
Senado vota esta semana
7MARGENS | 29/06/2025
A semana passada terminou com algo nunca visto nos Estados Unidos da América (EUA): no mesmo dia em que a Conferência dos Bispos Católicos tornou pública uma posição com elogios e críticas à proposta de orçamento que o Senado votará na próxima sexta-feira, 4 de julho, vários bispos católicos e outros religiosos divulgaram um documento em que pedem aos senadores que rejeitem liminarmente a atual proposta de orçamento, que já foi aprovado pela Câmara dos Representantes.
Entre os 42 signatários desta última carta estão os cardeais Robert McElroy, bispo da capital Washington, e Joseph Tobin, de Newark (Nova Jersey), e outros bispos católicos; o imã Jamal Rahman, do Santuário Comunitário Inter-religioso de Seattle (Washington); o rabino Daniel Weiner, de Seattle; o bispo episcopal Philip LaBelle, de Olympia (Washington), bem como líderes da Associação Batista Evergreen, da Igreja Metodista Episcopal Africana, da Igreja Presbiteriana (EUA), da Conferência de Igrejas do Novo México, da Igreja Evangélica Luterana na América e da Coligação Evangélica Nacional Latina.
No seu texto, a Conferência dos Bispos Católicos dos EUA retoma o tom da sua declaração do final de maio com elogios às disposições do orçamento “que promovem a dignidade da vida humana e apoiam a livre escolha dos pais” no que toca à educação dos filhos, e com a decisão de “reduzir o financiamento público para as instituições que fornecem serviços de aborto”.
Mas o documento inclui também uma forte crítica, baseada nas projeções feitas pelo Gabinete do Congresso para o Orçamento de acordo com o qual da fiscalidade proposta resulta que “os 10 por cento mais pobres perderão 1.600 dólares [cerca de 1.365 euros], enquanto os dez por cento mais ricos ganham 12.000 dólares [mais de 10.200 euros]”, enquanto outras medidas ditarão que “mais de 16 milhões de pessoas percam o seu seguro de saúde” e o acesso a cuidados de saúde.
Por estas razões, pelos “danos no meio ambiente” que os cortes nos incentivos à energia limpa e pelo “aumento sem precedentes do financiamento para aplicação da [nova] legislação de imigração e detenção” de imigrantes e cidadãos americanos, a Conferência dos Bispos Católicos dos EUA solicita aos senadores que “introduzam mudanças drásticas nestas disposições que prejudicarão os pobres e vulneráveis”.
Bastante mais drástico é o apelo contido no documento assinado por 42 líderes religiosos, entre os quais vários bispos católicos. Nele se pede, pura e simplesmente, que os senadores “chumbem” a proposta de orçamento que é vista, a partir das “diversas perspetivas religiosas” dos signatários como um “ teste moral de uma nação é como ela trata aqueles que mais precisam de apoio. Em nossa opinião, esta legislação prejudicará os pobres e vulneráveis em nossa nação, em detrimento do bem comum”.
Num comunicado divulgado juntamente com a carta, o presidente da conferência, arcebispo Timothy Broglio, que lidera a Arquidiocese para os Serviços Militares, referiu-se ao Papa Leão XIV para argumentar que os políticos devem “promover e proteger o bem comum”. A proposta orçamentária, disse ele, “não atende a esse chamado”.
“Tira-se dos pobres para dar aos ricos”, dizia a declaração de Broglio. “Oferece incentivos fiscais para alguns, enquanto enfraquece a rede de seguridade social para outros por meio de cortes significativos na assistência nutricional e no Medicaid. Não protege famílias e crianças ao promover uma abordagem exclusivamente fiscalizadora da imigração e ao corroer o acesso a proteções legais. Prejudica a criação de Deus e as gerações futuras por meio de cortes em incentivos para energia limpa e programas ambientais.”
No entanto, noutra carta divulgada no mesmo dia, uma coligação de outros bispos católicos uniu-se a um grupo inter-religioso dos EUA para ir além, pedindo explicitamente aos senadores que não votassem a favor do projeto de lei. “Das nossas diversas perspetivas religiosas, o teste moral de uma nação é como ela trata aqueles que mais precisam de apoio. Na nossa opinião, esta legislação prejudicará os pobres e vulneráveis em nossa nação, em detrimento do bem comum”, escreveram os líderes interreligiosos.
A carta interreligiosa critica como o projeto de lei orçamental continua a financiar a repressão de imigrantes em curso pelo Presidente Donald Trump, que tem sido amplamente contestada por grupos religiosos nos EUA. Na carta, os líderes disseram que o projeto de lei “fornece dezenas de bilhões de dólares ao governo para empreender uma campanha de deportação em massa que separará famílias americanas, prejudicará crianças cidadãs americanas e imigrantes e semeará o caos nas comunidades locais”.
O texto também alerta para o facto de o financiamento ser “usado para atingir comunidades religiosas” devido a uma mudança na política de Trump que permite a aplicação da lei de imigração em locais de culto. Eles escreveram que já testemunharam uma redução na frequência aos seus cultos devido à “ameaça de aplicação da lei”.
Neste mês, ações aparentemente de fiscalização da imigração ocorreram na Califórnia em pelo menos duas igrejas católicas e uma igreja dos Discípulos de Cristo — ações que, segundo ativistas e líderes religiosos, provavelmente não teriam acontecido se o governo Trump não tivesse alterado a política vigente. A mudança é atualmente objeto de uma ação judicial movida contra a administração federal americana por dezenas de grupos religiosos, incluindo vários representados entre os signatários da carta interreligiosa, como a Igreja Episcopal.
Na carta, os líderes inter-religiosos também levantaram preocupações sobre o aumento do financiamento para um muro na fronteira que, segundo eles, “levará os migrantes para as regiões mais remotas da fronteira e levará a um aumento nas mortes de migrantes”, e sobre cortes na assistência médica e alimentar, citando uma estimativa do Escritório de Orçamento do Congresso de que o projeto de lei “transfere riqueza daqueles que estão nos 10% mais pobres da renda para aqueles que estão nos 10% mais ricos da nossa nação”.
Em vez disso, os autores defendem vias legais para a imigração e uma forma de imigrantes indocumentados que vivem nos EUA há anos legalizarem o seu estatuto.
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