A
fria resposta recebida do presidente queniano mostra a pouca
compatibilidade entre o pensamento liberal ocidental e o de muitos
países emergentes
Roma,
28 de Julho de 2015
(ZENIT.org)
Luca Marcolivio
Direitos e oportunidades iguais para todos? O princípio não é assim
tão linear, nem pacífico; em muitos casos, pode até provocar
“curtos-circuitos” ideológicos.
Foi o que aconteceu na histórica visita de Barack Obama ao Quénia, a terra dos seus antepassados paternos, onde o presidente retomou o slogan do seu segundo mandato: “amor é amor” e os gays também têm o direito de ser tratados de forma justa. A referência foi implícita, mas clara, à decisão do Supremo Tribunal dos EUA de confirmar a constitucionalidade do casamento gay em todo o território do país.
"Eu acredito no princípio de que todas as pessoas são iguais perante a lei, de que todos são dignos da mesma proteção e de que o Estado não deve discriminar as pessoas com base na sua orientação sexual", disse Obama em Nairóbi, durante um discurso em que também tinha falado contra a corrupção e o racismo e em favor da igualdade de oportunidades para as mulheres, que, na sua opinião, são tratadas no Quénia como "cidadãs de segunda classe".
Afirmando já ter sofrido a discriminação racial na própria pele, Obama quer estender a não-discriminação também aos gays. Não por acaso, ele falou explicitamente, em Nairóbi, sobre a propagação da homofobia no continente africano.
Suas palavras, no entanto, não despertaram o entusiasmo do presidente queniano Uhuru Kenyatta. "O fato é que o Quénia e os Estados Unidos têm muitos valores em comum, mas temos de admitir que algumas coisas nós não compartilhamos: a nossa cultura e a nossa sociedade não podem aceitá-las".
Num país em que os atos homossexuais são puníveis com prisão, Kenyatta considera que a questão dos direitos dos homossexuais é um "não-problema", um tema que não está na agenda. Para um transeunte queniano entrevistado pela rede CBS, o pensamento de Obama a este respeito é "coisa de americano": e os quenianos, "de acordo com a cultura africana" e os "valores cristãos", dizem não aos direitos dos homossexuais.
Sem entrar na questão das violações dos direitos humanos que os gays sofrem no Quénia, este caso mostra toda a problemática da extensão universal dos próprios direitos humanos.
Os dilemas são muitos. Primeiro, vale perguntar: é pertinente equiparar a discriminação racial à discriminação por orientações sexuais? E ainda: a “longa marcha” dos direitos é um caminho inexorável ou devem respeitar-se as tradições locais?
O multiculturalismo envolve um conceito de integração construído no Ocidente com categorias que os países do mundo em desenvolvimento nem sempre entendem, já que o único critério adotado nestes anos tem sido o da globalização económica.
A "exportação da democracia" vem implicando uma homologação das culturas, uma verdadeira "colonização ideológica", que, como visto na discordância entre os chefes de Estado do Quênia e dos EUA, gera faíscas.
As políticas liberais atuais têm se arvorado em “paladinas” dos países do Terceiro Mundo, mas sem conhecer a sua verdadeira identidade, ignorando que, além do que nos une, permanece o que nos divide.
É irónico que, mesmo na Europa, as forças políticas progressistas, mais orientadas aos "novos direitos", são sempre as mais favoráveis à política de "portas abertas" para os estrangeiros, sem que estes realmente compartilhem a opinião europeia sobre esses direitos. Pense-se na participação notável de muçulmanos nas várias vigílias e manifestações ocorridas na França em defesa da família natural, fundada no matrimónio entre homem e mulher.
É oportuno perguntar-nos qual concepção vai prevalecer amanhã: a liberal, dos "direitos para todos", ou a "arcaica", representada por um grande número de países emergentes e baseada nos "valores cristãos" esquecidos no Ocidente “desenvolvido”, mas defendidos pelos quenianos visitados por Obama?
Foi o que aconteceu na histórica visita de Barack Obama ao Quénia, a terra dos seus antepassados paternos, onde o presidente retomou o slogan do seu segundo mandato: “amor é amor” e os gays também têm o direito de ser tratados de forma justa. A referência foi implícita, mas clara, à decisão do Supremo Tribunal dos EUA de confirmar a constitucionalidade do casamento gay em todo o território do país.
"Eu acredito no princípio de que todas as pessoas são iguais perante a lei, de que todos são dignos da mesma proteção e de que o Estado não deve discriminar as pessoas com base na sua orientação sexual", disse Obama em Nairóbi, durante um discurso em que também tinha falado contra a corrupção e o racismo e em favor da igualdade de oportunidades para as mulheres, que, na sua opinião, são tratadas no Quénia como "cidadãs de segunda classe".
Afirmando já ter sofrido a discriminação racial na própria pele, Obama quer estender a não-discriminação também aos gays. Não por acaso, ele falou explicitamente, em Nairóbi, sobre a propagação da homofobia no continente africano.
Suas palavras, no entanto, não despertaram o entusiasmo do presidente queniano Uhuru Kenyatta. "O fato é que o Quénia e os Estados Unidos têm muitos valores em comum, mas temos de admitir que algumas coisas nós não compartilhamos: a nossa cultura e a nossa sociedade não podem aceitá-las".
Num país em que os atos homossexuais são puníveis com prisão, Kenyatta considera que a questão dos direitos dos homossexuais é um "não-problema", um tema que não está na agenda. Para um transeunte queniano entrevistado pela rede CBS, o pensamento de Obama a este respeito é "coisa de americano": e os quenianos, "de acordo com a cultura africana" e os "valores cristãos", dizem não aos direitos dos homossexuais.
Sem entrar na questão das violações dos direitos humanos que os gays sofrem no Quénia, este caso mostra toda a problemática da extensão universal dos próprios direitos humanos.
Os dilemas são muitos. Primeiro, vale perguntar: é pertinente equiparar a discriminação racial à discriminação por orientações sexuais? E ainda: a “longa marcha” dos direitos é um caminho inexorável ou devem respeitar-se as tradições locais?
O multiculturalismo envolve um conceito de integração construído no Ocidente com categorias que os países do mundo em desenvolvimento nem sempre entendem, já que o único critério adotado nestes anos tem sido o da globalização económica.
A "exportação da democracia" vem implicando uma homologação das culturas, uma verdadeira "colonização ideológica", que, como visto na discordância entre os chefes de Estado do Quênia e dos EUA, gera faíscas.
As políticas liberais atuais têm se arvorado em “paladinas” dos países do Terceiro Mundo, mas sem conhecer a sua verdadeira identidade, ignorando que, além do que nos une, permanece o que nos divide.
É irónico que, mesmo na Europa, as forças políticas progressistas, mais orientadas aos "novos direitos", são sempre as mais favoráveis à política de "portas abertas" para os estrangeiros, sem que estes realmente compartilhem a opinião europeia sobre esses direitos. Pense-se na participação notável de muçulmanos nas várias vigílias e manifestações ocorridas na França em defesa da família natural, fundada no matrimónio entre homem e mulher.
É oportuno perguntar-nos qual concepção vai prevalecer amanhã: a liberal, dos "direitos para todos", ou a "arcaica", representada por um grande número de países emergentes e baseada nos "valores cristãos" esquecidos no Ocidente “desenvolvido”, mas defendidos pelos quenianos visitados por Obama?
(28 de Julho de 2015) © Innovative Media Inc.
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