andrew Garfield, é a expressão mais visível desta luta interior, deste
esforço em perceber o que Deus pede em determinada situação, neste caso
na situação limite de “renunciar à fé”.
“Rodrigues chega a um ponto em que a coisa certa a fazer parece ir
contra tudo aquilo que lhe foi ensinado, contra aquilo que a cultura
cristã diria ser a atitude correta a tomar, e até os seus colegas
jesuítas em Portugal”, refere o padre James Martin.
Daí que o filme ‘Silence’ também coloque questões essenciais relacionadas com a “fidelidade” e a “missão”.
“Hoje em dia o trabalho missionário é frequentemente denegrido e mesmo
atacado. Mas eu costumo perguntar às pessoas; deixariam tudo para trás
para viajarem para o outro lado do mundo, para proclamarem com risco de
vida o Evangelho a pessoas que, na vossa pátria, a maioria pensa que nem
são dignas de evangelização? Para mim os missionários continuam a ser
grandes heróis”, sustenta o padre James Martin.
O sacerdote jesuíta ajudou o realizador Martins Scorsese e o argumentista Jay Cocks no aperfeiçoamento do guião original.
“Basicamente o que queriam saber era o que é que um jesuíta pensaria em
determinada situação, o que é que faria, o que diria e mesmo como
rezaria”, explica o membro da Companhia de Jesus, que partilha o desafio
que este projeto representou para os atores e sobretudo para Andrew
Garfield.
Para ajudá-los a entender o seu papel, o sacerdote trabalhou com eles
os chamados ‘Exercícios Espirituais’, uma prática de oração criada por
Santo Inácio de Loiola, o fundador da Companhia de Jesus.
“Percorremos todas as etapas dos exercícios, desde o início ao fim,
durante vários meses, o que permitiu ao Andrew entender o seu papel mas
também foi uma experiência muito pessoal para ele. Uma vez mergulhando
nos exercícios deixa de ser apenas um projeto a fazer mas também algo
entre nós e Deus”, frisa o padre James Martin.
Com um orçamento de cerca de 50 milhões de dólares, o novo filme de
Martin Scorsese, estreia esta sexta-feira nos Estados Unidos da América e
tem lançamento previsto em Portugal no dia 19 de janeiro.
A propósito desta obra, a Fundação do Oriente em parceria com a Companhia de Jesus em Portugal e a NOS Audiovisuais promovem
a realização de uma conferência e de visitas guiadas temáticas,
centradas no contexto histórico e religioso do relacionamento
Portugal-Japão.
A conferência acontece a 11 de janeiro de 2017, com entrada livre mas
sujeita a inscrição; as visitas guiadas ao Museu serão nos dias 14, 21 e
28 de janeiro.
JCP/OC
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