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sexta-feira, 27 de junho de 2025

Bispos japoneses sobre bombardeamentos nucleares: “Esta tragédia não se deve repetir”

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A nuvem nuclear sobre Hiroshima. Foto: Direitos reservados

Declaração recorda Hiroshima

 | 25/06/2025

Apresentam-se como “os únicos bispos de um país que sofreu bombardeamentos atómicos em guerra”, como quem diz que sabe bem do que fala (ou, neste caso, do que escreve). Numa altura em que crescem as tensões geopolíticas e o medo de uma terceira guerra mundial, a Conferência Episcopal Católica do Japão acaba de publicar uma declaração em que apela veementemente à “abolição completa das armas nucleares”, pois os seus membros não têm dúvidas: elas “ameaçam toda a vida”.

“Transportamos profundamente gravadas no nosso coração a pesada história e a dor que os sobreviventes das bombas atómicas e os cidadãos de Hiroshima e Nagasaki sofreram, e por este meio declaramos o nosso forte compromisso com a abolição das armas nucleares”, pode ler-se no texto divulgado na última semana no sítio oficial do organismo católico.

Recordando que se celebra este ano o 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial e que, naquelas duas cidades japonesas, “muitas vidas se perderam nos bombardeamentos atómicos de 1945, e muitas pessoas ainda vivem com o sofrimento e as consequências dos bombardeamentos”, os bispos do país afirmam de forma perentória: “Esta tragédia não se deve repetir”.

E assinalam algumas das consequências do recurso às armas nucleares: “Os danos causados ​​pela precipitação radioativa e a destruição ambiental generalizada provocada pelas explosões nucleares têm um enorme impacto negativo nos ecossistemas globais”. Além disso, “não devemos esquecer a existência de vítimas relacionadas com os testes nucleares e a mineração de urânio, os “Hibakusha Globais” [hibakusha = vítimas atómicas], que nos obrigam a ter uma visão mais abrangente dos sobreviventes atómicos”, acrescentam.

Recorde-se que Hiroshima foi o local do primeiro ataque atómico do mundo em 6 de agosto de 1945, tendo Nagasaki sido bombardeada três dias depois. Estima-se que os bombardeamentos tenham causado então a morte de 140.000 pessoas em Hiroshima e 74.000 em Nagasaki. Nos anos seguintes, muitos sobreviventes destes bombardeamentos enfrentaram leucemia, cancro e outros efeitos colaterais da radiação, de acordo com a Campanha Internacional para Abolir Armas Nucleares.

 

Líderes religiosos assumem compromissos concretos

Na sua mais recente declaração, os bispos japoneses defendem ainda que “o desenvolvimento, os testes, a produção, a posse e a utilização de armas nucleares são eticamente inadmissíveis”. E quanto ao conceito de dissuasão nuclear, assinalam que este “não é apenas um meio ineficaz de resolução de conflitos, mas também mergulha o mundo num ‘dilema de segurança’ que, na realidade, o empurra para a beira de uma guerra nuclear”. Por isso, “a utilização de armas nucleares como meio de intimidação em qualquer situação de conflito nunca deve ser tolerada pelo direito e pelas normas internacionais”, sublinham.

No mesmo texto, os líderes católicos do Japão assumem ainda, eles próprios, compromissos concretos para contribuir para a abolição do nuclear, nomeadamente o de continuar a “transmitir a realidade dos bombardeamentos atómicos ao mundo” e de declarar “a desumanidade das armas nucleares”. “Apoiaremos os princípios do Tratado para a Proibição de Armas Nucleares (TPNW) e instaremos o governo japonês a ratificá-lo o mais rapidamente possível”, assumem, comprometendo-se ainda a passar “a filosofia da paz à próxima geração através de atividades de educação para a paz e de sensibilização”.

“O mundo deve poder escolher a paz sem armas nucleares. Apelamos a todos os que desejam a abolição das armas nucleares. Rezemos e façamos o máximo para manter a nossa relação com Deus, com as pessoas e com a natureza, e para concretizar uma sociedade pacífica, não através de armas nucleares que ameaçam toda a vida, mas através da prática do amor de Deus que honra toda a vida”, concluem.





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