Mensagem do Papa
O Papa Francisco fez memória hoje da “Páscoa de guerra” na Ucrânia, falando desde a varanda central da Basílica de São Pedro, antes da bênção ‘Urbi et Orbi’ [à cidade (de Roma) e ao mundo]. “Os nossos olhos estão incrédulos, nesta Páscoa de guerra. Demasiado sangue, vimos; demasiada violência. Também os nossos corações se encheram de medo e angústia, enquanto muitos dos nossos irmãos e irmãs tiveram de se fechar nos subterrâneos para se defender das bombas”, referiu Francisco, na sua mensagem de Páscoa, que assinala a festa mais importante para os cristãos.
A intervenção – transmitida em direto para países dos cinco continentes – citou as “numerosas vítimas ucranianas, os milhões de refugiados e deslocados internos, as famílias divididas, os idosos abandonados, as vidas destroçadas e as cidades arrasadas”. “Não me sai da mente o olhar das crianças que ficaram órfãs e fogem da guerra. Vendo-as, não podemos deixar de nos dar conta do seu grito de sofrimento, juntamente com o de tantas outras crianças que sofrem em todo o mundo: as que morrem de fome ou por falta de cuidados médicos, as que são vítimas de abusos e violências e aquelas a quem foi negado o direito de nascer”, referiu o Santo Padre.
O Papa citou o anúncio pascal do Oriente cristão: “Cristo ressuscitou! Verdadeiramente ressuscitou!”. “Existe ainda em nós o espírito de Caim, que vê Abel não como um irmão, mas como um rival, e pensa como há de eliminá-lo. Temos necessidade do Crucificado ressuscitado para acreditar na vitória do amor, para esperar na reconciliação”, referiu o Papa.
Francisco apontou o dedo ao “o ódio fratricida”, pedindo que todos deixem entrar a paz nas suas vidas. “Haja paz para a martirizada Ucrânia, tão duramente provada pela violência e a destruição da guerra cruel e insensata para a qual foi arrastada. Sobre esta noite terrível de sofrimento e morte, surja depressa uma nova aurora de esperança. Escolha-se a paz”, insistiu.
O Papa apontou a “sinais encorajadores”, que surgiram no conflito, como “as portas abertas de tantas famílias e comunidades que acolhem migrantes e refugiados em toda a Europa”. “Que estes numerosos atos de caridade se tornem uma bênção para as nossas sociedades, por vezes degradadas por tanto egoísmo e individualismo, e contribuam para torná-las acolhedoras com todos”, pediu.
Francisco presidiu hoje à Missa do Domingo de Páscoa, de regresso à Praça de São Pedro, no Vaticano, após dois anos de limitações impostas pela pandemia. “Queridos irmãos e irmãs, cada guerra traz consigo consequências que envolvem toda a humanidade: do luto ao drama dos refugiados, até à crise económica e alimentar de que já se veem os primeiros sintomas. Perante os sinais perdurantes da guerra, bem como diante das muitas e dolorosas derrotas da vida, Cristo, vencedor do pecado, do medo e da morte, exorta-nos a não nos rendermos ao mal e à violência”, disse aos peregrinos reunidos em Roma.
O Papa começou a ler a intervenção, de pé, mas acabou por ter necessidade de sentar-se, durante alguns momentos, devido às dificuldades físicas que o têm afetado nos últimos dias. Na sua Mensagem de Páscoa, lembrou ainda mais de uma dezena de conflitos que afetam o mundo, além da guerra na Ucrânia, pedindo maior atenção da comunidade internacional. “Que o conflito na Europa nos torne mais solícitos também perante outras situações de tensão, sofrimento e angústia, que tocam demasiadas regiões do mundo e que não podemos nem queremos esquecer”, referiu Francisco, na Basílica de São Pedro.
A intervenção evocou, em particular, a situação no Médio Oriente, “dilacerado por anos de divisões e conflitos”, e rezou pela paz em Jerusalém entre cristãos, judeus e muçulmanos. “Possam os israelitas, palestinos e todos os habitantes da Cidade Santa, juntamente com os peregrinos, experimentar a beleza da paz, viver em fraternidade e gozar de livre acesso aos Lugares Santos no mútuo respeito pelos direitos de cada um”, disse Francisco.
O Papa falou das crises no Líbano, Síria, Iraque, Líbia, Iémen e Afeganistão, evocando, neste caso, a “dramática crise humanitária que atormenta a população”. “Haja paz para todo o continente africano, a fim de que cessem a exploração de que é vítima e a hemorragia causada pelos ataques terroristas – particularmente na região do Sahel – e encontre apoio concreto na fraternidade dos povos”, prosseguiu.
Francisco citou, em particular, a “grave crise” na Etiópia, a violência na República Democrática do Congo, que irá visitar em julho próximo, e as consequências das “enchentes devastadoras” na África do Sul.
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