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segunda-feira, 27 de julho de 2015

Um livro sobre as aparições de Maria em Ruanda

O pe. Edouard Sinayobye explica o valor universal das aparições na África

Roma, 27 de Julho de 2015 (ZENIT.org)

Entre 1981 e 1989, a Virgem Maria apareceu em Kibeho, localidade de Ruanda, a três jovens moças estudantes, apresentando-se com o título de "Mãe do Verbo".

Ela declarou que tinha vindo recordar o "Evangelho esquecido", ou seja, a vida, paixão e morte de seu Filho Jesus. Pediu penitência, jejum e sacrifícios "porque o mundo está mal... Eu quero recolocar vocês em pé, mas vocês não me ouvem".


A Virgem Maria predisse e mostrou às videntes, em meio a lágrimas, as cenas dramáticas do genocídio de 1994: os assassinatos, as cabeças cortadas, as valas comuns... Prenúncio de um destino de ódio que, advertiu, poderia atingir o mundo todo, que deu as costas para Deus e agora "está à beira do abismo".


Mostrou-lhes os lugares e estados das almas na vida após a morte: o inferno existe, mas também o Paraíso, meta que todo homem, querido e amado pelo Pai do Céu, pode livremente atingir com uma vida boa.


A Igreja reconheceu oficialmente as aparições em 2001, bem como o seu valor profético. O papa Francisco, no final do ângelus de 6 de abril de 2014, o expressou publicamente com estas palavras:


"Queridos irmãos e irmãs, amanhã, em Ruanda, recorda-se o vigésimo aniversário do início do genocídio contra os tutsis em 1994. Nesta ocasião, desejo expressar a minha proximidade paternal ao povo ruandês, encorajando-o a prosseguir com determinação e esperança o seu processo de reconciliação, que já tem mostrado frutos, e o compromisso de reconstrução humana e espiritual do país. A todos eu digo: não tenham medo! Na rocha do Evangelho construam a sua sociedade, no amor e na harmonia, pois só assim se gera uma paz duradoura! Invoco sobre toda a amada nação de Ruanda a proteção materna de Nossa Senhora de Kibeho. Lembro-me com afeto dos bispos ruandeses que estiveram aqui no Vaticano na semana passada. E a todos vocês eu convido, agora, a rezar à Virgem Maria, Nossa Senhora de Kibeho".


Kibeho é hoje visitada por peregrinos de todo o mundo.


O padre ruandês Edouard Sinayobye, que exerce o seu ministério a poucos quilómetros de Kibeho, escreveu e publicou o livro “Eu sou a Mãe do Verbo”. Ele testemunhou as aparições e deve a elas a sua vocação. Sinayobye, que tem um profundo conhecimento das videntes e da Mensagem da Virgem Maria, escreveu como introdução do seu livro o texto que reproduzimos a seguir:


"Em 6 de abril de 2014, durante uma visita ad limina apostolorum dos bispos de Ruanda, o papa Francisco pediu à Igreja do mundo inteiro que implorasse a intercessão da Mãe do Verbo aparecida em Kibeho. É claro que o convite do Santo Padre não se limitava a uma simples oração a Nossa Senhora, mas nos chamava a ir até o coração da mensagem que ela nos trouxe em Kibeho.


O pe. René Laurentin, especialista em mariologia e em teologia das aparições, que muito bem conhecia as aparições de Kibeho mediante os levantamentos e pesquisas que tinha feito em torno do fenómeno, considerava essas aparições um carisma apropriado aos desafios espirituais do nosso mundo: ‘As aparições de Kibeho são uma boa notícia para a África [...], para a africanização. Isto ajuda a equilibrar os desvios do Ocidente, cuja secularização sistemática e esquecimento do essencial em benefício da ciência e da tecnologia têm, por vezes, contagiado também a África. Nossas Igrejas europeias têm muitas vezes substituído a inspiração pela tecnocracia, o esforço espiritual pela facilidade, o amor cristão, o ascetismo e a cruz pelo desejo freudiano, embora a cruz seja a raiz profunda de toda obra cristã. Kibeho não é uma mensagem particular africana, apesar das suas formas africanas. Acreditamos que ela tem uma dimensão global’.

Foi a própria Mãe do Verbo quem repetiu incessantemente que tinha vindo para renovar todo o mundo contemporâneo: ‘Se eu vim a Kibeho, é para me dirigir a todo o mundo. Eu vim porque via que vocês precisavam de alguma coisa’.

As aparições são um carisma para o nosso tempo. Através delas, a Mãe do Verbo, profeticamente, nos lembra do ‘Evangelho esquecido’, desgastando-se com um coração cheio de generosidade materna para nos lembrar da conversão. Através do presente trabalho, eu tenho a felicidade de apresentar ao povo de Deus este carisma de Kibeho, capaz de iluminar a escuridão da nossa vida e de incentivar um despertar espiritual de acordo com o desejo de Nossa Senhora.


A Providência me fez testemunha ocular dos eventos extraordinários de Kibeho. Sou ruandês, nativo de uma região próxima do local das aparições. Vou a Kibeho desde o início dos acontecimentos. Cresci na atmosfera de reavivamento espiritual originada pelas aparições. Também tenho de reconhecer que o caminho vocacional que me levou até o sacerdócio foi nutrido substancialmente por essa atmosfera característica do cristianismo ruandês.


A formação em Teologia Espiritual que recebi em Roma me deixou mais atento aos carismas que o Espírito Santo suscita para despertar e santifica a Igreja. É desta perspectiva espiritual que apresento, neste livro, o carisma de Kibeho.


O texto é uma reelaboração de parte da minha tese de doutorado em Teologia Espiritual, discutida no Pontifício Ateneu Teresianum, de Roma, em 17 de janeiro de 2013 e intitulada ‘Kibeho, lugar teológico da experiência cristã com a Mãe do Verbo’. Após a discussão da tese, me foi sugerido transformá-la em um texto mais divulgativo, destinado a um público mais amplo, interessado não só em informações sobre as aparições de Kibeho, mas, especialmente, em encontrar no dom de Kibeho uma fonte de vida espiritual e um carisma para o despertar espiritual, adequado aos desafios do mundo de hoje.


As aparições de Kibeho são repletas de fatos, sinais e símbolos de uma mensagem preciosa. Apresentarei os seus destaques, bem como o seu conteúdo espiritual. Dedicarei um espaço especial às visões trágicas, proféticas, sobre o mundo atual, além de interpretar espiritualmente o terrível genocídio contra os tutsis, que havia sido profetizado nas aparições. Os pontos mais significativos que brotam da mensagem transmitida aos videntes pela Mãe do Verbo serão apresentados como uma jornada do seguimento de Cristo.


A exposição dos temas, portanto, acompanhará o ritmo de um dinamismo de crescimento espiritual. O primeiro momento mostrará que o mundo está em perigo e corre o risco de cair no abismo, como anunciado nas aparições. A Mãe do Verbo lembra que os homens de hoje estão vivendo em rebelião contra Deus e denuncia vigorosamente a hipocrisia presente no culto cristão.


Os temas da conversão, da oração sincera e da fé serão apresentados em estreita conexão: é através da fé sincera e da oração sem hipocrisia que o discípulo de Cristo pode chegar à autêntica vida cristã. O tema do sofrimento expiatório, juntamente com o da bênção, é como um desdobramento, na vida dos discípulos, desta comunhão com o Verbo.


A exposição do estudo da mensagem termina com outro tema recorrente nas aparições de Kibeho: a perspectiva escatológica da vida cristã. A Mãe do Verbo nos lembra que este mundo acabará e convida a Igreja a preparar seriamente a vida eterna.


O livro reflete os resultados da pesquisa, que eu condensei e reforcei de luz teológica, numa exposição de estilo espiritual. Fui a fontes diretas: os diários e cadernos das videntes, os relatórios das comissões de inquérito, bem como a outros documentos privados aos quais o bispado de Gikongoro generosamente me deu livre acesso. Analisei com cuidado todos esses documentos.


Em especial na interpretação dos pontos da mensagem em língua ruandesa, recorri às testemunhas que meticulosamente entrevistei: as videntes Nathalie e Alphonsine, dom Augustin Misago, de feliz memória, e outros membros das comissões ainda vivos, bem como a outras testemunhas que assistiram à série de aparições.


Toda esta pesquisa me permitiu não só aproximar-me da verdade dos fatos, mas também obter maior precisão quanto ao conteúdo da mensagem. Na elaboração do texto, além da competência dos meus orientadores, eu me apoiei na autoridade e na experiência de René Laurentin e de Vittorio Messori.


O pe. Laurentin me iluminou muito, especialmente em termos de metodologia. Vittorio Messori, jornalista e escritor italiano de renome internacional, conhecido pelos volumes que escreveu em parceria com os papas João Paulo II e Bento XVI, me ajudou a entender os meandros dos desafios espirituais do nosso mundo e a mostrar que a mensagem de Kibeho é, para esses desafios, um remédio adequado.


O livro não fornece todas as informações sobre os eventos: tendo sido convidado a dar-lhe traços mais divulgativos, optei por cortar alguns dados mesmo sendo importantes, como as notas bibliográficas. Para informações mais completas e precisas, portanto, seria útil ler a tese completa, disponível em todos os bispados e seminários maiores de Ruanda, bem como nos ateneus pontifícios Teresianum e Marianum, de Roma.


Compartilho com o leitor o desejo de me colocar à escuta da Mãe do Verbo, juntamente com a alegria de pertencer com generosa devoção àqueles que espalham a massagem dela transmitida em Kibeho”.



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