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terça-feira, 10 de junho de 2025

A eleição de um entusiasta da sinodalidade foi a resposta da Divina Providência às dúvidas de alguns cardeais

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O cardeal hondurenho Oscar Rodríguez Maradiaga.

Cardeal Maradiaga

 | 09/06/2025

 

“Nas reuniões pré-conclave [entre os cardeais] havia algumas vozes que diziam: ‘Bem, essa questão da sinodalidade era só uma ideia do Papa, mas que precisaria de ser alterada.’ Então vimos como a Divina Providência respondeu” sendo eleito “o Papa Leão que é um entusiasta da sinodalidade, porque trabalhou nela, porque a conhece”, disse o cardeal Óscar Maradiaga, Arcebispo emérito de Tegucigalpa (Honduras) em entrevista a Adielson Agrelos, assessor de comunicação da Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB).

A entrevista ao cardeal (que por ter 82 anos não participou no conclave, tendo estado presente apenas nas reuniões pré-conclave) decorreu no Rio da Janeiro durante 40ª Assembleia Geral Ordinária do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam) que celebra os 70 anos da sua fundação. Maradiaga sublinhou ainda que Leão XIV “desde seu primeiro discurso falou da sinodalidade, de modo que todos vemos com muita esperança que se siga adiante com esse caminho tão importante para a Igreja, caminho que não é mais do que colocar em prática o Concílio Vaticano II”.

O Cardeal Maradiaga, tido como muito próximo de Francisco, coordenou o conselho de nove cardeais criado para ajudar o Papa no governo da Igreja e nesta entrevista publicada pelo Vatican News de 9 de junho confessou-se “muito impressionado com o nome que ele escolheu: Leão XIV”. Tal escolha revela que “está decidido a levar por diante os grandes valores da doutrina social da Igreja e, sobretudo, trabalhar pela paz”.

Recordando que “todas as semanas, no sábado, o Cardeal Prevost se reunia com o Papa Francisco”, Maradiaga conclui: “em certa medida, o Papa Francisco preparou o seu sucessor e preparou-o formando este irmão. Colocou-o como prefeito dos bispos, como cardeal da ordem dos bispos, era um homem da sua confiança.”

 

Sinodalidade, conceito sem calendário

Grech, secretário geral do Sínodo, e os dois subsecretários, a religiosa Nathalie Becquart e o bispo Luis Marin. Foto Vatican Media

 O cardeal Grech (ao centro), secretário geral do Sínodo, e os dois subsecretários, a religiosa Nathalie Becquart e o bispo Luis Marin. Foto © Vatican Media

Apesar desta expetativa positiva do cardeal Maradiaga, o facto é que o novo Papa ainda nada decidiu de concreto quanto à convocação de uma assembleia eclesial em 2028 feita por Francisco, nem quanto à vontade deste de, até lá, relançar o processo sinodal através de um questionário relativo aos avanços e entraves do desenvolvimento da sinodalidade na Igreja. Leão XIV nada respondeu à carta que a 12 de maio o Secretariado Geral do Sínodo dos Bispos lhe enviou solicitando instruções sobre que passos dar [ver 7MARGENS].

Também sobre o futuro dos 10 grupos de reflexão que o Papa Francisco havia criado para aprofundarem alguns dos temas mais controversos surgidos durante a fase de auscultação dos católicos de todo o mundo, nada se sabe. Como é costume, todos os trabalhos de dicastérios e de grupos criados pelo Papa com missão específica cessam à morte deste, até que o novo pontífice confirme os seus responsáveis, ou nomeia outros. Nada disto foi tornado publico quanto à dezena de grupos que entre outros temas deveriam apresentar até ao final deste mês de junho conclusões sobre  questões como a forma como os bispos são escolhidos na Igreja de rito latino; a escuta da voz dos pobres; o repensar da formação nos seminários; como melhorar as relações entre os bispos e as comunidades religiosas presentes nas respetivas suas dioceses; o ministério para os católicos LGBTQ; e as possíveis funções ministeriais das mulheres na Igreja Católica, incluindo o ministério ordenado [ver 7MARGENS].

Contrariamente a esta ausência de calendário para a continuidade do processo sinodal, o novo Papa tem abordado de múltiplas e diversas formas o tema da sinodalidade. A última vez que o fez de forma extensa foi no dia 7 de junho na homília da missa celebrada na Praça de São Pedro durante a vigília de Pentecostes no jubileu dos movimentos eclesiais, das associações e das novas comunidades.

“Na tarde da minha eleição, olhando com emoção para o povo de Deus aqui reunido, lembrei-me da palavra “sinodalidade”, que expressa muito bem o modo como o Espírito molda a Igreja. Nessa palavra, ressoa o syn – o ‘com’ – que constitui o segredo da vida de Deus. Deus não é solidão. Deus é em si mesmo ´com’ – Pai, Filho e Espírito Santo – e é Deus connosco. Ao mesmo tempo, sinodalidade recorda-nos o caminho – odós – porque onde está o Espírito, há movimento, há caminho”, disse Leão XIV, sublinhando: “Somos um povo em caminho. (…) Já não cada um por si, mas harmonizando os nossos passos com os passos dos outros. Não consumindo o mundo com voracidade, mas cultivando e cuidando dele, como nos ensina a Encíclica Laudato si’.”

E de novo voltou a citar a Laudato si´, para concluir: “Deus criou o mundo para que pudéssemos estar juntos. “Sinodalidade” é o nome eclesial desta consciência. É o caminho que exige que cada um reconheça a sua dívida e o seu tesouro, sentindo-se parte de um todo, fora do qual tudo murcha, mesmo o mais original dos carismas. Reparai: toda a criação existe somente na modalidade do estar juntos, às vezes com perigos, mas sempre um estar juntos.”




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