A comunidade internacional “tem a obrigação de não continuar a guerra, mas, antes, de implementar todas as iniciativas políticas e diplomáticas possíveis para alcançar um cessar-fogo e uma paz justa”, defende o cardeal Pietro Parolin. Foto © Vatican Media.
Na “tremenda guerra” na Ucrânia, limitar-se às armas, como tem feito a Europa (e os Estados Unidos), é uma resposta fraca, afirmou esta sexta-feira, 29, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano.
“Sim, as armas são uma resposta fraca, não uma resposta forte”, enfatizou o cardeal, explicando deste modo o seu ponto de vista: “Uma resposta contundente é uma resposta que empreende – tentando envolver todos – iniciativas de acordo com o esquema de paz, ou seja, iniciativas para parar os combates, chegar a uma solução negociada, pensar qual será o futuro possível da convivência no nosso Velho Continente”.
Para aquele responsável do Vaticano, nas declarações publicadas na agência católica AICA, a comunidade internacional “tem a obrigação de não continuar a guerra, mas, antes, de implementar todas as iniciativas políticas e diplomáticas possíveis para alcançar um cessar-fogo e uma paz justa”.
Uma paz justa e, sobretudo, “duradoura” que “não pode ser confiada apenas às deliberações do agressor e do agredido”. “Temos o dever de fazer mais pela paz”, insistiu.
Autodefesa, sim, mas não há guerras justas
Parolin reconhece que há um direito à autodefesa e à resistência, neste caso por parte da Ucrânia, diante da invasão da Rússia e do bombardeamento das cidades com mísseis. “Claro que existe. Não se pode esperar que alguém, injustamente agredido, não defenda os seus entes queridos, a sua casa, a sua pátria”, argumentou o secretário de Estado. Contudo, chamou a atenção para as “considerações e condições essenciais” que decorrem do que vem no Catecismo da Igreja Católica, em particular o parágrafo 2.309, que diz: “O uso de armas não acarrete males e desordens mais graves do que o mal que se pretende eliminar. O poder dos meios de destruição modernos exige extrema cautela na avaliação dessa condição”. Daí que, na linha do que sublinhava recentemente o Papa Francisco no seu encontro por teleconferência com o Patriarca Cirilo, de Moscovo, “já não se pode falar de ‘guerras justas’ sem levar em conta que hoje, muito mais do que no passado, as primeiras vítimas da guerra são civis inocentes, por causa de armas destrutivas que são inteligentes apenas na aparência”, disse.
Parolin recordou, a propósito, o apelo veemente do Papa João Paulo II a implorar às forças ocidentais que não atacassem o Iraque, no seguimento dos ataques às Torres Gémeas e as sequelas que ainda hoje são manifestas por esse apelo não ter sido seguido.
“Uma nova conferência de Helsínquia”
O secretário de Estado do Vaticano fez, por isso, também ele, um apelo ao diálogo para criar um novo equilíbrio de paz e segurança: “Hoje é necessária uma nova Conferência de Helsínquia”, defendeu, referindo-se à iniciativa que, entre 1973-75, deu origem à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa e corroborando assim uma proposta idêntica há dias apresentada à Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa pelo presidente italiano, Sergio Mattarella.
Ao mesmo tempo, adverte, torna-se necessário compreender por que se colocou a palavra “fim” ao período de paz iniciado com o fim da II Guerra Mundial e o fim da Guerra Fria. Para o responsável da diplomacia do Vaticano, “continuamos a construir um mundo baseado em alianças militares e colonização económica”. Torna-se, agora, necessário, sustenta, “confiar mais nas organizações internacionais, tentando torná-las mais uma ‘casa comum’, onde todos se sintam representados” e, sobretudo, “construir um novo sistema de relações internacionais que não seja baseado na dissuasão e na força militar”.
É uma ‘prioridade’ evitar “tropeçar no abismo da guerra total”, observou, citando como argumento o que afirmou um político italiano, Giorgio La Pira: “A guerra não é inevitável, mas a paz é inevitável.”
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