
Dez anos da Laudato Si', cinco anos da Fratelli tutti (1-2/32)
Miguel Veiga | 20/06/2025
Para evocar o décimo aniversário da Laudato Si’ e o quinto da Fratelli Tutti, duas importantes encíclicas do Papa Francisco, o 7MARGENS publica entre o dia 18 de junho, data da publicação da Laudato Si’, e 4 de outubro, dia da publicação da Fratelli Tutti, 32 quadros com uma fotografia e um tema, acompanhado de uma frase de ambos os documentos, com o mote “Vamos cuidar do planeta”.
Vamos cuidar do planeta… (1/32)…que foi abusado pela humanidade

Criação de alunos do Colégio Sagrado Coração de Maria (Lisboa) para o encontro “Também somos Terra”, Almada, 2018. Fotografia © Miguel Veiga
«LAUDATO SI’, mi’ Signore – Louvado sejas, meu Senhor», cantava S. Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços: «Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras.» (LS 1)
Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que «geme e sofre as dores do parto» (Rm 8, 22). Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos. (LS 2)
Vamos cuidar do planeta… (2/32)… que dê oportunidade a todos.

Palácio Pombal no Bairro Alto, Lisboa, 2015. Fotografia © Miguel Veiga.
O mundo existe para todos, porque todos nós, seres humanos, nascemos nesta terra com a mesma dignidade. As diferenças de cor, religião, capacidade, local de nascimento, lugar de residência e muitas outras não podem antepor-se nem ser usadas para justificar privilégios de alguns em detrimento dos direitos de todos. Por conseguinte, como comunidade, temos o dever de garantir que cada pessoa viva com dignidade e disponha de adequadas oportunidades para o seu desenvolvimento integral. (FT 118)
Nos primeiros séculos da fé cristã, vários sábios desenvolveram um sentido universal na sua reflexão sobre o destino comum dos bens criados. Isto levou a pensar que, se alguém não tem o necessário para viver com dignidade, é porque outrem se está a apropriar do que lhe é devido. São João Crisóstomo resume isso, dizendo que, «não fazer os pobres participar dos próprios bens, é roubar e tirar-lhes a vida; não são nossos, mas deles, os bens que aferrolhamos». E São Gregório Magno di-lo assim: «Quando damos aos indigentes o que lhes é necessário, não oferecemos o que é nosso; limitamo-nos a restituir o que lhes pertence». (FT 119)
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