Os cristãos são uma das comunidades religiosas mais perseguidas, havendo
relatos continuados que apontam para a existência da prática de tortura
nas prisões eritreias
Foto: Fundação AIS |
Calcula-se que cerca de 300 cristãos estão actualmente detidos nas
prisões da Eritreia, segundo denúncias recentes de organizações de
defesa dos direitos humanos.
Este país, que um relatório das Nações Unidas classificou, em Junho
do ano passado, como sendo um “Estado autoritário”, continua a exercer
uma enorme repressão sobre os seus cidadãos, negando-lhes os mais
básicos direitos humanos, em que se inclui a prática religiosa.
Os cristãos são uma das comunidades religiosas mais perseguidas,
havendo relatos continuados que apontam para a existência da prática de
tortura nas prisões eritreias.
As informações provenientes deste país são muito escassas. Porém, foi
criada, recentemente, uma página no “facebook” de denúncia das
“violações de direitos humanos” naquele país.
Com mais de 17 mil seguidores em apenas dois meses, esta página é da
responsabilidade, segundo o jornal britânico “The Guardian”, de um
antigo funcionário do governo da Eritreia que fugiu do país com “uma
série de documentos” que agora pretende ir revelando “aos poucos”.
O seu objectivo, diz o jornal, é “expor os crimes” deste regime que
já foi classificado como sendo a “Coreia do Norte de África”.
As suas críticas e denúncias vão no mesmo sentido das já proferidas
pela ONU e por outras organizações como a Amnistia Internacional (AI),
que tem acusado dos mais diversos crimes.
A AI afirma mesmo que o país liderado com mão de ferro por Isaias
Afwerki se transformou num regime despótico em que existirão prisões
secretas que albergarão mais de 10 mil presos políticos.
A enorme violência que é exercida pelas autoridades e que atinge
fortemente a comunidade cristã, explicará o enorme êxodo nos últimos
meses, sendo que muitos dos que procuram abandonar o país têm caído
normalmente nas malhas de traficantes humanos.
No relatório publicado em Junho do ano passado por uma Comissão de
Inquérito da ONU sobre os Direitos Humanos, é dito que “os cidadãos” da
Eritreia “são controlados por um grande aparato de segurança que está
presente em todos os níveis da sociedade”.
Nesse documento de 500 páginas pode ler-se ainda que “não é a lei que rege os eritreus, mas o medo”.
O relatório da Comissão de Inquérito da ONU faz referência ainda a
“violações generalizadas e brutais dos direitos humanos, que criaram um
clima de medo onde qualquer tipo de oposição é reprimida”, sendo que
“boa parte da população é submetida a trabalhos forçados ou à prisão”, o
que permite explicar a existência de centenas de milhares de refugiados
oriundos deste país.
Segundo as Nações Unidas, estes abusos, que incluem a violência e a
perseguição aos cristãos, “podem ser considerados crimes contra a
humanidade”.
Também a Fundação AIS tem denunciado a situação de extrema violência registada na Eritreia sobre as suas populações.
No último relatório “Perseguidos e Esquecidos?”,
elaborado a nível internacional sobre a opressão dos cristãos entre os
anos de 2013 e 2015, é referida expressamente a situação na Eritreia,
que integra um grupo de países considerados como “críticos” e que se
destacaram por isso “pelos piores motivos”.
Durante o período de tempo avaliado no relatório da AIS, foi
publicada uma carta, por quatro bispos da Eritreia, onde, de forma
indirecta – não seria possível de outra maneira –, também denunciam a
situação de perseguição que se vive no país.
Nesse documento, os prelados – D. Mengsteab Tesfamariam, de Asmara,
D. Tomas Osman, de Barentu, D. Kidane Yeabio, de Keren, e D. Feqremariam
Hagos, de Segeneiti – justificam o êxodo maciço de pessoas oriundas da
Eritreia com a necessidade de “viverem em países pacíficos, com justiça,
trabalho, onde se possam expressar livremente e em alta voz, países
onde cada um possa viver do seu trabalho”. (Com informações Fundação
AIS)
in
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