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sábado, 31 de dezembro de 2016

Como estrelas no mundo

1 – Olhando para tanta gente que foi batizada e se afastou da Igreja, quase poderíamos dizer que, no nosso tempo, estamos vivendo o contrário da Epifania. Hoje não brilha, para muita gente, aquela estrela que chamou os povos à fé e os congregou na Igreja, e são poucos os que procuram algo mais que o seu bem-estar material. Como evangelizar hoje? Como poderemos ajudar os nossos contemporâneos, tão apáticos, tão alheios à vida espiritual, a encontrar-se com Cristo?
 
2 – Escutaremos no evangelho do próximo domingo, solenidade da Epifania, a manifestação do Senhor aos gentios guiados por uma estrela. Na segunda leitura ouviremos S. Paulo, deslumbrado, confidenciar-nos que lhe foi revelado o mistério de Cristo, quer dizer, o plano de Deus Pai para nos salvar, plano mantido em segredo até à vinda de Cristo ao mundo. De facto Deus já Se dera a conhecer, progressivamente, na Criação e na história do povo de Israel. Mas quando chegou a plenitude dos tempos, ao enviar ao mundo o Seu Filho e o Seu Espírito, completou a revelação de Si mesmo pondo em ação o Seu desígnio, o mistério da nossa salvação. Afinal, o Deus escondido de que falava Isaías gosta de Se revelar, de Se dar a conhecer e de Se oferecer a nós. Dando-nos a graça de sermos seus filhos adotivos pela fé em Cristo, faz-nos participantes da sua natureza divina para que tenhamos n’Ele a Vida Eterna. Para isso escolhera já o povo de Israel, para o constituir como seu Servo, com a missão de fazer chegar a notícia do seu amor e a sua salvação a todos os povos. Jesus Nosso Senhor, no Qual se resume todo o povo de Israel, é o verdadeiro Servo que realiza o desígnio de Deus. No seu sangue é selada a Nova e Eterna Aliança pela qual os gentios que n’Ele acreditam têm acesso às bênçãos prometidas a Abraão e à sua descendência. Ele é também o Sumo-sacerdote que inaugurou na Cruz o culto novo, agradável ao Pai. Pela Sua Encarnação e pela dimensão profética do seu ministério, Jesus traz Deus aos homens. Pela sua Morte e Ressurreição e pelo seu Sacerdócio, leva os homens a Deus. Em Jesus Cristo Seu Filho, Deus tornou-Se acessível aos que O procuram. E aqueles de nós que O encontrámos, ou melhor, que nos deixámos encontrar por Ele e nos tornámos membros da Igreja, temos hoje a missão de ser, movidos pela caridade, sinais manifestadores da sua presença, como estrelas no mundo.
 
3 – Vimos na noite de Natal como foram evangelizados os pastores: ouviram o anúncio do anjo, foram apressadamente a Belém, encontraram Maria, José e o Menino, e começaram a falar do que ouviram e viram. Um pouco diferente é a história dos magos lida no Evangelho de S. Mateus. Retenhamos que não eram israelitas, mas gentios. Viram despontar a estrela e vieram a Jerusalém onde escutaram da boca dos sábios a palavra do profeta. Orientados pelo testemunho concorde da palavra da Escritura e da estrela que seguia à sua frente, chegaram a Belém. Entraram na casa, viram o Menino com Maria sua Mãe, adoraram-n’O prostrados e ofereceram-Lhe presentes, e regressaram por outro caminho. Começaram por ver uma estrela, um sinal que lhes despertou a atenção e os pôs a caminhar. São muito importantes os sinais, mas, só por si, não bastam para nos levar a Cristo pois são ambivalentes e podem induzir-nos em erro levando-nos, por exemplo, a procurar Jesus no palácio de Herodes. É necessária a palavra que os explicita. Em Jerusalém, depois de escutarem a profecia de Miqueias, eles veem o mesmo sinal da estrela de uma forma nova: agora ela segue à sua frente e detém-se no lugar onde está o Menino. Seria inútil este seu longo percurso se não entrassem na casa onde se encontram com Jesus, Maria e José. Este encontro com Cristo, Deus feito homem, mudou as suas vidas e, por isso, significativamente, regressam às suas terras por outro caminho. Sinais, caminhada, palavra da Escritura, entrar na Igreja, conhecer Maria e José, adorar Jesus e oferecer-Lhe o culto novo significado no ouro, no incenso e na mirra, culto que se traduz numa vida nova dimensionada pela fé, pela esperança e pela caridade, em Igreja. Dito de outra maneira: pré-evangelização, caminhada, anúncio, comunidade, culto novo, vida cristã! Aqui temos delineado o essencial do processo evangelizador.
 
4 – Mas se em vez de uma estrela silenciosa e brilhante surgisse no Oriente um ruidoso fogo-de-artifício de muitas estrelas disputando entre si a atenção das pessoas? E se a estrela se recusasse a seguir humilde e alegremente à frente dos magos até Belém para não ter de abandonar a sua própria rota no alto firmamento? E se os magos, desapontados com aquela simplicidade e pobreza, se recusassem a entrar na humilde casa onde morava a Sagrada Família? E se ao entrar não encontrassem Jesus, Maria e José, mas um bando de salteadores acantonados, prontos a despojá-los dos seus bens? E se o anjo que deveria avisar os magos para não voltarem à presença de Herodes desvalorizasse a incumbência e os deixasse na ignorância? Podem parecer ridículas e improváveis estas situações que inviabilizariam ou dificultariam em extremo o encontro dos gentios com Jesus mas, infelizmente, são muito reais e frequentes na vida da Igreja e contrariam ou neutralizam o seu esforço evangelizador. Continua a ser oportuna para nós a advertência de S. Paulo na carta aos Filipenses: fazei tudo sem murmurar nem discutir para vos tornardes irrepreensíveis e puros, filhos de Deus sem defeito, no meio de uma geração má e pervertida no meio da qual brilhais como estrelas no mundo, mensageiros da Palavra da Vida (Fil 2, 14-16a). Como perdem tão depressa o brilho estas estrelas que nós somos com a ferrugem do egoísmo, da soberba, da vaidade, da luxúria, da ganância, da violência, da inveja! A fim de nelas resplandecer a luz do Senhor, precisam de ser limpas com muita frequência.
 
5 - Surge e resplandece Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor! A comunhão dos irmãos em Cristo, a caridade fraterna e a unidade são a luz que deve resplandecer na Igreja para se tornar sinal vivo de Deus no meio do mundo e atrair os povos à fé. Surge e resplandece, Igreja de Deus, nova Jerusalém, cidade santa descida do céu, entreposto onde o céu se manifesta na terra e onde na terra cultivamos a vida do céu! Surge e resplandece para manifestares e ofereceres ao mundo o tesouro de que és depositária!

+ J. Marcos



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