1. A educação dos afetos
Há pessoas muito racionais e frias nas suas relações com os outros, mas que ficam melindradas quando alguém lhes toca no seu amor próprio, põe em causa o seu discurso ou a sua opinião, mostrando que não se aplica na situação presente. Isto deve fazer-nos pensar sobre como educamos a nossa personalidade. A exaltação da racionalidade sem ter em conta outros aspetos da vida do ser humano, sobretudo as suas relações com outros e com o ambiente, não pode ser considerada uma educação boa, integral, à qual se refere, por várias vezes, a recente encíclica do Papa Louvado sejas, sobre o cuidado da casa comum.
No exercício das nossas relações com os outros, com a natureza e com Deus, precisamos de envolver todas as capacidades de que estamos dotados, corpo, sentidos, vontade, inteligência e respeitá-las também nos outros. Os demagogos que usam apenas a palavra, os argumentos racionais, sem implicação das suas pessoas, sem coerência de vida, sem sensibilidade e afeto para com os outros, depressa caem na desgraça dos seus ouvintes e deixam de ser escutados.
Mas como e onde podemos desenvolver estas múltiplas capacidades de que estamos dotados? Nesta breve nota irei apenas falar de uma, mas que envolve todas as outras: a educação para os afetos, para a gratuidade, a solidariedade, a atenção aos outros, para o amor. Antes de aprender a falar, já a criança aprende a sentir e expressar o seu afeto, no berço, ao colo, na família. Na sua recente viagem a três países da América Latina, na homilia do dia 6, no Equador, o Papa Francisco repetia um pensamento de que já falou muitas vezes. Na família, diz o Papa citando a sua encíclica Louvado sejas (nº 213) «aprende-se a pedir licença sem servilismo, a dizer “obrigado” como expressão duma sentida avaliação das coisas que recebemos, a dominar a agressividade ou a ganância; lá se aprende também a pedir desculpa quando fazemos algo de mal, quando nos ofendemos. Porque, em toda a família, há ofensas. O problema é depois pedir perdão. Estes pequenos gestos de sincera cortesia ajudam a construir uma cultura da vida compartilhada e do respeito pelo que nos rodeia». A família é o hospital mais próximo, quando uma pessoa está doente cuidam-na lá enquanto se pode. A família é a primeira escola das crianças, é o grupo de referência imprescindível para os jovens, é o melhor asilo para os idosos. A família constitui a grande «riqueza social», que outras instituições não podem substituir, devendo ser ajudada e reforçada para não perder jamais o justo sentido dos serviços que a sociedade presta aos seus cidadãos. Com efeito, estes serviços que a sociedade presta aos cidadãos não são uma espécie de esmola, mas uma verdadeira «dívida social» para com a instituição familiar, que é a base e que tanto contribui para o bem comum de todos.
A seguir o Papa pede oração pela família e pelo próximo Sínodo dos Bispos, que vai vai tratar da vocação e missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo. Já foi publicado o instrumento de trabalho, que teve em conta as propostas do sínodo extraordinário sobre o mesmo tema, em outubro de 2014, enriquecido com as sugestões enviadas de todo o mundo, em ordem a curar as feridas de tantos lares. Sem a experiência da família, dificilmente conseguiremos esta educação dos afetos.
2. A família, experiência de vida plena
Muita coisa se poderá dizer e escrever acerca da família, constituída a partir do amor de um homem e uma mulher, amor que dá fruto e se projeta nos filhos e que, para os crentes, se orienta para a sua fonte, Deus criador e salvador, que se manifestou na pessoa e mensagem de Jesus Cristo. Sem esta orientação e projeção o amor humano facilmente se converte em egoísmo refinado.
Como sabemos pelo Evangelho, Jesus não veio para apenas apontar a vontade de Deus a respeito da criação, mas para salvar e curar as feridas da humanidade (Jo 3, 17). Por isso respondeu aos acusadores da mulher adúltera, que queriam que ele aplicasse a lei, pronunciando a sentença de morte, com a observação: quem não tem pecado que atire a primeira pedra. E à mulher, que ficou sozinha, diz: também eu não te condeno. Vai e não voltes a pecar (Jo 8, 1 ss). É esta ternura e perdão de Deus que deve orientar a pastoral da Igreja, mas que também a família a deve viver, para ajudar os seus membros a fazer a experiência de vida plena, apesar das muitas fragilidades a que estão sujeitos.
A ternura nos relacionamentos familiares é a virtude quotidiana que ajuda a superar os conflitos interiores e relacionais, lemos no Documento de preparação para o Sínodo dos Bispos sobre a família, nº 70, e que se vai realizar no próximo mês de outubro. A família é o património fundamental da humanidade e da Igreja, mas está muito fragilizada e desapoiada. Mas ela é a primeira e principal escola da aprendizagem da vida, na diversidade das suas dimensões e relações. Não admira que a Igreja sempre tem voltado as suas atenções para ela e agora o Papa Francisco nos pede para intensificarmos a pastoral das comunidades cristãs, para ajudarmos a que ela possa tornar-se cada vez mais aquilo que é chamada a ser: escola de ternura, da gratuidade, da solidariedade, de amor, de atenção aos outros, de superação do egoísmo individualista, de evangelização e de transmissão dos valores humanos e da fé.
Há pessoas muito racionais e frias nas suas relações com os outros, mas que ficam melindradas quando alguém lhes toca no seu amor próprio, põe em causa o seu discurso ou a sua opinião, mostrando que não se aplica na situação presente. Isto deve fazer-nos pensar sobre como educamos a nossa personalidade. A exaltação da racionalidade sem ter em conta outros aspetos da vida do ser humano, sobretudo as suas relações com outros e com o ambiente, não pode ser considerada uma educação boa, integral, à qual se refere, por várias vezes, a recente encíclica do Papa Louvado sejas, sobre o cuidado da casa comum.
No exercício das nossas relações com os outros, com a natureza e com Deus, precisamos de envolver todas as capacidades de que estamos dotados, corpo, sentidos, vontade, inteligência e respeitá-las também nos outros. Os demagogos que usam apenas a palavra, os argumentos racionais, sem implicação das suas pessoas, sem coerência de vida, sem sensibilidade e afeto para com os outros, depressa caem na desgraça dos seus ouvintes e deixam de ser escutados.
Mas como e onde podemos desenvolver estas múltiplas capacidades de que estamos dotados? Nesta breve nota irei apenas falar de uma, mas que envolve todas as outras: a educação para os afetos, para a gratuidade, a solidariedade, a atenção aos outros, para o amor. Antes de aprender a falar, já a criança aprende a sentir e expressar o seu afeto, no berço, ao colo, na família. Na sua recente viagem a três países da América Latina, na homilia do dia 6, no Equador, o Papa Francisco repetia um pensamento de que já falou muitas vezes. Na família, diz o Papa citando a sua encíclica Louvado sejas (nº 213) «aprende-se a pedir licença sem servilismo, a dizer “obrigado” como expressão duma sentida avaliação das coisas que recebemos, a dominar a agressividade ou a ganância; lá se aprende também a pedir desculpa quando fazemos algo de mal, quando nos ofendemos. Porque, em toda a família, há ofensas. O problema é depois pedir perdão. Estes pequenos gestos de sincera cortesia ajudam a construir uma cultura da vida compartilhada e do respeito pelo que nos rodeia». A família é o hospital mais próximo, quando uma pessoa está doente cuidam-na lá enquanto se pode. A família é a primeira escola das crianças, é o grupo de referência imprescindível para os jovens, é o melhor asilo para os idosos. A família constitui a grande «riqueza social», que outras instituições não podem substituir, devendo ser ajudada e reforçada para não perder jamais o justo sentido dos serviços que a sociedade presta aos seus cidadãos. Com efeito, estes serviços que a sociedade presta aos cidadãos não são uma espécie de esmola, mas uma verdadeira «dívida social» para com a instituição familiar, que é a base e que tanto contribui para o bem comum de todos.
A seguir o Papa pede oração pela família e pelo próximo Sínodo dos Bispos, que vai vai tratar da vocação e missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo. Já foi publicado o instrumento de trabalho, que teve em conta as propostas do sínodo extraordinário sobre o mesmo tema, em outubro de 2014, enriquecido com as sugestões enviadas de todo o mundo, em ordem a curar as feridas de tantos lares. Sem a experiência da família, dificilmente conseguiremos esta educação dos afetos.
2. A família, experiência de vida plena
Muita coisa se poderá dizer e escrever acerca da família, constituída a partir do amor de um homem e uma mulher, amor que dá fruto e se projeta nos filhos e que, para os crentes, se orienta para a sua fonte, Deus criador e salvador, que se manifestou na pessoa e mensagem de Jesus Cristo. Sem esta orientação e projeção o amor humano facilmente se converte em egoísmo refinado.
Como sabemos pelo Evangelho, Jesus não veio para apenas apontar a vontade de Deus a respeito da criação, mas para salvar e curar as feridas da humanidade (Jo 3, 17). Por isso respondeu aos acusadores da mulher adúltera, que queriam que ele aplicasse a lei, pronunciando a sentença de morte, com a observação: quem não tem pecado que atire a primeira pedra. E à mulher, que ficou sozinha, diz: também eu não te condeno. Vai e não voltes a pecar (Jo 8, 1 ss). É esta ternura e perdão de Deus que deve orientar a pastoral da Igreja, mas que também a família a deve viver, para ajudar os seus membros a fazer a experiência de vida plena, apesar das muitas fragilidades a que estão sujeitos.
A ternura nos relacionamentos familiares é a virtude quotidiana que ajuda a superar os conflitos interiores e relacionais, lemos no Documento de preparação para o Sínodo dos Bispos sobre a família, nº 70, e que se vai realizar no próximo mês de outubro. A família é o património fundamental da humanidade e da Igreja, mas está muito fragilizada e desapoiada. Mas ela é a primeira e principal escola da aprendizagem da vida, na diversidade das suas dimensões e relações. Não admira que a Igreja sempre tem voltado as suas atenções para ela e agora o Papa Francisco nos pede para intensificarmos a pastoral das comunidades cristãs, para ajudarmos a que ela possa tornar-se cada vez mais aquilo que é chamada a ser: escola de ternura, da gratuidade, da solidariedade, de amor, de atenção aos outros, de superação do egoísmo individualista, de evangelização e de transmissão dos valores humanos e da fé.
† António Vitalino, bispo de Beja
Nota semanal em áudio:
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