O Papa terminou esta sexta-feira, 1 de abril, uma semana de audiências com representantes dos povos nativos do Canadá, tendo-se manifestado “profundamente entristecido” pelas histórias de sofrimento que alguns deles lhe contaram, relata o Vatican News. “Pela conduta deplorável desses membros da Igreja Católica, peço perdão a Deus e digo-vos de todo o coração: tenho muita pena. Junto-me aos meus irmãos, os bispos canadianos, pedindo o vosso perdão”, disse Francisco aos seus interlocutores.
“É assustador pensar nessa vontade determinada para incutir um sentimento de inferioridade nas pessoas e roubar-lhes a sua identidade cultural”, acrescentou Francisco, que concluiu: “Sem indignação, sem memória histórica e sem compromisso de aprender com os erros do passado, os problemas permanecem sem solução e voltam novamente”.
O Papa referia-se ao facto de, entre 1863 e 1998, mais de 150 mil crianças indígenas terem sido tiradas às suas famílias e internadas nas escolas residenciais onde não tinham permissão para falar a sua língua nativa ou para realizarem quaisquer gestos característicos da sua cultura [ver 7MARGENS]. O internamento nestas instituições que se propunham assimilar à força as crianças autóctones tornou-se obrigatório na década de 1920, passando os pais a enfrentar a ameaça de prisão caso não cumprissem essa obrigação.
Estimativas de várias fontes apontam para que mais de 6.000 crianças tivessem morrido durante o seu internamento forçado e um número muito maior tivesse sido vítima de maus-tratos, abusos sexuais e outras violências. No Canadá, chegaram a existir mais de 130 escolas residenciais financiadas pelo Governo e administradas por autoridades religiosas, sendo a Igreja Católica responsável por cerca de 70 por cento desses estabelecimentos.
Usando da palavra na sexta-feira, o presidente da Conferência Canadiana dos Bispos Católicos (CCCB), Raymond Poisson, salientou o compromisso assumido pelos bispos canadianos: “A nossa história recente está marcada pelo estigma de erros e falhas no amor ao próximo, em particular para com os membros das nações nativas que vivem há séculos no Canadá. Mas o nosso desejo de reconciliação é ainda maior. A nossa presença aqui [nas audiências papais] é um testemunho de nosso compromisso convosco e com cada um de vós”.
No final da audiência, o Papa afirmou que ficaria feliz por voltar a estar novamente com eles quando visitar as suas terras nativas. A viagem papal ao Canadá poderá ocorrer ainda este verão.
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